Chihiro (Black Coffee Remix)

Billie Eilish - CHIHIRO (Black Coffee Remix)

Billie Eilish / Black Coffee

House music | 2025

5.5/10

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Nkosinathi Innocent Maphumulo se apresentou para o mundo como um digno representante da comunidade negra da África do Sul. Mostrou a todos o rico cardápio cultural de sua terra, que desde os anos 80 casou-se com a música eletrônica e teve lindos filhos, como o kwaito e o amapiano, gêneros musicais influenciados pela house music, revisitados pelos sul-africanos de forma elegantérrima.

Foram a elegância e sofisticação musical seus cartões de visita para apresentar a grandes nomes do pop. E os convites para remixes foram chegando. Black Coffee, o nome artístico de Nkosinathi, desenvolveu uma marca tão forte na música que os artistas queriam justamente o “toque de café” em seus sons. A partir de 2014, a coisa chegou ao topo do mainstream, com remixes para Drake, Alicia Keys e Rihanna, entre outros de comparável fama.

O público brasileiro, inclusive, abraçou nosso primo africano, que tem se apresentado com frequência no país — e já retorna em abril (Rio e São Paulo), com datas e locais ainda não anunciados. Esta é uma de suas grandes qualidades: levar música bem feita e deep ao grande público.

Seu último álbum, Subconsciously, foi lançado no meio da pandemia, em 2021. Desde então, o DJ vem cumprindo sua recheada agenda de shows e entregando uma porção de remixes, vários para artistas restritos ao universo dance. No último dia de janeiro, porém, deixou claro que não abandonou a relação com grandes nomes do pop. A remixada da vez por Black Coffee foi Billie Eilish, com uma reinterpretação afro-house de seu hit, CHIHIRO.

Apesar de não trazer nenhum elemento de acelerar o coração, daqueles que tiram um palavrão da gente ao chegar de surpresa em uma música, Black Coffee colocou sua marca no remix, que só não ficou mais cool do que a original porque o que Billie Eilish fez em CHIHIRO é dificílimo de bater. Resultou, portanto, em uma versão mais indicada para festas de house.

Assim como tem acontecido com alguns de seus colegas que andam se aventurando em grandes festivais de música eletrônica, Black Coffee apelou para um apogeu emotivo na segunda metade da música. Track para final de set, para fazer chorar, para entrar nos recortes do TikTok. O problema é que já existem milhares com esta mesma função. E tantas outras são lançadas diariamente, buscando o mesmo momento do set de um DJ. Aquela herança Cafe Del Mar, de Ibiza, que insiste em nos perseguir.

Tecnicamente, o mano sabe o que faz. Sua mixagem é sublime. O produtor deixa espaços, respiros em seus compassos, compreendendo a fundamental questão da tensão e relaxamento na música. E seus chocalhos e percussões subjetivas, tão ancestrais na África, seguem lá. Uma boniteza.

Black Coffee é um DJ que todo mundo quer ver. E um produtor a quem ninguém diz não. Fez seu trabalho. Mais um.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.