Uma homenagem do Music Non Stop ao Dia do Nordestino
Ao longo da história, poucas regiões passaram por tantas transformações no Brasil quanto o Nordeste. Uma montanha-russa que levou a região ao centro do poder, potência econômica, apagamentos e migrações. Uma jornada tão rica, claro, resultou em uma das culturas mais interessantes e diversas em todo o país.
Nas últimas décadas, cidades como Recife e Salvador se tornaram epicentros de cultura, de novos artistas geniais e de revoluções na música brasileira. O efeito também pode ser percebido na região Norte. E o grande barato, na grande maioria destes movimentos culturais, é o resgate dos ritmos tradicionais. Muitos deles, ainda desconhecidos (ou conhecidos só por nome) fora de sua região de origem.
Celebrando o Dia do Nordestino, o Music Non Stop preparou um guia prático para entender cinco ritmos musicais tradicionais da região Nordeste.
Ciranda brasileira
Síntese da miscigenação do Nordeste, a ciranda foi construindo sobre referências culturais afro-brasileiras, portuguesas e indígenas. De presença forte nos estados de Pernambuco e Paraíba, resistem até hoje através de diversos grupos em atividade, além da lenda viva Lia de Itamaracá, homenageada deste ano do Prêmio WME. A cultura envolve danças e festividades, mas a música é levada pelos cirandeiros por instrumentos como a bandeira, o pandeiro e o triângulo.
Baião
O baião é um dos ritmos nordestinos mais conhecidos fora da região Nordeste, graças ao trabalho de amplificação de seu grande mestre, Luiz Gonzaga. Seus instrumentos típicos incluem a sanfona (ou acordeão), a zabumba e o triângulo, que são essenciais para a sua sonoridade. O gênero é filho do lundu, cultura angolana trazida ao Brasil por escravos. O ritmo se popularizou no século 19 no Ceará, Pernambuco e Paraíba, antes de ganhar o mundo.
Frevo
As histórias que envolvem a criação do frevo, lá nos tempos imperiais, são sensacionais, além de ajudar a explicar um pouco do fervo que a região vivia no século 19. O ritmo é uma fusão absurda e improvável: as marchas militares, a polca da região da Boêmia, o maxixe carioca e, claro, a música africana. Se tornou a trilha fundamental do Carnaval pernambucano, e segue sendo modificada e modernizada por artistas que atingiram reconhecimento nacional e internacional.
Maracatu
Originário da região de Recife, o maracatu é muito mais do que música. Teatro, dança e um fortíssimo apelo musical acompanham os batuques, ou “baques”, como são originalmente chamados. Dividido entre maracatu nação, com origens na cidade de Recife, e maracatu rural ou de baque solto, feito na região da Zona da Mata, o gênero foi fundado por escravos e traz alegorias e referências aos orixás.
Hoje, é um dos estilos nordestinos que mais cultuam interesse e curiosidade no mundo todo, graças ao movimento manguebeat, de Chico Science, Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, que propuseram uma reinterpretação cyberpunk para o gênero. Atômico ou não, o maracatu é fantástico. Não existe nada mais mágico no imaginário brasileiro do que uma turma de caboclos de lança vindo pela estrada, no meio da mata.
Samba de roda
Não, o samba não veio dos morros cariocas, nem do Bexiga paulistano. A raiz do gênero que se espalhou, modificou, desdobrou e multiplicou em diversos subgêneros, do partido alto ao pagode, veio do Recôncavo Baiano, lá pelos idos de 1860, tempos em que a região era ponto de passagem de um monte de gente diferente em busca de riqueza. O samba de roda era uma forma de transmitir, dos escravizados para seus filhos, a cultura de sua terra de origem, a África, ensinando sobre o culto aos orixás, por exemplo, através da música.