Garbage

Let All That We Imagine Be the Light

Pop / Rock | 2025

5/10

Jota Wagner
Por Jota Wagner

 

Primeiramente, é importante posicionar a peça Garbage no tabuleiro da música. O grupo formatado nos anos 90 com a chegada de Shirley Manson ao projeto musical de Duke Erikson, Steve Marker e Butch Vig, embora figure no imaginário de todos como uma banda de rock alternativo (e realmente, nas performances de palco, transmita bem essa ideia), fez e faz música pop. Sempre perseguiu o mundo dos hits radiofônicos, principalmente após explodir para o mundo com I’m Only Happy When It Rains. E com seu novo álbum, Let All That We Imagine Be the Light, não é diferente.

Houve um tempo em que todo mundo acreditava que o rock havia morrido. Foi quando DJs e duos de música eletrônica dominaram a música de um lado, enquanto divas e divos pop tomavam conta dos estádios de outro. No finalzinho dos anos 90, antes da grande reconquista indie capitaneada pelos bonitinhos do Strokes, ninguém aguentava mais a barulheira das guitarras nas rádios. O cansaço bateu em quase todas as bandas que surgiram na chamada onda grunge, que foram desligando seus motores e estacionando seus projetos.

Mas o mundo, redondo que é, dá voltas, e com a gigantesca retomada de mercado pelo indie rock nas décadas da seguintes, uma porção desses grupos disseram: “hey, fomos nós que inventamos isso aí, bora voltar e abocanhar nossa fatia do bolo”. O Garbage foi um deles. Em 2010, tiraram a poeira dos instrumentos e voltaram aos estúdios e turnês. Foi também o momento em que o rock e a música eletrônica fizeram as pazes definitivamente. Tal paz é escancarada pela banda em seu mais recente álbum, eletronicalizado.

De tão processada, fica difícil saber se a bateria de All That We Imagine Be the Light é tocada ou programada. Sintetizadores abundam em todo o álbum e a voz de Manson ganha cobertores de efeitos, muito bem usados, diga-se.

Garbage
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Só que, tão preocupados em se manter no lado radiofônico da força, a banda meteu um pé no cais e outro no barco desatracado. O álbum não se fixa nem na terra do punk e nem no mar do pop. O disco começa assustando, de tão adocicado, com a música There’s No Future In Optmism. Tenta manter a coroa de alternativos com a letra, mas a canção é de um chicletismo com overdose de açúcar. A partir da introdução, o Garbage vai partindo para o soturno e o industrial, graças ao seus sintetizadores, mas sem nunca largar a corda que os prende ao pop, e esse é o grande problema. Não serve para dancinha de TikTok e nem provoca, incomoda e disturba como deve fazer um artista que quer cantar as dores do mundo.

Na falta de uma puta canção (o grande problema são as composições mesmo, porque a produção de Billy Bush é bem boa), o álbum vai se arrastando, soando todo parecido, e nos dando aquele coceira incontrolável de falar: “foda-se, vou ouvir outra coisa”. Com muito esforço, pode-se destacar Radical, a quinta faixa, onde a banda tenta ousar um pouco.

Aos fãs da banda, mais um álbum do Garbage. Aos demais, apenas mais um álbum, competindo com outros incríveis, tanto de bandas “dos anos 90” quanto atuais, sendo lançados neste criativo 2025.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.