Trazendo DJs globais como Armin van Buuren e Tiësto, a coletânea Senna Driven será lançada oficialmente em 1º de novembro
Pergunto a Bianca Senna como foi receber uma ligação com uma proposta em que DJs do mundo todo escreveriam música em homenagens ao tio, o ídolo da Fórmula 1, Ayrton Senna. “Sou muito fã de música eletrônica”, ela me responde. “Foi uma surpresa muito boa.”
Puxo pela memória e, salvo algum projeto com menos repercussão, é a primeira vez que um grupo de maestros das pistas de dança homenageia um esportista. Ayrton Senna é um caso raro. Um ídolo cuja aura transpôs o trabalho e se transformou em um ícone mundial cujas qualidades foram além do cockpit.
Senna Driven será lançado oficialmente dia 1º de novembro durante o Grande Prêmio de São Paulo. Antes disso, nesta quinta-feira, 10 de outubro, um showcase com alguns dos DJs participantes do projeto vai ser apresentado na noite de abertura do festival Tomorrowland Brasil. O projeto reúne 22 artistas de diversas partes do mundo, especialmente aquelas em que Senna é mais popular ou conquistou grandes feitos em sua carreira.
“Temos artistas do Japão, da Austrália, Inglaterra — e, claro, vários brasileiros. Lugares importantes na carreira do Ayrton. A ideia original era termos dez faixas e, no final, o álbum vai sair com 22. Isso fala bastante sobre a vontade dos artistas em entrarem nessa. Até agora recebo mensagens de empresários avisando que querem fazer parte do projeto, mas já não dá mais”, conta Edo van Duijn, um dos idealizadores da parada. A boa recepção está sendo tentadora para os envolvidos, que pensam na possibilidade de uma continuação. Um volume 2, talvez?
A “ótima surpresa”, como contou Bianca, partiu de Edo e Claudio Mattos, da agência Bulldozzer, que procurou a empresa criada para cuidar do legado de Ayrton, Senna Brands. O projeto conta com o apoio de distribuição da Universal Music, gigante da indústria. A ideia veio de Claudio:
“O projeto começou muitos anos atrás. Eu assistia a Fórmula 1 com meu avô e aquela música, o Tema da Vitória, sempre ficou na minha cabeça. Quando estive em uma das edições do Tomorrowland, vi várias pessoas com o boné do Senna. Foi então que pensei: ‘a gente tem de fazer alguma coisa para criar esta conexão da música com o Ayrton’. Mandei uma mensagem para o vice-presidente do Instituto Ayrton Senna [Ewerton Fulini] antes mesmo de falar com o Edo”, que aprovou a ideia na hora.
“Este projeto foi uma oportunidade. Não seria o caminho natural que eu imaginei. Um álbum de música eletrônica relacionado ao Ayrton. Nunca tinha pensado nisso e, normalmente, sou bem criativa” — explica Bianca, com um sorriso no rosto. “Mas eu achei muito interessante. A música é uma ferramenta muito boa para trazer emoção e te dar pulso, animação, vontade de fazer as coisas. Ela tem a capacidade de mexer com nosso coração, e o a Ayrton também”, continua.
Senna Driven foi tocado em conjunto pela Bulldozzer e a Senna Brands, desde a escolha dos artistas até a história contada pelo álbum. Edo conta que “a curadoria respeitou os os países em que Senna tem um grande número de fãs, graças à suas grandes conquistas”. Dentre as exigências de Bianca e sua equipe, a mais importante foi não usar a Inteligência Artificial para construir vozes do piloto: “A gente quis que esse álbum fosse muito autoral, mostrando muito do que o Ayrton falou, do que ele era e daquela força que ele tinha. Não recriar sua voz foi o principal ponto que a gente quis trazer”.
Não foi preciso. Bianca disponibilizou um acervo com centenas de entrevistas e gravações do tio, que foram previamente selecionados em conjunto com a Bulldozzer e então disponbilizadas aos DJs convidados para a missão de reconstruir, através da música, a jornada de um dos mais queridos pilotos da história da Fórmula 1.
A compilação conta com nomes como Tiësto e Armin van Buuren e vai trabalhar, após seu lançamento, em prol de uma confluência de diversas estratégias presente no trabalho de todos os envolvidos. Para Bianca Senna, a promoção da história do tio entre o público mais jovem. Ayrton faleceu há 30 anos, em 1994. Significa que muita gente que estará dançando às músicas de Senna Driven ainda não havia nascido quando ele pintava e bordava no circuitos automobilísticos do mundo todo.
“Temos sempre que nos reinventar, para estarmos sempre falando com as novas gerações. A música eletrônica traz muito esse gancho, para podermos passar a mensagem de uma forma interessante, típica desse público”, continua explicando. Claudio Mattos completa: “[A ideia] Foi muito ao encontro com o que eles estão buscando: continuar a transmitir o legado para pessoas mais jovens, que talvez não saibam quem foi o Ayrton Senna ou não tenham conseguido acompanhar a sua carreira”.
Os DJs entram com a molecada, e Ayrton, com os valores, algo importante para o universo da música eletrônica na visão de Edo: “O principal objetivo é celebrar o legado. Vai ter um impacto no mundo inteiro. Os valores do Senna também são muito importantes para o cenário de música eletrônica. Queremos fazer com que as pessoas entendam que a música eletrônica é um movimento de positividade, de união. Muitas vezes os aspectos negativos deste universo é que são transmitidos pela mídia. A mensagem é extremamente positiva. No álbum, tem músicas que vão te inspirar, e isso é algo especial”.
Mas que valores são esses, que chegaram a direcionar até mesmo a composição das músicas? “As faixas do álbum abordam certos temas… A mensagem final é a de não desistir, de ser verdadeiro com você mesmo, ser motivado pelo seu sonho. Está muito ligado a esse lugar interior que todo mundo tem. O lugar do propósito, do sonho, também da vulnerabilidade, que todos nós temos e que precisamos nos conectar. É onde está nossa maior força. O Ayrton mostrou muito isso, dentro e fora das pistas. Esta é a mensagem que eu gostaria que ficasse: de que Deus nos deu um propósito e que temos de usar nossa força para mostrá-lo ao mundo”.
Comum nos projetos envolvendo a marca Senna, uma parte da renda dos direitos autorais vai para o instituto em seu nome, em um acordo que envolve artistas, a Bulldozzer e a própria Universal Music. Mas o retorno financeiro, segundo os envolvidos, não é o principal objetivo. “A função do projeto é usar a música como uma ferramenta de interação e motivação”, conta Bianca.
“As coisas que a gente faz nunca são por dinheiro. Nenhum projeto aqui é pensado só do ponto de vista financeiro. Claro que ele é importante, mas não é o fator decisivo.” Edo completa: “Não é um projeto comercialmente muito interessante para nenhuma das partes. Mas todo mundo quis fazer, de qualquer maneira”.
Das pistas de corrida para as pistas de dança, Aytron Senna segue voando alto. Mas a velocidade, agora, é medida em BPMs.