Melhores de 2016: coluna Senŏide seleciona 50 sons incríveis lançados este ano. Venha ouvir a seleção magia

Marco AAndreol
Por Marco AAndreol

RETROSPECTIVA 2016

KAITLYN AURELIA SMITH e SUZANNE CIANI
álbuns » EARS/ SUNERGY _ selos » WESTERN VINYL/ RVNG INTL

Kaitlyn lançou dois álbuns excelentes em 2016. Ears no primeiro semestre e Sunergy em parceria com a veterana Suzanne Ciani, ambas californianas, ambas relacionam as ondas sonoras do sintetizador Buchla 100 às do Oceano Pacífico. Kaitlyn adiciona sua voz aos sintetizadores em cantos étnicos, fábulas compostas pela jovem engenheira de som graduada na mais importante escola de música contemporânea do mundo, a Berklee. Paisagens oníricas que rementem a Terry Riley, pioneiro do minimalismo.
A época em que os homens dominavam os equipamentos acabou: Esses dois álbuns evidenciam a diferença entre TER uma máquina de som e SABER o que fazer com ela.

ANDY STOTT _ álbum » TOO MANY VOICES _ selo » MODERN LOVE

Mudanças na música de um dos gênios da década. Too Many Voices mostra que o álbum anterior era a transição para algo maior. Andy abandonou de vez os loopings enevoados e adentrou um novo universo de canções brilhantes. Do cinza ao branco iridescente. Distorções delicadas contrastam com reverbs refrescantes. Mixagem equilibradíssima.
Ouça também ‘REDEEMER‘ no álbum HOLLOWED de ITAL TEK [PLANET MU].

ASH KOOSHA _ álbum » I AKA I _ selo » NINJA TUNE

Num mundo de barreiras colapsadas, entre Oriente e Ocidente, passado e futuro, o iraniano exilado em Londres lançou um dos álbuns mais singulares da eletrônica. Melodias persas sobre aglomerados de sons minuciosamente compostos. Camadas de fragmentos que juntas formam objetos sonoros. Ash Koosha explora suas habilidades sinestésicas e diz: “Vejo o futuro como um amálgama de tudo o que uma vez tentamos definir. Cada linha se borrará em termos de gênero, sexualidade e política”.
Assim como Björk, Ash busca levar sua música à realidade virtual e causou bastante estranhamento aos espectadores do Boiler Room de Londres. Veja » https://goo.gl/DKoOrW.

TETO PRETO _ EP » GASOLINA _ selo » MAMBA

Laura Diaz (Angela Carneosso) dialoga com o Cinema Marginal dos anos 60 e a Vanguarda Paulista dos anos 80. Participou de ocupações que são parte da história recente de São Paulo.
Saiba mais » goo.gl/pvqxEd.
Ela é a maior responsável por unir dois universos antes distantes: o político/cultural brasileiro tradicional e o da música eletrônica de pista: É uma das produtoras da festa Mamba Negra, que ajudou a desenhar o cenário dos galpões onipresentes em 2016.
Junte a força dessa mulher aos melhores produtores nacionais – L_cio e Pedro Zopelar – mais violoncelos, macumba e a beleza de Loic Koutana.
A turbulência da década de 10 em um vídeo.

AFRICAINE 808 _ álbum » BASAR _ selo » GOLF CHANNEL

Banda de um homem só, o projeto Africaine 808, de Dirk Leyers, desenvolve cada um dos sons que vão surgindo e nos faz sentir como se vários músicos estivessem no mesmo transe. Se não bastasse, cada música do álbum não se parece com a outra. São muitas as referências: 808 State, soul jazz, nu disco, dub techno, early 90s trance, samples e percussões africanas e ambiências. Tudo se combina de modo coeso.

SYNTHI A e THE FUTURE SOUND OF LONDON _ álbuns » IGNITION OF THE SUN/ ENVIRONMENTS 6/ ENVIRONMENTS 6.5/ BLACKHILL TRANSMITTER _ selo » FSOLDIGITAL

Gaz Cobain, veterano/guru do The Future Sound London, Amorphous Androgynous e Yage, brilha como em meados dos anos 90. Prolífico, lançou nada menos que quatro de seus melhores álbuns num ano só! E provou que sua obra não pode ser descartada por nenhuma geração.
Entre as músicas, alguns IDMs interessantes, as típicas ambiências surrealistas (vozes que viram ondas, que viram saxofones), híbridos de rock psicodélico (em Blackhill Transmitter) e a melhor novidade: um álbum criado apenas com um instrumento, o EMS SYNTHI AKS. Klaus Schulze é a maior referência aqui, principalmente na fase do Tangerine Dream. Rumo a galáxias distantes em anos-luz.

ANDREW WEATHERALL _ álbum » CONVENANZA/ CONSOLAMENTUM _ selo » ROTTERS GOLF CLUB

Sempre mesclando gêneros e rompendo barreiras, a trajetória de Andrew coincide com a história da música inglesa das últimas três décadas. Já fez breakbeat house com influências dub no começo dos 90 como Bocca Juniors, trance e progressive house no icônico The Sabres Of Paradise, acid como Lords Of Afford, techno em meados dos 90 como Deanne Day, deep techno e electrorock como Two Lone Swordsmen e excelente nu disco há poucos anos.
Convenanza é seu álbum mais nitidamente inglês, recorre ao melhor do pós-punk/indie/synthpop do começo dos anos 80. As vozes são ótimas, as cordas, na medida, refrões que marcam e tempero de synths. Lembra a banda Electronic de Bernard Sumner (New Order) e Johnny Marr (The Smiths).
Consolamentum é a coletânea de remixes do álbum lançada no segundo semestre.

SOFT HAIR _ álbum » SOFT HAIR _ selo » WEIRD WORLD RECORD CO.

Imagine Prince viajando de LSD numa piscina neon tocando um teclado derretido e transando com seu alter ego. Vai ter escorregador em câmera lenta e coquetel de flamingo.

DAVID BOWIE _ álbum » ★ _ selos » COLUMBIA/ SONY/ ISO

Um dos álbuns do século 21. Hors concours.

DISASTERPEACE _ álbum » HYPER LIGHT DRIFTER _ selo » BLUDHONEY

A mais bela trilha de game. Outro músico formado em Berklee. Senso de profundidade, estrutura, tonalidade, métrica e, principalmente, timbre. Ouvir Rich Vreeland com atenção equivale a um curso de música contemporânea. Perceba como os sons são nítidos e seguem uma narrativa.
A trilha para o filme de terror It Follows de 2015 é outro exemplo, uma das mais impactantes e assustadoras já feitas. Mais uma dica: a faixa Formations do álbum ‘FEZ‘ de 2012 é da grandeza de autores como Brian Eno, Jean-Michel Jarre, Vangelis ou Kitaro.

PATTEN _ álbum » Ψ _ selo » WARP

Terceiro e melhor álbum da dupla londrina que atualiza o electro ao mesclá-lo com as batidas amorfas do grime, trap e IDM. Ouça o álbum.

NOPORN _ álbum » BOCA _ selo » TRATORE

Uma leva de vídeos super bem produzidos e poesia synthpop marcam a volta de Liana Padilha e Luca Lauri. O vídeo Maiô da Mulher Maravilha é de Raphael Jacques e dirigido por Alex Girardi e Otávio Guarino. Siga o canal do Noporn »  YouTube » goo.gl/EZZKmb.

NOVO LINE _ álbum » MOVEMENTS _ selo » ECSTATIC

Novo Line se relaciona esteticamente ao EBM e new beat belga dos anos 80, gêneros mais obscuros do que a acid house. Porém o álbum está longe de ser mero revivalismo. Nat Fowler mescla equipamento eletrônico datado e supostamente sem valor (dois computadores ATARI ST) à composição randômica semelhante ao sistema de numeração binário [O/1] e afinação pitagórica usada no século 6 (período medieval). Conceitualmente parece complicado, mas o fato é que Nat Fowler chega a uma sonoridade inédita.

MARK PRITCHARD _ álbum » UNDER THE SUN _ selo » WARP

O vídeo é bonito, mas é o álbum todo de Pritchard que merece atenção. Nele há ambiências que se parecem com Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never) nos teclados em seus primeiros discos – como Falling, canções suaves com Thom Yorke do Radiohead e Linda Perhacs, a cantora que misturou folk à psicodelia em 1970 e electros desengavetados dos anos 80 que funcionam como interlúdios » INFRARED e HI RED.

RADIOHEAD _ faixa » BURN THE WITCH _ selo » XL RECORDINGS

Um refrão em chamas num ano em que a hipocrisia e a ignorância vieram à tona.
<< Boatos correndo pelas mesas. Fique nas sombras. Aplaudam a forca. Isso é um cerco. E se você flutuar será queimada. >>
Vá além e ouça os discos e trilhas do produtor do Radiohead – Jonny Greenwood – responsável por trazer mais instrumentos clássicos à banda e usá-los de modo inconvencional.

FLOATING POINTS _ faixa » KUIPER _ selo » PLUTO

Prepara-se para um voo de asa delta de 20 minutos. (Se você for impaciente comece no quinto minuto). O vídeo não é oficial, mas está à altura do musicão.

Cinturão de Kuiper é uma área do sistema solar que se estende desde a órbita de Netuno até a do Sol. Contém milhares de pequenos corpos com formação semelhante à dos cometas. A diferença é que esses pequenos corpos nunca volatizaram seus gelos, de maneira que não possuem nem coma nem cauda, isso acontece por eles estarem orbitando longe do calor do Sol. Desses corpos, são conhecidos 12 com diâmetro de cerca de 1.000 km. Há inclusive um planetoide, Éris, que tem maior massa que Plutão.

PAUL JEBANASAM _ EP » CONTINUUM _ selo » SUBTEXT

Se me perguntarem onde exatamente a música está avançando, eu citaria o cingalês Paul Jebanasam e o norueguês TCF. Não dá para reduzir este EP ou os de TCF a ambient music apenas. Eles constroem panoramas de sons em narrativa longa, abstrata e com muita dinâmica de intensidade. O elemento musical que mais nos faltou nas últimas três décadas foi justamente a DINÂMICA. Agora o cenário parece estar mudando.

ANTWOOD _ álbum » VIRTUOUS.SCR _ selo » PLANET MU

Mudar para o Canadá e só ouvir música alienígena passou a ser o sonho de muitos.

AIR MAX ’97 _ faixa » THRALL _ selo » DECISIONS

E não precisamos abandonar a pista para ouvir música realmente inovadora. Basta abrir a cabeça e ir além do corpo.

IC3PEAK _ faixa » GO WITH THE FLOW _ [sem selo]

A dupla russa veio gravar o vídeo no Minhocão e chamou a nova geração de clubbers frequentadores da Sad Rave, DRVMV e WUBY. Além do witch house e embalados numa nova moda futurista/luminosa que lembra o final de Uma Odisseia No Espaço de Kubrick, a turma inaugurou um novo capítulo da noite paulistana. Veja mais » https://goo.gl/Syke7y.

HONG KONG EXPRESS [HKE] _ álbum » OMNIA _ selo » OLDE ENGLISH SPELLING BEE

“A vaporwave está morta”, clamam hoje seus primeiros seguidores… “Foi decodificada e compreendida, não é mais um anti-produto da internet profunda”. Esse discurso lembra o dos punks que presenciaram os primórdios em 1976/1977. No entanto, o punk se transformou ao adquirir outros elementos e gerar híbridos incontáveis new wave afora. Algo semelhante acontece agora. Elementos de trap, grime e IDM se fundem a estéticas abandonadas para continuar ressignificando música e imagem. O pós-punk de ontem é o vaportrap de hoje » tão vasto e ramificado quanto.

