Clementina de Jesus Clementina de Jesus – foto – divulgação

Relembre 10 mulheres brasileiras que fizeram história na música popular

Maravilha
Por Maravilha

O Brasil é uma terra imensamente fértil musicalmente e uma extensa parcela da história da nossa música foi construída e lapidada por mulheres que, por diversas vezes, promoveram transformações e inovações nas mais diversas formas de expressar sonoridades e emoções por aqui.

Conheça algumas destas mulheres brasileiras, dentre incontáveis talentos, que são responsáveis por obras que marcam a história da música brasileira em diferentes gêneros, linguagens e tempos:

Chiquinha Gonzaga

Nascida no Rio de Janeiro, Chiquinha começou a estudar piano ainda jovem, por incentivo de seu pai, num período em que essa nao era uma pratica bem vista para mulheres. A artista viveu numa época em que estavam se popularizando os ritmos como a valsa, a polka e as modinhas, e isso influenciou suas composições e carreira. No início, ela fazia pequenas apresentações dentro de casa para a família, e em 1858, aos 11 anos de idade, compôs sua primeira musica, Canção dos Pastores.

Em 1877 ela compôs o choro “Atraente”, que foi seu primeiro sucesso. Naqueles anos envolveu-se também com a campanha abolicionista contra a inaceitável forma de trabalho da qual seus ancestrais foram vítimas. 

Em 1885 Chiquinha foi convidada a ser a primeira maestrina mulher no Brasil, o que a rendeu mais admiradores. Dois anos depois, em 1899, viria “Ó Abre Alas”, a primeira marcha feita especialmente para o carnaval.  Chiquinha compôs “Ó Abre Alas” depois de assistir a passagem sob sua janela, no Andaraí, bairro da Zona Norte carioca, do cordão Rosa de Ouro, que ensaiava para o carnaval. Inspirada no balanço da dança criou, naquele fevereiro de 1899, esta espécie de hino e certidão de nascimento do carnaval brasileiro. E também um gênero musical novo, a marchinha de carnaval, que passou a ocupar o lugar das polcas, habaneras, quadrilhas, valsas e mazurcas, que então animavam os bailes de salão.

 

 

Ao longo da vida, que terminou em 28 de fevereiro de 1935, aos 87 anos de idade, ela compôs cerca de 2000 músicas para 77 peças teatrais.

Chiquinha Gonzaga, autora de canções célebres que residem no coração dos brasileiros, teve ousadia para romper tabus e ficou conhecida por levar a música de rua para o ambiente elitizado dos bailes de salão. 

Clementina de Jesus

Sambista fluminense, dona de uma voz inconfundível, Clementina de Jesus marcou a história da música no Brasil. Conhecida como Rainha Quelé, carregava consigo os banzos de seus ancestrais, transformados em cantos, encantos e segredos nos jongos, no partido-alto e nas curimbas que cantava.

Nascida na cidade de Valença (RJ), região do Vale do Paraíba, tradicional reduto de jongueiros, Clementina era filha da parteira Amélia de Jesus dos Santos e de Paulo Batista dos Santos, capoeira e violeiro da região. A pequena Clementina viveu a infância na cidade natal, ouvindo sua mãe cantar enquanto lavava as roupas a beira do rio. Assim foi guardando na memória tesouros que mais tarde gravaria em discos. 

Em 1966, Clementina gravou seu primeiro disco solo, intitulado Clementina de Jesus, com repertório de jongo, sambas e partido-alto. Ao todo a cantora gravou 13 LPs entre álbuns solos e participações em álbuns coletivos, com destaque para o disco O Canto dos Escravos, composto de vissungos da região de Diamantina, recolhidos por Aires da Mata Machado.

Em 1983 houve uma grande homenagem à cantora no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com participação de grandes sambistas como Paulinho da Viola, Beth Carvalho e João Nogueira. No mesmo ano de 1983, foi uma das homenageadas no enredo “A GRANDE CONSTELAÇÃO DAS ESTRELAS NEGRAS”, na Beija Flor de Nilópolis no carnaval do grupo 1A (Grupo Especial) no carnaval do Rio de Janeiro. Enredo esse desenvolvido por Joãozinho Trinta sendo campeã com a escola. Clementina faleceu vítima de derrame em Inhaúma, Rio de Janeiro, no ano de 1987, aos oitenta e seis anos. 

Jovelina Pérola Negra 

Nascida em Botafogo, no Rio de Janeiro, exímia sambista, transformou-se na década de 1980 em uma das principais referências femininas do gênero.

