Falamos com Jason Williamson, metade do duo britânico de “pós-punk eletrônico” que fará show em SP
O duo britânico de “pós-punk eletrônico” Sleaford Mods já foi citado por Iggy Pop como o grupo mais legal do momento. “Indubitavelmente, absolutamente e definitivamente, a maior banda de rock’n’roll do mundo”, disse o mestre. De fato, sua música e, principalmente, seus shows, são de um frescor sem tamanho, ao mesmo tempo em que nos remetem ao delicioso cruzamento de punk rock e hip-hop que víamos em projetos conterrâneos como Prodigy e Altern 8.
Formada em 2007, em Nottingham, na Inglaterra, a dupla conta com os vocais de Jason Williamson, que conversou conosco antes de viajar para São Paulo, e o beatmaker Andrew Fearn. Os caras farão somente um show no Brasil, em São Paulo, no dia 02 de novembro, no Carioca Clube. A abertura fica por conta da sensação do momento, os mineiros do Black Pantera.
O Sleaford Mods já lançou 12 álbuns em sua carreira. O último, UK Grim, de 2023 (gravadora Rough Trade), caiu nas graças das revistas e sites especializados. Se aceita um conselho da redação, separe seu dia para conhecer a apresentação dos caras e curtir um casamento musical de gêneros que deveria ser bem mais frequente no universo alternativo.
Jota Wagner: Já que é a primeira vez que vocês vêm ao Brasil, não tem como fugir da pergunta. Conhece algo feito por aqui?
Jason Williamson: Nada! Mas provavelmente eu já ouvi muita coisa, mas não sabia que a banda era brasileira. Peço desculpas por essa resposta!
Por que não colocar guitarra numa banda que se intitula como pós-punk?
Basicamente, por causa do hip-hop… Além disso, com o passar do tempo, começamos a achar que as bandas com guitarra estavam soando muito chatas. Então eu acho que foi uma reação a isso.
O que conecta o hip-hop e o punk?
Olha, eu acho que são a mesma coisa, na verdade. São apenas duas formas diferentes de arranjar a música. Claro que o hip-hop é original da cultura negra e o punk tem uma origem mais entre os brancos. Mas eu acho que essa é a única diferença. Eu tenho um baita respeito pelas duas estéticas.
Não ter guitarras é um truque para que as pessoas prestem mais atenção nas letras, algo muito importante no Sleaford Mods?
Acho que não. Acabei fazendo sempre o que tive vontade e o pessoal pareceu gostar. Não foi uma atitude premeditada, de verdade. Para mim, é importante dizer o que penso nas músicas. Não faria sentido fazer diferente. É um jeito de as pessoas que pensam da mesma forma se conectarem, e eu me sinto sortudo por conseguir isso.
Os caras do Kraftwerk sempre disseram que não eram artistas, mas trabalhadores da música. Isso mudar o sentido do fazer música?
Olha, mas vou te falar que para mim eles são bastante artistas (risos)! São muito mais artistas modernos do que “trabalhadores da música!”, talvez cientistas. Mas eu acho que sim, eles têm um alto nível de surrealismo, de experimentalismo, e isso é uma forma de arte. Mas é preciso ter dor na música para se caracterizar como um trabalhador. É preciso ter um temperamento não artístico para se colocar dessa forma. Não é só uma questão de bater ponto no trabalho, mas viver e pensar como alguém da classe trabalhadora.
O mundo está de ponta-cabeça agora. Você acha que fazer música para “a classe trabalhadora”, como vocês se rotulam, é mais relevante do que nunca?
Sim, apesar de eu não me sentir mais tão conectado com a classe trabalhadora hoje em dia, mesmo sem me esquecer de onde eu vim. Meu trabalho e o sucesso que estamos fazendo agora me levaram para a experimentação de um tipo diferente de vida. Então, eu não estou mais escrevendo músicas sob o ponto de vista de quem está batendo cartão, ou sendo mandado por algum chefe idiota. Talvez minha personalidade, minha “aura”, não tenha mudado muito desde que eu era um adolescente, e por isso, talvez eu ainda carregue comigo uma espécie de ética da classe trabalhadora. Mas, além disso, eu não diria que posso representar essa parte da sociedade. Não mais.
Novas tecnologias, robôs, Inteligência Artificial… Essas coisas te deixam desconfortável com o futuro?
Enquanto não atrapalharem o pagamento do meu aluguel, não estou nem aí (risos)! De verdade! Quando começar a me apertar, aí vou me preocupar. Por enquanto, essas coisas nem passam pelo meu radar!