A maior parte da eletrônica alternativa das últimas três décadas permanece um enigma para a nova geração por dois motivos: 1) Nunca chegou aos grandes meios de comunicação e 2) Dispensava o apelo imagético para permanecer som puro. Para processar tanta informação dispersa foi necessário associar os subgêneros menos reconhecidos a imagens daquele período que hoje parecem absurdas, como os tutoriais de Windows 95. O transcendentalismo virtual vislumbrado em meados dos anos 90 foi cristalizado em imagem »  o DREAM CATALOGUE de David Russo [HONG KONG EXPRESS] é o exemplo mais consistente. Outro selo é o ORANGE MILK.

Compreender a influência da vaporwave na música é chave para perceber a vanguarda atual. Álbuns como ‘DEDEKIND CUT – $UCCESSOR‘ (de 11/11) e ‘INSHA – DYSPLAZIA‘ (de 20/10) representam esse momento em que Aphex Twin, Autechre, Jan Anderzen, Burial, Dean Blunt, Daniel Lopatin, Arca e recortes bruscos do meio digital se fundem para criar uma nova música. Por outro lado, esse movimento faz com que Aphex Twin [ouça ‘CHEETAH EP‘] e Autechre [ouça ‘ELSEQ 1/5‘] sejam mais facilmente absorvidos, enfim.

EOMAC _ álbum » BEDOUIN TRAX _ selo » BEDOUIN

Há muito tempo se fala que a cena dos clubes é a volta da música primitiva e dos rituais tribais. Eomac escancara essa relação num álbum que nos transporta milhares de anos atrás.
Aqui o produtor inglês também capta a onda de gabber que vem rondando algumas pistas. Gabber é o techno hardcore pesado e super-acelerado que rolava nas raves de Rotterdam (Holanda) no começo dos anos 90. Dentro do gabber havia uma vertente que defendia a supremacia branca fascista. Ao fundir gabber com música árabe, Eomac dilui qualquer impressão precipitada. O álbum foi lançando por um selo dos Emirados Árabes.

TORESCH _ álbum » ESSEN FÜR ALLE _ selo » OFFEN

Banda industrial de Düsseldorf com cantora mexicana que traz o gênero de volta à vida. Uma mescla entre o grupo vocal napolitano de Roberto De Simone & Nuova Compagnia Di Canto Popolare (1976) e o visionário electropunk de Liaisons Dangereuses (1981), também de Düsseldorf.

SHACKLETON & ERNESTO TOMASINI _ álbum » DEVOTIONAL SONGS _ selo » HONEST JON’S

Por falar em ópera italiana contemporânea, Shackleton, um dos melhores desenvolvedores do dubstep, lançou EP de réquiens cósmicos/tribais com vocais do cantor/ator Ernesto Tomasini, cuja figura flamboyant transita entre o patinador Johnny Weir e James St. James dos Club Kids originais.
Sam Shackleton vem se tornando cada vez mais autoral e independente desde 2012. Nada se compara às suas paisagens pós-apocalípticas.

MASAYOSHI FUJITA & JAN JELINEK _ álbum » SCHAUM _ selo » FAITICHE

Deixe o disco tocar e mergulhe nos detalhes, camadas e TEXTURAS da dupla. Um dos álbuns mais deliciosos da música ambient. Bastante influenciado pelo compositor Jon Hassell, parceiro de Brian Eno e aluno de Stockhausen – que descreve sua música como Quarto Mundo e sugere outra dimensão aos ouvidos mais atenciosos.
Na mesma linha, escute ‘LUCY – SHE-WOLF NIGHT MOURNING‘ do álbum Mythology.

SKEE MASK _ álbum » SHRED _ selo » ILIAN TAPE

O primeiro álbum de Skee Mask é eclético dentro do techno. Sugere grandes espaços abertos como os melhores do gênero no ano. ‘Lakker _ Reclamation‘ do selo R&S percorre caminhos semelhantes.

KANE IKIN _ álbuns e 12″ » MODERN PRESSURE/ SENSORY MEMORY/ BASALT CRUSH (12″) _ selos » TYPE/ ECHOVOLT/ LATENCY

Placas tectônicas colidem nos três lançamentos do australiano. Dois álbuns e um EP que criam sua própria linguagem de profundidades e cortes súbitos.