Frequentadora das Rodas de partido alto do Botequim da Escola da Serrinha, no início dos anos 80, participou do Pagode da Tamarineira, no Cacique de Ramos, ao lado de Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Beto Sem Braço, Fundo de Quintal, Arlindo Cruz entre outros grandes sambistas, que faziam parte do então chamado “pagode carioca”, juntamente com a madrinha Beth Carvalho. Sua voz era rouca, forte e imponente, influenciada pelo estilo de Clementina de Jesus e tiéte declarada de Bezerra da Silva.

Versadora sagaz nas rodas e compositora de talento, a artista debutou no mercado fonográfico aos 40 anos com uma participação na coletânea “Raça brasileira”, lançada pela RGE no ano de 1985. Nela, interpretou duas composições que fizeram história: “Bagaço da Laranja”, uma parceria com Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, e “Feirinha da Pavuna”, também de sua autoria. O envolvimento cada vez maior com o samba rendeu-lhe, entre outras alegrias, a produção de cinco LPs. A sua estreia em disco solo deu-se no ano de 1985, pela gravadora RGE, com o LP “Pérola Negra”. Alcione já homenageou a “Pérola Negra” em um de seus melhores discos, “Profissão Cantora”. e lançando seu último trabalho no ano de 1996.

Jovelina é considerada como uma das grandes damas do samba e foi uma das peças mais importantes na condução do samba para a linha de frente da música popular brasileira, ao lado de outros ilustres sambistas como Almir Guineto e do Grupo Fundo de Quintal. Apesar de sua curta passagem pela vida, Jovelina Pérola Negra deixou seu nome escrito no livro das maiores vozes do samba brasileiro.

Catia de França

Catarina Maria de França Carneiro (João Pessoa, Paraíba, 1947). Cantora, compositora, instrumentista, escritora. A artista foi alfabetizada pela mãe por meio de canções. Estudou piano desde os quatro anos, deixando o instrumento aos 15, quando ingressa num colégio interno em Pernambuco. Passa a tocar violão e envereda pela música popular. Aprende também flauta, sanfona e percussão. Em Recife, faz teatro, leciona música e toca em casas noturnas.

Apadrinhada pelo compositor e produtor Zé Ramalho, grava seu primeiro trabalho pela CBS, 20 Palavras ao Redor do Sol (1979), que conta com a participação de grandes artistas da música brasileira Cátia de França cria a partir de colagens de suas referências literárias e musicais. Estas vão da música clássica ao blues. Ela define seu trabalho como popular mundial.

Ao longo de sua trajetória, o ritmo é o aspecto que mais sofre mudanças. A compositora ganha projeção no cenário musical nos anos 1970, junto com outros cantores, compositores e instrumentistas nordestinos que, naquele momento, conquistam espaço na indústria fonográfica do eixo Rio-São Paulo. A tendência em mesclar as referências regionais a elementos do rock e da cultura pop perpassa a obra desses músicos. Vivenciando os desdobramentos da contracultura do final dos anos 1960, estes artistas sintetizam diversas vertentes, passando pelo folk, o baião e o rock psicodélico. Ela se destaca nesse grupo como única mulher que compõe, toca e interpreta as próprias canções.

A artista, que marcou com sua identidade a música dessa terra, recentemente realizou shows em diferentes estados brasileiros.

Anastácia 

Lucinete Ferreira, original de Recife, nascida em 1940, mais conhecida pelo nome artístico Anastácia, é uma cantora e compositora brasileira, mais conhecida como “A Rainha do Forró“. Anastácia teve interesse pela música aos sete anos de idade. 

Autora de “Eu só quero um Xodó” e mais 212 composições feitas em parceria com o sanfoneiro Dominguinhos, com quem foi casada. Domingos acordava cedo, preparava o café, tomava um banho e se sentava com a sanfona no peito. Ligava o gravador e registrava suas ideias. Depois, Anastácia inspirava-se nas melodias e criava as letras. Dominguinhos nunca compôs versos, apenas melodias. A canção “Eu só quero um xodó” segundo a própria Anastácia, foi regravada por 440 artistas em todo o mundo.

