Por Claudia Assef
Fotos e Vídeo: Flávio Florido
Apesar de ser um encontro de beatmakers, as quartas-feiras na casinha de número 256 da rua Amália de Noronha, em Pinheiros, em São Paulo, são, na maior parte do tempo, silenciosas. Isso porque boa parte da ação no Beat Brasilis rola “dentro” dos fones de ouvido dos participantes desta que é quase uma seita secreta dos fazedores de beats.
Vamos aos fatos: o Beat Brasilis é um encontro de manos e minas que se reúnem às quarta-feiras, a partir das 15h, na loja de discos/centro cultural Casa Brasilis, em São Paulo. Lá se vão mais de 90 semanas – esta matéria foi realizada na edição de número 93, no dia 29/6 – em que produtores e DJs em busca da batida perfeita se rendem às regras do encontro semanal Beat Brasilis; são elas: xs três primeirxs participantes que chegarem ao evento podem procurar um disco numa das estantes de discos “baratos”, onde normalmente se deparam com compilações de novela, coletâneas românticas italianas ou qualquer outro disco quase sem valor comercial que estiver à disposição nas prateleiras da loja com preços até R$ 10.
Depois de escolhido o disco do dia, os participantes que vão chegando têm direito a samplear (copiar trechos, usando uma máquina como uma MPC, por exemplo) até 10 minutos da bolacha. Feito isso, cada um vai pro seu canto e… bem, a mágica acontece. Durante algumas horas, cada um fica lá no seu mundo, com os beats que trouxe de casa, trabalhando nos samples recém-extraídos da bolacha do dia. E, para que não haja o completo caos no recinto, todos trampam silenciosamente, usando seus fones de ouvido, e o som que se ouve pela loja é prioritariamente, durante boa parte do tempo, um “plec-plec” de dedos apertando botões. Apenas.
Os donos da Casa Brasilis, Bruno Borges aka DJ Niggas e a Rafaella Gouvea aka Rafa Jazz são os anfitriões da nite e explicam que todo mundo é bem-vindo, basta querer fazer a magia acontecer usando para isso o sample do dia e um equipo trazido de casa. Valem tanto MPCs e outros equipos das antigas quanto o combo atual software (Ableton lives da vida) e computador. O que importa é a vontade de fazer beats criativos usando como ponto de partida um disco encontrado na gôndola dos baratex.
“Resolvemos trabalhar com discos que ninguém quer porque é mais desafiador assim. Seria muito fácil a gente trabalhar com os Tim Maias da vida, mas quero ver fazer um belo beat com um disco de R$ 1 real de músicas românticas italianas”, diz Bruno, o Niggas.
Pra muita gente vai ser novidade, mas o Beat Brasilis já virou religião pra uma galera. “Isso aqui é o nosso futebol de quarta à noite”, diz o DJ Dablyo, do grupo Monarcas, um dos mais assíduos do rolê – “já vim a mais de 40 edições”.
A gente ficou de cara com o nível de seriedade e com a qualidade dos trabalhos apresentados a partir das 21h, que é quando “bate o sinal” e todo mundo tem que parar de trabalhar em suas batidas. No geral, os beats produzidos no dia têm entre 1 e 3 minutos e todos ganham uma vez para apresentar seus trabalhos do dia na cabine da Casa Brasilis.
Depois do trabalho feito, todos os participantes autografam o disco de vinil escolhido como fonte de sample do dia, que posteriormente é sorteado como troféu daquela edição do Beat Brasilis (o ganhador do vinil da edição #93 foi o DJ Formiga). Os áudios com todos os beats criados na noite são publicados no soundcloud da festa.
Entre brejas e batidas, a gente acompanhou esta experiência emocionante que é participar de um Beat Brasilis e recomendamos altamente uma visita ao local. Se você curte esse rolê, esta é uma parada obrigatória para as suas quartas em São Paulo. Dá um play e, na próxima quarta, cole lá.
Beat Brasilis
Quartas, a partir das 15h
Casa Brasilis (rua Amália de Noronha, 256, Pinheiros, tel. 11 2825-9705)
Entrada: só colar
Comes e bebes: cervejas a partir de R$ 6; quibe vegetariano, R$ 10