Queen no primeiro Rock in Rio Show do Queen no primeiro Rock in Rio, em 1985. Foto: Reprodução

10 dos shows mais históricos do Rock in Rio

Jota Wagner
Por Jota Wagner

De Queen a Katy Perry, passando por Prince e Guns N Roses, elencamos dez das performações mais marcantes em 40 anos de festival

Prestes a completar 40 anos, o festival brasileiro Rock in Rio conseguiu a façanha de se tornar um dos maiores eventos mundiais de música. Surgido na época da redemocratização do país, o megaevento carioca já começou chocando, trazendo em sua primeira edição grandes nomes no auge, como Queen, The B-52s, George Benson, Ozzy Osbourne e Rod Stewart, só para citar alguns. Consolidado desde a primeira tacada, o rolê seguiu assustando quem olhava seu line-up, dividindo a programação entre grandes lendas do rock com artistas que estavam despontando em novas tendências musicais.

Logo do Rock in Rio sobre uma imagem de pessoas em show
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O gigantismo da constelação que tocou no palco do RiR foi ajudando a construir, no imaginário dos brasileiros, um cronograma de shows inesquecíveis. Performando para um público de dezenas de milhares de pessoas em terras cariocas, muitos artistas fizeram alguns dos melhores shows de suas carreiras.

40 anos de história são suficientes para falar a diversas gerações. Tem gente que esteve nas primeiras edições e já é vovô — muitos deles tendo visto seus filhos e netos comprarem ingressos para as edições seguintes. Um baita assunto para os almoços de família.

Em eventos com este, são esses shows inesquecíveis que ficam na mente das pessoas, mesmo as que não puderam estar presentes. No caso de um festival com quatro décadas de vida, o que não falta são apresentações clássicas que ajudaram a moldar a imagem do festival. Vamos a elas?

Queen
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Queen – 1985

Zero surpresa ao leitor com nossa primeira indicação, mas não tem como deixar de fora um show que figurou até mesmo na biopic de sucesso da banda, Bohemian Rhapsody, lançada em 2018. Para o Queen, que não sabia nem que “os brasileiros entendiam inglês” (dá-lhe arrogância), ver um mar de gente cantando Love Of My Life, seu grande hit, foi um momento inesquecível.

O que Bohemian Rhapsody não mostra foi o barraco armado por Freddie Mercury antes do show. O vocalista chegou de helicóptero ao festival e viu um monte de artistas no corredor que o separavam da porta do camarim, entre eles Alceu Valença, Ney Matogrosso, Erasmo Carlos e Elba Ramalho. Pediu para o produtor de camarins Amin Khader tirar todo mundo de lá. Ele queria o corredor vazio para fazer o trajeto.

Quando passou com o Queen, a galera que foi obrigada a dar passagem para o astro começou a gritar “bicha! Bicha! Bicha!”. Freddie Mercury não entendeu o significado da ofensa, mas sacou ali uma animosidade. Resultado? Ficou puto e promoveu um belo quebra-quebra no camarim. Em entrevista dez anos depois ao Multishow, Khader recontou a história, mas negou que Freddie tenha ficado brabo depois que acessou seu “reservado”.

Ney Matogrosso – 1985

Se é para começar a história de um festival gigante, possível somente graças à expulsão da turma verde oliva do poder, por que não abrir com o camarada mais rock’n’roll que já pisou neste país? Tremendo acerto de Roberto Medina e sua turma. Ney Matogrosso fez literalmente o primeiro show da história do Rock in Rio, entregando exatamente o que se esperava dele. Basta ver a reação do público ao ouvir América do Sul, uma das canções que escolheu para a catártica performance.

Uma meia dúzia de metaleiros revoltados, já reacionários em 1985, jogou ovos cozidos no cantor. Não tinham amplitude para compreender que aquele cara maquiado e seminu já desafiava o poder conservador muito antes de eles terem saído de suas fraldas. Ney abriu a “noite do metal”, que trouxe nomes como Iron Maiden, Ozzy Osbourne e o próprio Queen.

Guns N’ Roses – 1991

Quando subiu ao palco, em janeiro de 1991, o Guns N’ Roses estava no auge de sua popularidade (embora o vocalista Axl Rose já desse pinta de que havia fritado suas cordas vocais). A banda havia estourado no mundo com o disco de estreia, Appetite For Destruction (1987), e consolidado a grandeza com G N’ R Lies (1988). Chegar na crista da onda para um público ansioso por ouvi-los garantiu temperatura vulcânica ao show, considerado um dos mais inesquecíveis de toda a história do RiR.

O curioso é que ele quase não aconteceu. Momentos antes da apresentação, a banda descobriu que o festival estava sendo transmitido por uma rádio, o que não estava no contrato. Mandaram avisar a produção que não iriam mais subir ao palco. Coube ao idealizador Roberto Medina subir em um helicóptero e ir até o hotel convencer os caras: “Olha, vocês podem escolher. Vocês podem não ir pro Maracanã e não fazer o show, mas também vocês não saem do Brasil, porque isto aqui não vai acabar bem! Esta questão financeira dos direitos da rádio a gente resolve amanhã, hoje à noite, tudo bem, mas vocês tem que embarcar agora neste helicóptero e ir pro Maracanã, senão vocês não vão sair do Brasil!”, disse Medina à banda.

