Reinado da pioneira Sonia Abreu segue vivo com DJs mulheres
Sonia Abreu, a primeira mulher DJ do Brasil, que saiu de cena na segunda (26), aos 68 anos, não teve vida fácil. Foram muitas aventuras e lutas. Em um meio machista – e qual não é? – se impôs e foi reconhecida. Era a rainha. Seu maior legado foi nunca ter parado no tempo. Não será apagada ou esquecida.
“O tempo é o tempo todo”, gostava de repetir. Sonia soube surfar as ondas boas. Quando elas não vinham, remava com a mesma alegria e otimismo. DJs são bruxas, você não duvida que “mistério sempre há de pintar por aí”, citando Gilberto Gil, quando uma DJ salva a sua vida em um buraco escuro, em uma cidade do Quarto Mundo.
Para quem amava a música em primeiro lugar, o silêncio soa como uma moldura para as sonoridades que ela difundiu. Rock, reggae, música brasileira, música do mundo, pop, Sonia nunca deixou a pista parar. Comandava corpos e almas.
Em Ondas Tropicais – Biografia da Primeira DJ do Brasil (Matrix), de Claudia Assef e Alexandre de Melo, Claudia, que é DJ e jornalista, escreve na introdução: “Sou grata pelos ensinamentos, por cada vidro que ela quebrou com as mãos desnudas para abrir caminho aos novatos. Sim, essa mulher sangrou muito para que chegássemos até aqui. Outra coisa que admiro muito é que ela é do tipo que pouco olha para trás. Não por falta de orgulho dos seus feitos, ela sabe bem as linhas que escreveu na história”.
Se vai a rainha. Não haverá outra, mas seu reinado vive em centenas, talvez milhares de mulheres DJs. Elas não acreditam em contos de fadas e ainda sangram, mas sabem que a primeira vidraça foi estourada por Sonia Abreu e honram o seu legado.