Foi ainda indicada ao Grammy, na categoria “álbum de música de raízes em língua portuguesa”, no ano de 2017, pelo álbum “Daquele Jeito” que carrega tons sertanejos e apresenta alguns dos elementos que marcam sua trajetória: belas composições e verdadeiros hinos do cancioneiro nordestino. Responsável por grandiosos hits da música nordestina, Anastacia lançou 28 discos, e continua sua produção fervorosamente, tendo gravado seu primeiro DVD em 2018, trazendo consigo a essência de quem é através das décadas dos seus 60 anos de carreira.

Anastácia como mulher, nordestina, cantora e compositora, é uma peça importante no cenário musical brasileiro, tendo nos agraciado com cerca de 600 belíssimas composições que expressam da melhor maneira possível suas vivências e memórias afetivas.

Lia de Itamaracá

Maria Madalena Correia do Nascimento, a Lia, é cantora desde os 12 anos. Nasceu no dia 12 de janeiro de 1944, na ilha de Itamaracá, Pernambuco. Sempre morou na Ilha e começou a participar de rodas de ciranda ainda criança. Foi a única de 22 filhos a se dedicar à música. Uma das características mais marcantes da obra da artista é a ciranda, que inclui também sambas de coco e loas de maracatu.

A artista é reconhecida como patrimônio cultural de Pernambuco, obteve o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), atuou em produções cinematográficas, como a participação que fez recentemente no filme “Bacurau”, e viajou o mundo levando e difundindo a cultura popular pernambucana. 

Lia lançou 4 álbuns, o primeiro em 1977. A cantora começou a ficar conhecida como Lia de Itamaracá nos anos 1960. Foi fonte de um refrão famoso, recolhido pela compositora Teca Calazans: Oh cirandeiro/cirandeiro oh/ a pedra do teu anel brilha mais do que o sol. A estes versos, Teca incorporou uma toada informativa, que também teve grande sucesso: Esta ciranda quem me deu foi Lia/ que mora na ilha de Itamaracá.  Entre muitas canções, turnes, cirandas e historias, Em 2020, foi homenageada pelo Bloco Afro Ilú Oba De Min, em seu tradicional cortejo de carnaval que acontece em São Paulo.

 

Marina Lima

Marina Correia Lima é uma cantora, compositora e instrumentista carioca, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 17 de Setembro de 1955. Tendo residido nos EUA dos sete aos dezoito anos, aí iniciou sua carreira musical, tocando violão. Sua primeira composição gravada foi Meu doce amor, lançada por Gal Costa em 1977, no LP Caras e bocas; Maria Bethânia quis gravar Alma caiada em seu LP Mel, mas a canção foi censurada por causa do verso “eu não me enquadro na lei”.

Marina foi a primeira artista mulher a assinar um contrato com a gravadora Warner. Em 1979, lança seu primeiro disco, “Simples como Fogo”. Desde então, com uma discografia composta por 21 álbuns, é trilha sonora dos brasileiros de várias gerações.

Com influências que passam pelo pop, rock, blues, bossa-nova e música eletrônica, Marina tem hits como “Pra Começar”, “À Francesa”, “Fullgás”, “Virgem”, “Uma Noite e ½”, “Pessoa”, “Me Chama”, entre tantos outros, tendo também publicado um livro, o Maneira de ser.

Sharylane

Sharylaine Sil é a pioneira do rap feminino em São Paulo, capital, sétima cidade mais populosa do mundo. Foi ela quem montou o primeiro grupo formado só por mulheres, em 1986, o “Rap Girl’s” e participou da “Coletânea Consciência Black Vol.1”. 

O hip hop da Zona Leste, onde nasceu, conta há mais de três décadas com as suas rimas.  Ela criou e consolidou o Fórum Nacional de Mulheres do Hip Hop e vem construindo e consolidando a atuação da mulher nesse gênero musical predominantemente masculino.

Como rapper, cantora, compositora, arte-educadora, produtora cultural, ativista cultural, social e política, Sharylaine é referência na luta contra o machismo e o racismo, realidades que se apresentam como os principais desafios das mulheres negras que fazem arte na periferia da cidade.

Suas composições abordam, ainda, o feminismo e a valorização da identidade de quem vive longe dos centros urbanos, nas bordas da capital.

Dina Di 

Dina Di, nome artístico escolhido por Viviane Lopes Matias, adentrando a cultura hip hop com apenas 16 anos, foi uma das pioneiras do rap nacional ao lado de outras MC’s como Sharylaine, Rúbia e Cris SNJ. Nascida em Campinas, ela integrou o grupo Visão de Rua e colecionou sucessos como “Marcas da adolescência”, “Meu filho, Minhas Regras”, “Mente Engatilhada” e “A Noiva do Chuck”. 