ILLUM SPHERE _ álbum » GLASS _ selo » NINJA TUNE

Riqueza de atmosferas e combinações de sintetizadores que raramente ouvimos por aí. A cena cultural noturna nunca ferveu tanto quanto hoje, mas a música que se ouve nos clubes nunca foi tão genérica.
O motivo: a maioria dos DJs e grande parte do público não conhece a história da eletrônica de pista das últimas duas décadas e meia; o resultado: tocam, sem saber, cópias quase idênticas de músicas que se ouviam há 10, 20, 30 anos. Talvez esse seja o maior problema da música instrumental.
O álbum de Ryan Hunn se conecta ao electro original, ao techno europeu dos 80 e a Detroit dos anos 90, porém soa autêntico ao fazer com que todos os sons coexistam em equilíbrio _ trazer o bumbo e o chimbal acima do resto pode fazer a música parecer datada e descartável, a menos que o foco seja a dinâmica e a timbragem da bateria, como faz ‘HIEROGLYPHIC BEING‘.

STEVEN JULIEN _ álbum » FALLEN _ selo » APRON

O melhor álbum de house em 2016. Par perfeito para ‘AMERICAN INTELLIGENCE‘ (2014) de Theo ParrishSteven Julien é FUNKINEVEN, um dos responsáveis por reavivar o acid house no começo da década de 10.

LES GRACIÉS [AFRIKAN SCIENCES & GAËL SEGALEN] _ álbum » LOW DOSES _ selo » FIRECRACKER

Eis aqui um dos álbuns mais alucinantes do ano lançado justamente no dia da publicação desta lista. Lembra-se da primeira vez que ouviu os álbuns e EPs de Ricardo Villalobos em 2003/2004/2005 ou Flying Lotus e os achou estranhos demais? Parece que passamos ao plano seguinte.
Um novo álbum de Afrikan Sciences era esperado há dois anos. Superou as expectativas: nada em Low Doses é óbvio ou soa embolado, nem a intrincada polirritmia – o que deve ter exigido o máximo da engenheira de som Gaël Segalen, que no álbum aparece como autora ao lado de Eric Porter (Afrikan Sciences): Depois que a faixa Pan chega ao apogeu e ocupa todo o campo sonoro surge um piano por cima para desafiar nosso senso de lógica. E como classificar esse som: house industrial? psyche techno? rhythmic noise jazz? post-field recording?

BENEATH _ faixa » GIV SUM _ selo » NO SYMBOLS

Bass music com espírito de Chicago house.

DJ EARL _ álbum » OPEN YOUR EYES _ selo » TEKLIFE

Até agora é um dos melhores lançamentos do juke, esse ritmo acelerado que flutua sobre as bases. Tornou-se mais ágil ao economizar nos samples repetitivos. Oneohtrix Point Never completa a produção do álbum.

MORO _ faixa » ARREPIENTANSE _ selo » NON

Devastadora mesmo! Lobos espumam. Non é o selo colaborativo africano fundado por Chino Amobi e o absurdo Angel-Ho, que expandiu sua rede a Londres e EUA. Moro é argentino.

WWWINGS _ video » ERA

Distopia sobre equipamentos abandonados e ressuscitados. A animação de Rob Jabbaz pediu design de som ao coletivo russo/ucraniano WWWINGS e evidenciou a influência de efeitos cinematográficos na música de vanguarda, como se elevassem ao cubo o álbum Xen, de Arca.
WWWINGS lançou neste ano um álbum bem experimental – PHOENIXXX – pelo selo PLANET MU. Mesmo para os ouvidos mais corajosos sua música parece mesmo precisar de imagens sincronizadas para nos situarmos em meio ao caos. Interessante notar a relação entre esse tipo de música e a concreta dos anos 1940/1950 por Pierre Schaeffer, Pierre Boulez e Stockhausen.
Outra animação maravilhosa de Rob Jabbaz » https://vimeo.com/148769635.

