
IMS Ibiza 2025 aponta caminhos para uma cena eletrônica mais inclusiva e inovadora
Relatório IMS Business Report 2025 aponta crescimento de 6% na indústria e fôlego renovado pós-pandemia
Por Ana Cavalcante
Com a maior participação de delegados de sua história, superando os 1.700 presentes, o IMS Ibiza 2025 trouxe discussões impactantes sobre o futuro da música eletrônica, abordando questões de inclusão, sustentabilidade e inovação. Realizado entre 24 e 26 de abril, na praia de Cala Llonga, em Ibiza, o tom foi dado logo no primeiro dia com a palestra Intergenerational Exchange, quando foi debatido como as novas gerações podem aprender com o legado dos pioneiros, com destaque para a representação feminina no jungle e drum’n’bass. Ao longo do evento, temas como a autenticidade no gênero afro-house também marcaram presença, reforçando o poder transformador da dance music como uma expressão cultural global.

No segundo dia, o tema da Inteligência Artificial foi central, com discussões sobre as implicações da IA para os direitos autorais e a indústria musical. A mesa Generative AI destacou as preocupações com a manipulação de músicas protegidas por direitos autorais e a necessidade de estabelecer princípios éticos para essa tecnologia. Paralelamente, a diversidade também esteve no centro das conversas, com debates sobre a inclusão de artistas trans e a necessidade de criar um ambiente seguro e acolhedor para todos os profissionais da música, como destacou a discussão Trans Inclusion Charter.
A representação de diversas cenas globais foi outro ponto forte da edição de 2025. O evento contou com uma ampla troca cultural entre artistas e delegados de diferentes partes do mundo, com destaque para o crescente impacto da música eletrônica no Oriente Médio, África e Ásia. A discussão em Breaking Barriers tratou da luta contra o elitismo na dance music, reafirmando o compromisso da cena em tornar-se mais inclusiva e acessível, promovendo a colaboração entre diferentes culturas e estilos.
O IMS também dedicou tempo ao bem-estar dos profissionais da música, com sessões focadas em saúde mental, resiliência e equilíbrio entre vida pessoal e carreira. O conceito de The Art of Areté trouxe uma abordagem holística para a indústria, com atividades como yoga e sessões de respiração, além de debates sobre a reinvenção na música e as muitas oportunidades que o mercado oferece para quem busca evoluir sem perder sua essência.

Pete Tong tocando em B2B com DeerJade no IMS Dalt Vila 2025, festa de encerramento. Foto: Divulgação/IMS Ibiza 2025
No terceiro e último dia, a celebração de quatro décadas de jungle e drum’n’bass foi um dos destaques, com uma discussão profunda sobre a longevidade e a influência dessas sonoridades, além do papel essencial das mulheres no gênero, representadas por lendas como MC Chickaboo. O evento também foi marcado por um olhar crítico sobre a sustentabilidade da vida noturna global, com o portal Resident Advisor alertando para a importância de apoiar os clubes menores, onde a cena underground começou a florescer.
Para encerrar com chave de ouro, o evento teve a premiação da DJ e produtora brasileira Marina Diniz com o Future Talents Awards 2025 da Pete Tong DJ Academy, um reconhecimento importantíssimo para sua carreira. Marina, que já vinha se destacando como uma das promessas da música eletrônica, foi aplaudida por sua habilidade em criar e inovar dentro do cenário global. Tal reconhecimento posiciona a artista entre os talentos mais promissores da cena eletrônica internacional, abrindo portas para colaborações com grandes nomes da indústria, apresentações em palcos internacionais e maior visibilidade em plataformas de destaque.
O IMS Ibiza 2025, com sua rica troca de ideias e inspiração, foi o palco perfeito para um evento que celebra tanto a tradição quanto a vanguarda da música eletrônica.

Marina Diniz. Foto: Divulgação/IMS Ibiza
O relatório

Foto: Divulgação/IMS Ibiza
Como de costume, foi publicado o relatório anual IMS Business Report. A edição de 2025 revelou um panorama estratégico sólido para a indústria da música eletrônica. Com um crescimento global de 6% e faturamento de US$ 12,9 bilhões, o mercado mostra fôlego pós-pandemia e aponta para uma fase de consolidação. O estudo reforça que a música eletrônica continua sendo pioneira em orientar o restante da indústria musical — com foco em cenas, fandom e uma cultura profundamente enraizada em inovação e comunidade.
Entre os gêneros e cenas em alta, o destaque é para o avanço de estilos como afro house, drum’n’bass e o renascimento do UK garage. O Beatport reportou mudanças significativas no ranking de vendas, refletindo o interesse crescente por sons mais intensos, enquanto o SoundCloud destacou o crescimento de 42% da cena minimal/deep tech. Essa movimentação evidencia uma nova geração assumindo gêneros clássicos, reinterpretando e criando novas narrativas culturais.
No eixo de consumo e base de fãs, o IMS Business Report 2025 aponta um salto de 566 milhões de novos fãs nas principais plataformas em 2024. Os ouvintes de música eletrônica continuam sendo os mais engajados: gastam mais, ouvem mais e têm um senso de pertencimento muito mais profundo às cenas que integram. Mercados emergentes — especialmente no Sul Global — têm sido cruciais nesse crescimento, impulsionando artistas e gêneros locais para o centro do radar mundial.

O tema da diversidade também ganhou espaço, com uma leve mas constante ampliação da presença feminina no universo dos DJs. Dados da AlphaTheta mostram que o número de mulheres registradas na plataforma subiu de 13% para 16% entre 2022 e 2024. Embora a desigualdade ainda seja significativa, a visibilidade de artistas mulheres nos line-ups e nas plataformas está ajudando a romper barreiras históricas no setor.
Por fim, a Inteligência Artificial desponta como uma força disruptiva no processo criativo. Com mais de 60 milhões de usuários ativos em ferramentas de IA musical, o público está não só ouvindo, mas também criando e remixando sons com cada vez mais liberdade. Essa democratização da produção aponta para um futuro em que a relação entre fãs e artistas será ainda mais fluida, colaborativa e personalizada — exatamente como a cultura eletrônica sempre propôs.