pista do Lov.e Club Pista do Lov.e Club. Você estava lá? – foto: Fabio Mergulhão

Saudade dos clubes de música eletrônica dos anos 2000? Romance argentino Electrónica está em pré-venda no Brasil

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Electrónica, de Enzo Manqueira, romance argentino que melhor descreve a nostalgia dos clubes de música eletrônica dos anos 2000, está em pré venda no Brasil

O celebrado romance argentino, repleto de referências da cultura pop, que conta as peripécias vividas por uma professora de jornalismo que aos finais de semana se jogava nas pistas de música eletrônica de Buenos Aires, chega ao Brasil pela PONTOEDITA. O prefácio é da jornalista e “clubber” Gaía Passarelli, que aqui vai com exclusividade.

Garanta seu exemplar na pré venda, que se inicia na segunda-feira, 20 de agosto, por aqui.

“O problema é que a cabeça não aguenta, o ninja disse, e deu mais um trago. Enfim, se você for pensar, o maior problema é que a nossa geração é a primeira que está preocupada em viver bem. Nossos avós já fizeram o esforço de começar do zero, nossos pais ganharam o dinheiro, para a gente sobrou a procura da felicidade. Mas a gente nunca encontra, a professora disse. Não, o ninja disse, para a gente não sobrou nada.” Assim os personagens de Electrónica, romance de Enzo Maqueira, falam sobre as perspectivas do mundo em que vivem. 

Este diálogo, no entanto, poderia acontecer entre muitos outros personagens da geração que passou as noites dos anos 2000 em baladas e raves sonhando com um mundo sem fronteiras, um continente integrado e um futuro próspero antes de darem de cara com uma realidade pejotizada, de perda de direitos e à beira de uma catástrofe climática. Afinal, como nos lembra Gaía Passarelli na intervenção artística que escreveu para a edição brasileira, “a vida agora é uma realidade de paixões inventadas, salários baixos, louça pra lavar, festas desinteressantes e longas noites piscando para mensagens não respondidas no WhatsApp”. Leia abaixo, em primeira mão, o prefácio da obra, escrito pela jornalista e clubber que viveu intensamento os anos 1990 e 2000 em São Paulo.

SAUDADES DO FUTURO

 

Por Gaía Passarelli

Houve um momento, ali nos anos 1990, em que nós achamos que tudo ia dar certo. Nós íamos jogar MDMA em tanques de água e resolver todos os conflitos do mundo — dançando. O techno era uma linguagem universal, capaz de nos conectar através de ritmo e melodia. Cada dia nos aproximava da noite de sábado, que virava manhã de domingo e evaporava na realidade da segunda-feira apenas para começar tudo de novo. Sempre igual, sempre diferente, sempre bom.

Nós passamos horas, dias, mexendo o corpo em pistas de dança, batendo palmas e dando saltos no ar, entrando em abraços coletivos e trocando fluídos, cigarros, goles de Gatorade e pílulas brancas com estranhos. E por um momento pareceu que era isso. Que jamais nos cansaríamos de dançar em galpões iluminados por canhões de raios laser, ver o dia nascer em eventos enormes ao ar-livre. Pareceu que era isso, que a música, a dança, as raves, o techno, a house, o trance estavam mostrando o caminho para uma vida cheia de música, cor, risadas, dança. Até que, um dia, não mais.

Mesmo que nenhum jovem entenda que não será jovem para sempre, a realidade sempre se impõe. Os sinais da vida mundana, madura, real, vão emergindo aos poucos, diferentes para cada um, mas sempre inevitáveis. O sonho acabou e acordamos com saudades do futuro.

Em Eletrónica, a protagonista, uma professora de escola pública em Buenos Aires, busca de todas as formas alguma emoção que a reconecte mais uma vez com a euforia e a esperança da juventude, enquanto sabota a estabilidade conquistada e se vê obrigada, a partir do relato de quem a conheceu em tempos menos duros e mais livres, a dar uma boa olhada no espelho.

A professora precisa reconhecer que o mundo mudou, que os enormes festivais de techno com DJs importados da Europa e queixos batendo em banheiros lotados não vão voltar. Que a vida agora é uma realidade de paixões inventadas, salários baixos, louça pra lavar, festas desinteressantes e longas noites piscando para mensagens não respondidas no WhatsApp. 

Como eu e você, ela precisa encontrar uma direção a seguir. E é essa busca que conversa com todo mundo que viveu grandes momentos com amigos em pistas de dança de qualquer grande cidade do mundo — nos anos 90, ou não.

 

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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