Robertinho, lendário DJ do Gallery, toca na Discology

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Robertinho (na frente) com uma galerinha jet setter do Gallery: sim, é o Barry White ali atrás

Robertinho foi um dos primeiros DJs de renome da era disco em São Paulo. Começou tocando no New Ton Ton, depois passou pelo Hippopotamus e Papagaio Disco Club, todos clubes top. Fez fama e muito dinheiro trabalhando como DJ do Gallery, onde tocou durante oito anos. O DJ ficou conhecido por seus sets técnicos, mas também por suas roupas de grife e relógios de ouro. Era um apreciador das boas coisas da vida, conhecedor de bons vinhos e adorado pelo público endinheirado das boates.

Entre os muitos DJs das antigas que eu já entrevistei, quase todos se lembram de Robertinho com um brilho especial nos olhos. O cara é tido como uma lenda, que atualmente pouco toca. Quem quiser presenciar um momento histórico e ver esse pequeno mestre de novo nos toca-discos deve correr pro Vegas neste sábado. Robertinho é o convidado da Discology, noite que eu faço com o meu amigo Camilo Rocha e agora com o maridão Daniel Cozta.

Abaixo uma entrevista que fiz com o DJ em 2003, que está no meu livro Todo DJ Já Sambou.

* * *

Com que idade você começou a tocar?

ROBERTINHO – Comecei aos 21 anos na New Ton Ton, em 1973. Eu era freqüentador assíduo da casa e um dia fui chamado para tocar. Mas já fazia festinhas com fita cassete bem antes disso. Estudei num colégio bom, sou de São Paulo, do Jardim Paulista. Era tão ligado em música que ficava toda hora enchendo o saco do discotecário do New Ton Ton, queria saber os nomes das faixas. Um dia me ligaram dizendo que era para eu ir substituir o DJ, porque ele não ia poder trabalhar. Era um domingo, a casa lotou de gente. Não sabia virar direito, mas todo mundo gostou. Comecei tocando James Brown, mais black. Fiquei três anos na New Ton Ton. A clientela era muito fina, gostava de mim porque eu sabia me portar legal. Como sou meio escurinho, tinha que caprichar um pouco mais no visual, então me vestia muito bem.

Daí você foi para o Hippopotamus?

ROBERTINHO – É, foi o maître do New Ton Ton quem me indicou para o Ricardo Amaral, que era dono do Hippo. Fiquei seis meses lá, até que ele [Amaral] teve a idéia de abrir uma discoteca mesmo, o Papagaio Disco Club. A casa era um espetáculo, teve o primeiro mixer decente de São Paulo, um Bozak. Comecei a fazer viradas muito boas, as pessoas vinham me perguntar como eu fazia para que a música não terminasse nunca. Eu tinha facilidade em distinguir BPMs, fazia uma bela seleção, não deixava a pista morrer nunca.

Você aprendeu observando algum DJ em especial?

ROBERTINHO – Peguei várias gerações. Antes do New Ton Ton, tinha o Cave, quem tocava lá era o Chicão, que era ótimo, lendário. Depois teve o Sylvio Müller, o Grego, meus amigos. Daí apareceu um pessoal mais novo, o Ricardo Guedes, o Iraí [Campos].

Quando você começou a gravar fitinhas?

ROBERTINHO – No Hippo, em 1976. Vendia que nem água. Depois fiz também na fase do Papagaio, onde fiquei de 1976 a 78. Mas não vendia muitas, era mais para dar de presente. No Papagaio vieram as compilações, os discos oficiais das boates. Ajudei a fazer alguns, outros foi o DJ Flávio Ferrari que fez. Estourei de vender fitas mesmo no Gallery, onde trabalhei de 1981 a 89.

Robertinho posa pra foto na porta do Studio 54, em Nova York. A foto é setentona até no detalhe do dedo aparente do fotógrafo

Nessa época você ganhou muito dinheiro, não?

ROBERTINHO – Muito mesmo. Eu tinha apartamento legal, relógio Rolex, trocava de carro todo ano. Conhecia todos os figurões, tenho foto junto com tudo quanto é artista. Trabalhei durante um ano fazendo as montagens do programa Ritmo da Noite, na Jovem Pan. Tudo estava indo muito bem, até que tive o problema lá em Londres…

Depois as coisas deram uma desandada…

ROBERTINHO – Acho que depois me acomodei. Alguns achavam que eu estava queimado, outros não. Eu dei muito tapa com luva de pelica por aí, viu? Continuo o mesmo cara educado de sempre, apesar de saber que muita gente fala mal de mim. Fico chateado sim, muito. Não tenho inveja de ninguém, mas não acho justo que eu não consiga arrumar um emprego. Estou sem trabalho há mais de um ano, não tenho dinheiro pra nada. É chato, claro, eu tinha um padrão de vida legal, comprava as coisas com grana viva, comia bem, gostava de boas bebidas.

A cocaína bagunçou a vida de muitos DJs nos anos 70. Você acha que não conseguiu lidar legal com a noite?

ROBERTINHO – Todo mundo consumia mesmo, bastante. Eu não dava nenhum teco enquanto estava tocando, só tomava um uisquinho, não gostava de tocar doidão. Mas acho que fui ingênuo em relação à droga, fui bobo de colocar na minha mala, num vôo internacional. Tenho boas lembranças do passado, nos anos 70 e 80 eu botava os clubes abaixo, ninguém ficava parado na minha pista. Hoje, infelizmente, tive que vender grande parte da minha coleção de discos, não sobrou muita coisa.

DISCOLOGY x BATE-ESTACA @ VEGAS CLUB

SÁBADO, 6/11, a partir das 24h

LISTA ESPECIAL CONSUMAÇÃO (enviar nomes para marcio.vegasclub@gmail.com)
HOMEM: R$35 – MULHER: R$20
Vegas Club
Rua Augusta, 765, São Paulo

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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