No grupo Visão de Rua, ao lado de Lauren, Tum e DJ O.G, Dina Di lançou sua primeira música em 1994, intitulada “Confidências de uma presidiária”, é um relato da rotina no sistema carcerário feminino. Depois de ser detida e conhecer a realidade nas prisões, Dina Di usou a música como ferramenta de transformação social. 

Dina Di amplificou com sua voz debates antes ocultados na cena nacional, como a experiência da mulher periférica, mãe e MC em um país que desde seus primórdios sucateia a cultura e deslegitima todo tipo de arte produzida pelas periferias e pelas mulheres. As narrativas de Dina também denunciavam desigualdades sociais e revelavam fases distintas de sua vida fora dos holofotes. Uma das grandes mensagens deixadas por Dina Di é o ensinamento sobre a importância de se ter coragem para protagonizar a sua própria trajetória.

Margareth Menezes

Margareth Menezes, Salvador, 13 de outubro de 1962, é uma cantora, compositora e ex-atriz brasileira. Ainda pequena, Margareth, começou a cantar no coral da igreja local e, após conhecer Silas Henrique inicia sua carreira artísticas, inicialmente como atriz, ganhando em 1985, o prêmio de “melhor intérprete”, em “Banho de Luz“. Posteriormente, a cantora começou a se envolver com a música, apresentando-se em bares da cidade, até que é ovacionada por um público de 1 500 pessoas, ao lado da Orquestra do maestro Vivaldo da Conceição.

Em 1987, grava o seu primeiro single, lançado como LP, ao lado de Djalma de Oliveira, “Faraó (Divindade do Egito)“, vendendo mais de 100 mil cópias. Após isso, Menezes lança quatorze álbuns, sendo que dois desses, Ellegibô e Kindala, alcançaram o topo da Billboard World Albums, enquanto Pra Você e Brasileira Ao Vivo: Uma Homenagem Ao Samba-Reggae, receberam indicações ao Grammy Latino e Grammy Awards, respectivamente. Lançou Naturalmente Acústico em 2010.

Margareth conquistou dois troféus Caymmi, dois troféus Imprensa, quatro troféus Dodô e Osmar, além de ser indicada para o GRAMMY Awards e GRAMMY Latino.

A cantora, que soma 21 turnês mundiais, ainda lidera o bloco sem cordas “Afropop”, que visa preservar e promover a cultura afro-brasileira. A cantora leva seu trio elétrico há anos as ruas de Salvador num dos carnavais mais tradicionais e celebrados no Brasil.

Em 2018 a artista comemorou 30 anos de carreira e atualmente está a frente do ministério da cultura como ministra.

 

Tati Quebra Barraco

Tatiana dos Santos Lourenço (Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1979), mais conhecida como Tati Quebra-Barraco, é uma cantora e compositora brasileira de funk carioca, reconhecida como uma das pioneiras no gênero musical e uma das principais expoentes do estilo da sua geração.

Tatiana nasceu e cresceu na periferia do Rio de Janeiro, na favela da Cidade de Deus. Se hoje o funk conquistou o país, deve-se, e muito, a Tati Quebra Barraco. Com suas letras afrontosas, a carioca prenunciou a onda de empoderamento feminino que ganhou força nos últimos anos. Tratando de temas como libido, independência e amor próprio, sempre batendo de frente com os padrões de comportamento e beleza impostos, a cantora tornou-se um ícone na música e cultura brasileira nas últimas décadas, abrindo caminho para muitas cantoras que hoje continuam difundindo o funk no Brasil e no mundo.

Entre seus maiores sucessos, estão as canções “Boladona”, “Desce Glamourosa”, “Sou Feia Mas Tô na Moda” e “Dako é Bom”. Em 2014, lançou o primeiro videoclipe oficial de sua carreira, intitulado “Se liberta”. 

Seu DVD, chamado “Tati Quebra-Barraco Ao Vivo”, ganhou o prêmio “DVD de Ouro. A cantora, que tem projeção internacional, já fez diversos shows no exterior. Entre os países que ela se apresentou estão Alemanha, Suíça, Holanda e Estados Unidos.

 

Maravilha

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Maravilha é uma artista-multimídia, musicóloga, DJ, compositora, produtora musical e arte-educadora carioca radicada em São Paulo. Aqui no portal escreve e reflete sobre arte, música brasileira e toda a sorte de grooves. É também fundadora da Tremor Produtora.