JUSTICE _ faixa » ALAKAZAM! _ selo » ED BANGER

O vídeo brinca com variadas qualidades de gravadores de celulares em diversos ângulos de um show. Cinema elaborado que mostra bem a reação das pistas eufóricas.

DEATH IN VEGAS _ faixa » CONSEQUENCES OF LOVE (CHRIS & COSEY REMIX) _ selo » DRONE

Chris Carter e Cosey Fanni Tutti são a metade do Throbbing Gristle, juntos desde 1981. Nesta década vêm lançando EPs e remixes bem interessantes. Com a jovem Nik Colk Void formaram um trio e inventaram um tipo recente de techno industrial. Veja aqui » https://goo.gl/Pqgnnn.
Neste remix para Death In Vegas (sumidos havia 5 anos), Chris & Cosey transformam synthpop em spacedisco e colocam a voz bem à frente na música, causando a impressão de estar descolada do resto e mais próxima do ouvinte. Lembra um dos maiores clássicos do Throbbing Gristle » ‘Hot On The Heels Of Love‘ (1979).

NHK YX KOYXEN _ álbum » DOOM STEPPY REVERB _ selo » DIAGONAL

Quem é pouco acostumado com techno pode achar o álbum genérico na primeira audição. Os timbres lembram o techno norte-europeu e o hard trance característicos de 93/95 e abandonados há 20 anos. Mas repare nos detalhes estruturais básicos (de bumbo e chimbal): Kohei Matsunaga recusa a fórmula e alterna, por exemplo, o volume dos batidas – assim é possível ouvir atmosferas ao fundo, pois a estrutura não é mais a grade fechada da qual nos acostumamos.
Outro selo que foge de fórmulas sem causar grandes estranhamentos é o TIMEDANCE, de Bristol. Ouça ‘IRON LUNGS’ de Ploy e ‘DENSITY’ de Lurka. O melhor selo de techno entre os recentes.

FACTORY FLOOR _ faixa » SLOW LISTEN _ selo » DFA

Acid house atemporal. Tende à escola de Colônia da primeira metade dos 90s (de Mike Ink, Cem & Can Oral, Ingmar Kock e Jörg Burger). Fluido, “driven” e progressivo para fazer a pista pulsar em uníssono.

OLIVER COATES _ álbum » UPSTEPPING _ selo » PRAH

Álbum que nos leva à essência de onde Mixmaster Morris e The Orb se inspiraram no final dos anos 80: ambient house, pianos de brinquedo e psicodelias suspensas no ar. Só que Oliver Coates é também um dos melhores violoncelistas do mundo e premiado pela Sociedade Filarmônica Real do Reino Unido. Já trabalhou com Steve Reich, Nico Muhly e Jonny Greenwood do Radiohead. Não existem mais barreiras entre a house inglesa e a música erudita contemporânea.
Outro ótimo exemplo é MAXWELL STERLING, que remete às marimbas e sinos de Reich.

PEDER MANNERFELT _ álbum » CONTROLLING BODY _ selo » PEDER MANNERFELT PRODUKTION

Tanto Mark Fell (UK) quanto Peder Mannerfelt (Suécia) são bem ecléticos e merecem ser pesquisados se você tem interesse nos possíveis rumos da eletrônica para os próximos anos. Geralmente é o processo de experimentação que tem mais valor em suas músicas. BZ Reaction, porém, funciona independentemente da abertura do ouvinte a novas sonoridades, talvez porque lembre os edits sem batida de house baleárico (Ibiza e Itália) da virada dos anos 80/90 que Enzo Elia lançou recentemente.

EUGLOSSINE _ álbum » CANOPY STORIES _ selo » ORANGE MILK

DJs famosos como Sven Väth e Nina Kraviz vêm inserindo trance em seus sets. Existem híbridos surgindo, mas o cenário, por enquanto, não se diferenciou de suas origens e seu auge (1993). Até que um multi-instrumentista da Flórida, Tristan Whitehill, resolveu fundir trance + rock progressivo + jazz em um só álbum e criou algo inédito.

PLAID _ faixa » DO MATTER _ selo » WARP

Passam-se os anos e Ed Handley & Andy Turner continuam nos surpreendendo com suas melodias. Aqui mais simples do que nos álbuns anteriores, mas não menos bela. Do Matter é uma das faixas que revelam o interesse crescente pela ficção cientifica – por causa das séries televisivas e, principalmente, porque a realidade tem sido dura no mundo todo.

ARCA _ video » SIN RUMBO _ [sem selo]

Quem esperava que o colombiano Alejandro Ghersi, autor de um dos álbuns abstratos mais relevantes da eletrônica em 2014, aparecesse CANTANDO tanta dor? Lembram desta sequência de Mulholland Drive de David Lynch? :'(

CROATIAN AMOR _ faixa » AN ANGEL GETS HIS WINGS CLIPPED _ selo » POSH ISOLATION

Tristesse romantique fria e etérea. Engana-se quem diz que a canção não evolui. É provável que a maioria descobrirá essa variedade de sonoridades muitos anos depois, já que os grandes canais estão, mais do que nunca, tomados por lixo comercial. Sorte sua que está vendo/ouvindo esta seleção.

MATT CARLSON & MICHAEL STIRLING & DOUG THERIAULT
faixa » CLOUDS INTO MIDNIGHT _ selo » ROOT STRATA

Pran Nath (1918-1996) foi um importante músico hindu paquistanês que se mudou para Nova York em 1970 para estudar com La Monte Young – um dos inventores do minimalismo que se baseava no microtonalismo da música clássica hindu.
Inspirados na música de Pran Nath e La Monte Young, os três jovens do Oregon (EUA), Carlson, Stirling e Theriault, somam camadas progressivas de sintetizadores e elevam o canto hindu à máxima potência.

KLEIN _ faixa » ARRANGE _ selo » HOWLING OWL

Klein parece possuída por gospel psicodélico neste vídeo. Seria lindo se os cantores do ghetto (e queer ghetto) ouvissem Klein e se influenciassem pelo instrumental LIVRE sem abandonar as raízes africanas.
Veja e ouça mais » youtu.be/G74KTcgyJJM.

FAKA _ EP » BOTTOMS REVENGE _ selo » NON WORLDWIRE

Cantos ancestrais sobre base de GQOM – um tipo de guetto house com kwaito e kuduru que nasceu em Durban, na África Do Sul. Representa bem a festa EXTÚRDIA que acontece na Casa Da Luz em São Paulo.
A tradução do título do EP é Revolta das Passivas.

SAM KIDEL _ faixa » DISRUPTIVE MUZAK _ selo » THE DEATH OF RAVE

Sam Kidel interfere pontualmente numa colagem de trotes telefônicos a serviços públicos. O que, a princípio, pode parecer irritante vai gradualmente se tornando mais distante até revelar uma paisagem aérea onde o ouvinte é observador passivo. Desconecte-se do estresse cotidiano por 20 minutos.

RECKONWRONG _ faixa » THE PASSION OF PEZ _ selo » WHITIES

Alex Peringer estava começando a ser notado pelos EPs de techno (instrumental) quando de repente mostrou a face e a voz. Pelo potencial de cinismo, a ideia de inserir baixos em reverso e o vocal semelhante ao de John Maus, eu espero que ele continue por esse caminho.
O novo disco de ‘POWELL – SPORTS‘ seria o melhor representante do legado de Alan Vega (Suicide) e do revivalismo da new wave que parece se aproximar. Mas Peringer roubou a cena.

FOTONOVELA _ faixa » REMÉDIO _ [sem selo]

Acostumamo-nos a crer que memória musical e experimentação são opostos. Enquanto a primeira quer reviver o passado, a segunda procura representar novos sentimentos. O duo Fotonovela explora esse paradoxo. Em seus vídeos assistimos a imagens familiares em contraste à voz grave sussurrada do cantor em baterias submergidas. Leia entrevista na Senŏide » https://goo.gl/Bt6kTC.

× Curta Music Non Stop no Facebook