
Quem passa por uma barra como a adicção e consegue se livrar dela goza de um sentimento de liberdade e autoestima que faz com que precisemos contar para todo mundo sobre nossa vitória. O anúncio aos quatro ventos, claro, ajuda quem está passando pelo mesmo problema e sabe que existe sim uma porta de saída. Mas o grande valor do posicionamento é mesmo o pessoal. O de dizer para nós mesmos o quanto somos foda. E relembrar, a cada dia, da sensação em ter saido de tamanha prisão. Mateo, da Francisco, el Hombre, acaba de fazer o mesmo em seu primeiro álbum solo.
Após passar por uma fase de autodestruição que quase lhe custou a vida, o músico se internou em uma clínica de reabilitação, de onde fez um diário que serviu de inspiração para NEURODIVERGENTE, lançado na última semana, dedicado totalmente ao processo que o levou da loucura à lucidez.
“Sempre entendi a música como um instrumento de comunicação de mensagem. Minha carreira com a Francisco, el Hombre e BABY mostra muito bem isso, trazendo sempre a necessidade de levantar reflexões atuais para a sociedade. Já fiz a partir de um ponto de vista social, crítico, de manifesto e resistência em tempos de fascismo, quanto de amor, carinho e resiliência em tempos de pandemia. E sempre guardei para mim essas doenças corrosivas que eu considerava ‘desnecessárias’ de serem colocadas. Mas ao explorar e expor minha vulnerabilidade, ao admitir minhas neurodivergências e adicções, encontrei mais uma motivação de comunicação”, confessa Mateo em comunicado à imprensa.
“Quero quebrar o tabu de falar sobre saúde mental. Quero que pessoas que ouçam o disco ou vão no meu show cheguem em casa sabendo que abrir a vulnerabilidade é diretamente proporcional à sua força de vontade de melhora. Pedir ajuda é normal.”

As oito composições passeiam entre a música brasileira e latina, com letras em português e espanhol. A Francisco, el Hombre conquistou um bom público nos países ibéricos e portanto, o flerte faz todo sentido. Embora feliz e esperançoso com a roubada de que se livrou tão recentemente, o músico traz composições que ainda se refletem em uma espécie de transição anestesiada. Mas o significado do lançamento é muito maior pela sua celebração do que pela sua música, ainda que bacana e tremendamente sincera.
Em busca das causas da adicção (se afundar nas drogas é uma consequência), Mateo recebeu um diagnóstico assustador: bipolaridade tipo 1, fibromialgia, depressão persistente, traços de borderline. Tremendo pacote com o qual terá de lidar por toda a vida. Neurodivergências que são possíveis de controlar, e o músico mexicano-brasileiro prova isso com seu álbum solo.
Nas letras e canções, o artista entrega seu âmago ao público. Sente-se a luta por traz da execução de cada uma das canções. Luta que segue a cada dia, a cada show e, esperamos, a cada novo álbum. Vai nessa, moleque, que o pior já passou!