Prince – 1991

Colando pela primeira (e única) vez no Brasil, Prince rivalizou com o Guns N’ Roses como a principal atração do festival. Sabendo da missão, mostrou ser o grande representante da música negra a pisar no país naquele ano. Sua banda abriu os shows (foram dois, no mesmo festival) com a festeira e superfunk Something Funky (This House Comes). O sucesso estava garantido. Foram 15 músicas, incluindo os enormes sucessos do prodígio e dois covers de Aretha Franklin.

Curioso é que Prince resolveu fazer uma espécie de show surpresa durante a passagem de som. Tocou por uma hora e meia para todos os sortudos funcionários que participavam da montagem do RiR. Fez juz à fama de ser uma baita de um showman.

Happy Mondays – 1991

O rock de Manchester deu caras na segunda edição do Rock in Rio. Dançante e festeiro, Happy Mondays colou na então edição mais atualizada do festival, que ainda teve nomes como Deee-Lite, Run-D.M.C. e até mesmo New Kids on the Block dividindo o line com Santana, Sepultura e Queensrÿche. Uma salada.

Como esperado, a sensação do show foi o carismático Bez, o amigo chapado incluído na formação só para ficar dançando. A vinda da banda ao Brasil foi recheada do marketing de polêmicas: Shaun Ryder, o vocalista, deu uma entrevista antes de viajar avisando que traria na bagagem mil tabletes de ecstasy para distribuir entre o público. Entre os animados leitores da matéria, estava o pessoal da Polícia Federal, que organizou uma bela recepção no aeroporto. Depois de ostensivas revistas na bagagem e equipamento do Happy Mondays, as autoridades sacaram que se tratava apenas de uma declaração marketeira.

Oasis – 2001

Outra banda de Manchester que veio ao Brasil em seu melhor momento, os problemáticos Oasis emocionaram o Rock in Rio 2001 desfilando hits que estavam na boca do povo, como Wonderwall e Don’t Look Back In Anger.  O grupo dividiu o protagonismo do dia 14 de janeiro com o Guns N’ Roses, sem deixar de espetar os rivais. Noel Gallagher declarou, dias antes do rolê, que o mundo seria um lugar melhor sem eles. E provaram ser bons na provocação. O show do Oasis foi tão quente que até mesmo muitos fãs da banda americana concordaram com Gallagher.

Cássia Eller – 2001

Esqueça os peitos de Cássia Eller. Foi sua música, sua performance ao vivo e sua potência rock’n’roll que fizeram de sua apresentação uma das mais clássicas da história do Rock in Rio. A cantora se apresentava para um público gigantesco, muito maior do que sua base de fãs, e fez bonito. Além da sequência de ótimas canções de seu repertório, Cássia ainda incluir dois covers: Come Together, dos Beatles, e Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, levando o público à loucura.

O show ganhou ainda um elemento dramático. Foi o mais importante da carreira de Eller, bem no ano em que morreria tragicamente, em dezembro de 2001, incluindo-a no hall de grandes talentos da música que foram embora cedo demais.

Stevie Wonder – 2011

A edição de 2011 do RiR foi celebrada com uma das melhores line-ups de sua história. Difícil imaginar um festival com Stevie Wonder sem que ele tenha feito um dos grandes shows do evento. No Rio de Janeiro, não foi diferente.

Desde o momento em que subiu no palco, Stevie e a plateia entraram em um namoro maravilhoso. Aquela trepada perfeita, em que todos os movimentos de um são feitos para satisfazer o outro. O cantor foi ovacionado desde a primeira música. Retribuiu tocando, de surpresa, Você Abusou, de Toquinho. Chamou, também, sua backing vocal Aisha para cantar Garota de Ipanema, clássico das praias cariocas. Tudo isso em meio a seus grandes sucessos. Entrou para a história.

Katy Perry – 2011

Imagina fazer uma apresentação na força do ódio e ainda conseguir dar um troco sem deixar o prato esfriar? Foi o que fez Katy Perry em seu histórico show no Rock in Rio de 2011. Poucas horas antes de subir ao palco, a cantora recebeu um ligação de Russell Brand pedindo o divórcio. Simples assim.

Perry teve de juntar os cacos e subir a um palco que ainda tinha “só” Elton John e Rihanna. Fez um show sensacional, e ainda arrumou tempo, de última hora, para espetar o super-recente ex.

“Dizem que os brasileiros são superquentes. Quero experimentar um”, disse ao microfone. Eis que sobe ao palco o rapaz que ficaria conhecido nacionalmente como “Júlio de Sorocaba”. A amostra grátis de temperatura nacional ficou agarradinha com Perry e ainda trocou beijos de canto de boca com ela.

Nile Rodgers – 2017

O guitarrista com mãos de aranha, fundador da icônica banda Chic, chegou ao Rio de Janeiro para apresentar seu cartão de visitas. Tocou músicas que fez com parceiros como Daft Punk, Diana Ross e David Bowie. Botou o festival abaixo. É atribuida a Nile Rodgers uma boa parte da responsabilidade pelos grandes hits dançando da “fase alemã” de Bowie. E a lista de contribuições do guitarrista é ainda muito maior: Duran Duran, Madonna, Lady Gaga e muitos outros.

Rodgers transformou a área do Rock in Rio em um tremendo bailão, levando a galera ao delírio ao escolher a dedo as músicas de seu gigantesco repertório. Não é sempre que se vê um camarada desse quilate desfilando seus dedos pelo instrumento que, usado do jeito black music, se torna a mais sexy das armas sonoras.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.