O Festival Psicotrópicos celebra a cena da música brasileira em Berlim com dois dias de festa. São quatro palcos, mais de 50 artistas nacionais, como Liniker, Tássia Reis, Filipe Catto, NOPORN, Deize Tigrona, Bala Desejo, Anderson Noise e Ella de Vuono.
Berlim tem uma cena cultural brasileira efervescente bem especial. São vários os artistas que atravessam o oceano em busca de mais espaço e oportunidades para colocarem seus projetos artísticos na rua. Músicos, artistas visuais, DJs, produtores musicais, escritores, poetas, performers, atrizes, dançarinos, diretores de filmes…. a lista é longa! Todo mundo buscando o seu lugar ao sol por aqui.
Desde que me mudei para cá, passei a ter as triviais vontades de quem vai embora do país. A música brasileira, que passou a ocupar mais espaço nos meus ouvidos, me deixou ansiosa por mais shows ao vivo. Mas também pudera, hoje no Brasil assistimos a ascensão de festas e festivais dedicados à música produzida nacionalmente.
Mas, felizmente a comunidade brasileira local, que é grande e criativa, está sempre dando um jeito de suprir essas vontades. Qual foi a minha surpresa quando cheguei por aqui e me deparei com um festival totalmente dedicado à música brasileira.
O carioca Rodrigo da Matta tem olhos e ouvidos apurados. Além de músico e DJ, ele é um baita produtor e está sempre satisfazendo um pouco os nossos sonhos através de projetos que celebram a cultura brasileira em Berlim. Em 2016, ele e a brasileira Daniela Cantagalli se juntaram para criar a Bossa.FM, uma agência que dá visibilidade para artistas brasileiros na capital alemã e em outras cidades europeias. Não há um mês do ano que eles não tenham algum projeto rolando.
O Psicotrópicos foi lançado pela dupla em Berlim em 2018 e chega em 2023 numa edição maior de dois dias, agora com uma programação dedicada à música eletrônica e outra de performances de drag queens. O line-up é também de gente grande. E, não poderia ser diferente, mas a curadoria do festival prima pela diversidade e inclusão.
O festival é um caldeirão multicultural e sonoro para agradar a todos os gostos. Rola do pop, jazz, baile funk e afrofuturismo à nova bossa nova, carimbó, cúmbia, música eletrônica e hip hop, com artistas vindo de diversos cantos do Brasil.
Eu tive a honra de ser convidada para ser co-curadora de música eletrônica. Coloquei nessa lista o NOPORN, uma das minhas duplas brasileiras favoritas de todos os tempos, que sempre coloca a pista abaixo em suas apresentações. Na última passagem por Berlim, na turnê do álbum “Contra Dança”, o duo lotou uma das pistas do Berghain e botou todo mundo para dançar. Convidei também a DJ Laura Vasconcelos, uma grande pesquisadora de música, que faz um dos meus sets de house e disco favorito. Não existe a Laura comandando as pickups e alguém não dançando na pista. Também escalei a produtora, DJ e grande pesquisadora musical Ella de Vuono, que faz sua primeira turnê europeia – e as primeiras vezes a gente sabe que pode ser inesquecível, tanto para quem toca, quanto para quem está na audiência. E, claro, como não poderia deixar de aproveitar a passagem do Batekoo pela Europa e trazer o MU540 para botar fogo na pista.
Destaco também o produtor de música eletrônica Ain the Machine, literalmente uma máquina que transforma em som tudo o que coloca nas mãos. Em Berlim, ele está sempre parando o trânsito com suas apresentações bem únicas.
O primeiro dia do festival é uma edição mais curta. Eu destaco a Sanni Est, performer e artista transmídia brasileira radicada em Berlim, que recentemente arrematou o prêmio “Artista do Ano”, pela Deutscher Jazz Preis’23; a Liniker, artista que dispensa apresentações e é provavelmente um dos nomes mais esperados desta edição do festival. A noite se encerra com o Bailee, a pista funk carioca em Berlim, numa festa madrugada adentro.
Já o segundo dia tem uma chuva de destaques: Tássia Reis, Deize Tigrona, Bala Desejo, Bruno Capinam, Filipe Catto, Jonathan Ferr, Felipe Cordeiro e, quem encerra a grande festa é o mestre Anderson Noise.
O Psicotrópicos acontece nos próximo fim de semana, nos dias 14 e 15 de julho, no Festsaal Kreuzberg, em Berlim. Para comprar ingressos aqui.
Eu admiro demais o trabalho do Rodrigo e da Dani, porque colocar um festival de música em pé é um grande desafio, já colocar um festival de música desse porte, totalmente focado na música específica de um país, como o Brasil, num outro país, como a Alemanha, é um desafio ainda maior.
Que abram as alas porque eu quero dançar!
*Foto destaque: Deize Tigrona por Pedro Pinho