
Icônico álbum de estreia dos Ramones completa 49 anos
Em 23 de abril de 1976, Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy Ramone lançavam o disruptivo Ramones 1976
Dia 23 de abril de 1976, as lojas de disco de Nova Iorque abriam suas portas pela manhã com uma novidade na vitrine. Na capa, uma das plasticamente mais belas fotos da história do rock, infinitamente copiada: quatro garotos cabeludos usando tênis puídos e jaquetas de couro pretas. O mais alto da turma exibe, orgulhosamente, um buraco na calça, à altura do joelho. Em letras garrafais, acima dos garotos, o nome de uma banda que era a sensação no circuito underground de Nova Iorque: Ramones.
Os primeiros sortudos que compraram o disco, ao colocarem para tocar na vitrola, aprenderam a lição. Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy Ramone pegaram suas coleções de vinil de bandas femininas de soul, como The Ronettes e The Supremes, de rock’n’roll clássico como Chuck Berry e Little Richard, jogaram em um liquidificador e tritutaram tudo. Usaram o pó triturado para cunhar uma música rápida, visceral, com som de serra elétrica musical, e ajudaram a inventar a sonoridade punk.
O disco Ramones 1976, como é normalmente chamado entre os colecionadores, trazia encarcerado em bolacha 14 músicas perfeitas para o que desejavam transmitir. As letras (assim como se seguiu em toda a carreira do grupo) eram de uma pobreza juvenil, com poucas excessões — no caso do álbum de estreia, 53rd & 3rd e Chain Saw. E até nisso os malucos foram disruptores. Os quatro dividiam o palco com gente do naipe de Patti Smith, David Byrne e Lou Reed. Se não não dava para disputar com eles em poesia, bora falar de filmes de terror, quadrinhos, Segunda Guerra Mundial e demais “today tonight”, que fizeram de suas canções tão fáceis de cantar.
Mas os caras tinham outras qualidades, que permitiram ao mundo deixar de lado os versos pueris. Joey Ramone já se mostrava um dos maiores vocalistas de sua era, com um timbre de voz simplesmente inimitável. A banda também inovou na estética. Nada de adereços andróginos e sapatos plataformas de seus contemporâneos MC5, New York Dolls, The Stooges e David Bowie. O bagulho era cru, como sua música: tênis furados, calças rasgadas, camisas que mal cobriam a barriga e, de estiloso mesmo, salvava-se apenas a jaquetona. E mesmo sem se dar ao trabalho de trocar a roupa que usam para dormir, tinham o charme sujinho que os fez uma das bandas mais sexys da geração CBGB, berço do punk.

O que muita gente demorou a atender, tamanho o barulho de suas apresentações, era que os Ramones eram apenas uma banda de apaixonados por rock’n’roll. A quarta faixa do disco é uma doce balada com o refrão “sweet little girl, I wanna be your boyfriend”. A bateria, funky, dançante em todo o álbum. Um som de festa.
Eles eram diferentes do que existia na cena nova-iorquina, justamente por ser absurdamente mais simples. Quando Lisa Robinson, editora da revista Hit Pareder que hoje em dia comanda a publicação de moda Vanity Fair, sentiu o charme sujo dos quatro garotos, passou a “trabalhar” em prol da banda. Escreveu vários artigos sobre eles em sua revista e convenceu o amigo Danny Fields a empresariá-los. Fields, por sua vez, insistiu para que o produtor musical Craig Leon aceitasse produzir uma demo dos Ramones. E Leon, seguindo a corrente pró-Ramone nova-iorquina, convenceu o empreendedor Seymour Stein a lançar o disco de estreia por sua gravadora, a renomada Sire Records.
Se Stein ambicionava fortunas com os Ramones, não deixava transparecer. O álbum foi gravado com orçamento pífio e em apenas seis dias. Roberta Bailey, fotógrafa da Punk Magazine, também recebeu uma merreca para produzir um dos cliques mais icônicos da história do rock’n’roll, até hoje estampada em milhões de camisetas. A falta de investimento da gravadora se refletiu em prejuízo a curto prazo. O disco vendeu pouco, mas foi ovacionado pela crítica dos Estados Unidos. Stein se tornou fã do grupo, ficando com os Ramones por praticamente toda a sua carreira.

Ramones 1976 é um disco que todo mundo ouve até hoje. É impossível de enjoar. E embora a banda tentasse se distanciar de sua sonoridade por diversas vezes ao longo da carreira, tatuou em Joy, Johnny, Dee Dee e Tommy um padrão musical único. O som dos Ramones, um dos mais copiados em toda a história do rock.