Quinze anos de As Árvores Somos Nozes: conheça a história de um dos maiores hits da internet brasileira, que vai virar NFT
O que era para ser um CD de auto-ajuda evangélico acabou virando um dos maiores hits da internet brasileira. O vídeo As Árvores Somos Nozes, que completa 15 anos de vida na internet nesta segunda (20), nasceu de uma zoeira entre duas amigas VJs, ganhou o mundo e, em outubro, vai virar NFT.
Alerta para quem nunca assistiu (vai que tem alguém que nunca viu) e hoje passa o dia vendo memes e dancinhas na internet; as Árvores pode até parecer longo e lento, mas, na época em que foi lançado, virou uma febre incontrolável, as pessoas não conseguiam parar de compartilhar, assistir e falar na língua “arvorêz”. Confesso que fui uma das arrebatadas por este meme e quando menos percebi já havia incorporado “somos nozes” ao meu vocabulário. Lembrando que, 15 anos atrás, a internet era praticamente um mato, onde não existiam termos como redes sociais e aplicativos.
Assista ao meme As Árvores Somos Nozes no canal original de sua publicação
A ORIGEM DAS NOZES
Tudo começou, 15 anos atrás, quando a produtora audiovisual Gabo Nunes e a cineasta Roberta Cunha, que na época eram sócias, foram fazer uma visita ao estúdio do produtor musical Rafael Altério, no interior de São Paulo. Lá, foram apresentadas a um áudio bem peculiar; era um típico “lixo de estúdio”, resultado da tentativa de gravação do CD de Zé Maria, um empresário que, por ser muito religioso, investiu dinheiro para gravar um álbum de músicas evangélicas. A frase: “O jardineiro é Jesus, e as árvores somos nós” fazia parte de seu repertório e nela o aspirante a cantor empacou por mais de três minutos, dando origem ao áudio “mãe” do primeiro grande meme do Brasil.
Após ouvirem a pérola apresentada, seguida de muitas gargalhadas, elas decidiram criar uma animação que fizesse jus ao som, que fosse divertida e coubesse no tema do festival para o qual faziam curadoria na época, o “Quick Flick World”. O tema era “Pênalti”, e a frase de Zé Maria foi analisada como penalidade máxima da língua portuguesa, caindo assim como uma luva para o festival.
A ideia inicial era exibir o vídeo apenas no evento, para um grupo pequeno e seleto de amigos, mas, naquela época, estava nascendo um tal de YouTube… então por que não inseri-lo também lá? Assim nascia um dos primeiros memes queridinhos do Brasil.
O vídeo teve mais de 4 milhões de visualizações na página oficial, mas se espalhou pela internet e virou um pouco de tudo: música, cartoon, remix, jogo de tabuleiro, foi parar na série americana de animação (Des)Encanto, do mesmo criador de Os Simpsons e também na campanha contra desmatamento do GreenPeace.
Também apareceu em diversos programas de TV e plataformas online, foi tema de entrevistas e matérias de Jô Soares a Fátima Bernardes, indicado ao Prêmio VMB, virou comercial de banco e de agência de publicidade, além de, principalmente, ter virado parte do vocabulário de muitos brasileiros (se você já respondeu afirmativamente com um “é nozes”, saiba que você foi contaminado pelo meme). Hoje numa busca no Google com o bordão “somos nozes” é possível chegar a mais de 1.700.000 resultados.
Criar os desenhos das árvores foi a coisa mais descompromissada do planeta. Estávamos em casa ainda impactadas com o conteúdo do áudio que havíamos recebido e, entre uma gargalhada e outra, eu ia desenhando e criando os elementos gráficos. Nunca imaginei que daquela bobagem nasceria um super hit da internet. Aliás, a gente mal sabia o que era isso, ainda não existia esse universo de memes atual. Quando a coisa estourou entramos em choque, todo mundo falava ‘somos nozes’, teve uma vez que ouvi essa frase na fila de um passeio turístico em Bonito, no Pantanal! A gente tinha perdido o controle, as árvores já tinham dominado o Brasil! – conta Roberta Cunha, uma das criadoras.
Sua então sócia, Gabo Nunes, acreita que As Árvores se tornou muito mais que um meme. “Se tornou um conceito de vida x meio ambiente, ao qual devemos nos atentar. Fazer parte disso foi um presente que a vida me deu. Uma brincadeira que hoje faz parte do inconsciente coletivo de toda uma geração. Somos nozes!”, brinca a ex-VJ, que atualmente trabalha produzindo séries.
NFT, a bola da vez
Para celebrar os 15 anos de lançamento do meme, as diretoras Roberta Cunha e Gabo Nunes se juntaram ao estúdio criativo Menta Land e à Dux Cripto, holding brasileira focada no mercado de criptomoeadas, para criar uma ação em NFT (token não fungível) que irá culminar com a venda do meme. Parte da verba arrecadada com a comercialização do meme será revertida para uma associação ambientalista sem fins lucrativos que tenha como objetivo a proteção da Amazônia. O projeto tem lançamento previsto para o início de outubro.
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Mas como se vende um meme, se ele está por toda a parte na internet? Um NFT é simplesmente um registro de quem possui um conteúdo exclusivo – prova de propriedade, que você não pode falsificar porque está armazenado no blockchain Ethereum, que é plataforma onde se armazenam contratos de criptomoeda como o NFT. Isso permite que os artistas criem obras de arte raras, cujo valor está enraizado na escassez (ou seja, quanto menos cópias, mais valioso). Em resumo, os NFTs representam a propriedade de produtos digitais, como uma cópia original de uma música ou arte. Os NFTs também podem registrar quem possui um produto físico, como uma mercadoria ou um teste de prensagem de um vinil raro.
“A vontade de transformar As Árvores em NFT veio da possibilidade de um meme conseguir dentro do mundo digital arrecadar fundos. O Brasil de hoje enfrenta sérios problemas ambientais e nossa maior vontade é ajudar alguma ONG do segmento e poder contribuir com a melhora desse cenário triste”, diz Roberta.
Para quem ficou interessado em acompanhar o desfecho de As Árvores no formato NFT, a dica é seguir o Instagram do estúdio que irá realizar o leilão. Boa sorte. Somos nozes.