music non stop

Relato de um domingão em São Paulo regado a música na sala, só que com Peter Buck, do R.E.M., e Barrett Martin, do Screaming Trees!

TEXTO E FOTOS LUIZ PIMENTEL

É o maior clichê da cultura brasileira, mas é fato: “O descaso com a própria história é o fator mais forte da música brasileira”. Tudo bem que estamos enfrentando há bem uns seis anos uma tentativa governamental de dilacerar a cultura no país, e essa é a briga principal. Mas ficou evidente para mim o descaso ao encontrar dois ícones da música, o baterista e hoje produtor e etnologista musical Barrett Martin (Screaming Trees e Mad Season) e o guitarrista e produtor Peter Buck (R.E.M.) na casa da amiga Anna Butler (ex e eterna chefe da MTV Brasil) no domingo (21).

Dá uma olhada no currículo dos caras e perceberá que o que menos precisam numa altura dessas é visitar outros lugares e descobrirem sons novos. Tudo bem que estão no Brasil para se apresentarem com Nando Reis no Blue Note, em São Paulo, nesta quinta (25). Só que os caras não vieram simplesmente a passeio, mas sim encampando uma eterna tour de descobertas musicais. Tanto que junto à dupla viaja um fotógrafo a registrar as passagens.

Como estava junto a outro músico e historiador, Fábio Cascadura, que mora e faz doutorado no Canadá em estudos africanos, peguei carona nas bagagens deles e me meti no bate-papo mais revelador do clichê que abre este texto.

O jornalista e escritor Luiz Pimentel com Peter Buck (R.E.M.) e Barrett Martin (Screaming Trees). Foto acervo pessoal.

A bola pingou em sons africanos, orixás e logo Barrett Martin estava dissertando sobre os vários toques de percussão que remetem a orixás, os quais estudou em Cuba. Para contextualizar sem soar professoral, na América Central temos o vodu de origem africana que permeia mais Haiti e outros locais, e o orixá parelho ao brasileiro, de Cuba (pelo que depreendi, que fique claro, pois especialistas são eles).
Como a sala estava coalhada de músicos, já pintaram violões e o restante a fazerem as devidas marcações.
Peter Buck é mais low profile nessa parte. A cognição dele na conversa é mais voltada à abordagem melódica e rítmica.

Como de cabeça lembro de dois shows, pelo menos, do R.E.M. no Brasil (2001 no Rock in Rio e 2008), tive a curiosidade de perguntar se ele notava diferença nas pessoas e no clima, dada a continuação da minha teoria do ataque à cultura do país recente e consequente entristecimento coletivo.

Ele me falou que notou bem isso no governo Trump, fez a exata comparação com o governo atual brasileiro, mas disse que por circular bem mais numa camada musical e artística e menos no dia a dia da população, não fica tão perceptível.

Ah, vale apontar que a conexão dos dois – Barrett e Buck – remete a 1996, quando montaram o supergrupo Tuatara, que gravou nove álbuns até 2014. E vale apontar que, mesmo tendo feito parte e sendo ainda a elite da música mundial, os dois conservam o olhar de descoberta e genuína admiração por sonoridades novas que lhes são mostradas como nesse exemplo do B Negão cantando Dorival Caymmi, e a posterior explicação sobre origens do samba e como a bossa nova virou posteriormente uma chave…mas acho que você entendeu já o ponto deste texto.

 

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