
Poploading By Heineken acerta e surpreende no Popload Festival 2025
Tocando nos intervalos do palco principal, todas as sete atrações do palco alternativo foram altamente prestigiadas pelo público do rolê
“Levanta a mão quem nunca ouviu a minha música”, pedia Yago Oproprio para uma plateia que se aglomerava para ver o último show no palco Poploading By Heineken, na noite de sábado (31). A fala era de gratidão e surpresa. Embora muitos ali já soubessem o nome do jovem rapper paulistano indicado ao Grammy Latino, a maioria estava conhecendo suas rimas ali, no meio do Popload Festival. A verdade é que o garoto aqueceu a noite fria de outono que cobriu São Paulo, se apresentando no intervalo entre St. Vincent e Norah Jones.

Yago Oproprio. Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop
O garoto estava emocionado, e não era à toa. A forma como os artistas do palco se apresentaram era uma espécie de sonho. É comum, em muitos festivais, um espaço dedicado a novos talentos, menos conhecidos pelo público. O problema é que eles se apresentam, ou em horários em que ainda ninguém conseguiu chegar ao evento, ou ao mesmo tempo em que grandes artistas tocam em outros palcos, geralmente com som muito mais potente, enfrentando uma batalha difícil de vencer.
De forma inédita, o projeto Poploading By Heineken entregou aos artistas uma vitrine de valor inimaginável. O palco foi montado em frente ao principal, e sete talentos que não estavam no radar dos algoritmos tocaram no intervalo entre as grandes atrações do dia. Enquanto a equipe técnica do Popload Festival trocava os instrumentos de palco entre um hitmaker e outro, os artistas da programação do palco alternativo davam tudo de si para um público que o recebeu o projeto de braços abertos.
“Não conheço essa menina, ela é ótima”, diz uma mulher à sua amiga, um pouco atrás da aglomeração animada de gente que se espremia na frente do palco. Falavam de Maria Beraldo, uma joia da nova MPB brasileira. Beraldo é formada em música, já tocou com Arrigo Barnabé e Elza Soares e se lançou solo com o álbum Cavala, bem recebido na comunidade underground. Ali, no entanto, a garota se apresentava para um público que, como o de Yago Oproprio, não conhecia sua música. Mas reconhecia o talento e, principalmente, a importância daquela apresentação. Ao final, foi ovacionada.

Vera Fischer Era Clubber. Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop
Àquela altura, boa parte do público que estava no Popload Festival já tinha compreendido totalmente a importância e a magia do que estava sendo feito ali por aquela “molecada” (um exagero, já que todos os artistas circulam há anos pelo underground brasileiro). Com a despedida do sol, as cariocas da banda eletrônica Vera Fischer Era Clubber, atração anterior, já haviam provocado uma deliciosa catarse na galera que dançava surpresa à sua música. O grupo saiu do movimento clubber carioca e trouxe toda essa energia para o gramado do Parque Ibirapuera.
Com artistas desconhecidos, o público paulistano geralmente dedica uma recepção mais fria, mais analítica. O bom e velho “vou parar para ver qualé“. No último sábado, graças à inteligente estratégia de programação, a coisa foi diferente. Estava todo mundo entregue. Plateia e banda se conectaram como velhos conhecidos.
A curadoria do palco, montada em conjunto pelo Popload e a Heineken, reuniu artistas de diversos estados do país. Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Bahia. Sobrou espaço até para uma atração internacional. A experimental Moor Mother, dos Estados Unidos, que abriria o Popload Gig da Kim Gordon no Cine Joia, no domingo, apresentou um DJ set que marcou a transição entre a loucura da noite e as surpresas do dia no Popload.

Jadsa. Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

Supervão. Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop
Quando o público curioso procurava entender o som cabeçudo da nova-iorquina, já havia se deleitado com o som da baiana Jadsa, um monumento baiano e dona de uma carreira obviamente “pronta” para conquistar todo o país; os gaúchos indies da banda Supervão; e Stefanie, que, mesmo tocando no primeiro horário, já conseguiu juntar uma pá de gente para vê-la. Merecido, já que a rapper de Santo André circula no meio há muito tempo e colaborou com artistas hoje gigantes, como Emicida e Rincon Sapiência, além de bambas da MPB como Luedji Luna e Lurdez de Luz.
Como parte de um projeto maior da Heineken dedicado a promover encontros reais entre as pessoas, em contraponto com o ficar na cama trocando DMs em redes sociais com gente que, talvez, jamais se encontre em uma rua ou bar qualquer, o Poploading by Heineken acabou funcionando como uma grande plataforma de matches. Só que entre público e artistas.
Dali, saíram muitos namoros musicais que serão cultivados para o futuro. Todas as sete atrações entenderam a importância do formato e, usando um termo da moda, “entregaram” shows viscerais. Mas a coroa de louros vai mesmo para o comportamento do público, que recebeu cada show com mente e corações abertos. E isso é coisa que não se vê todo dia.

Stefanie. Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop