Produtora e DJ Érica Alves, um dos nomes que a gente adora da eletrônica nacional, tá a mil: assista ao novo clipe antes aqui

music non stop
Por music non stop

TEXTO STEFANIE GASPAR

Cantora e produtora musical, Érica Alves está a todo vapor em 2018: além de uma agenda de shows movimentada pelo Brasil, a festa NUA e seu trabalho com a Baphyphyna Radio Show na Reform Radio, na Inglaterra, a artista lança agora com exclusividade aqui no Music Non Stop o clipe de Manifesto, de seu disco Beautiful.

Dirigido por Liv Massei, o clipe foi gravado em Berlim e faz um contraponto à sexualidade do corpo nu de homens e mulheres na arte e na indústria mainstream. O movimento livre dos corpos e dos indivíduos em meio a natureza registra um lado mais espontâneo e fluido da expressão artística, simbolizando liberdade tanto na música quanto no cotidiano.

Conversamos com Érica e Liv sobre o processo de criação do clipe, política e projetos futuros para 2018. Dá uma olhada no nosso papo e assista ao clipe com exclusividade:

Music Non Stop – Por que escolheu Berlim para rodar o clipe?

Érica Alves – Na verdade, foi Berlim que me escolheu! Conheci Liv Massei em 2016, quando fui passar uma temporada de 40 dias na cidade, e nos tornamos amigas rapidamente. Temos muitas coisas em comum e ela se ofereceu para dirigir um clipe meu e acabamos mobilizando os amigos de lá, foi muito lindo ver isso acontecer. Fico muito agradecida mesmo pelo apoio! Achei a Manifesto a faixa mais “Berlim” do álbum, por ela ser mais desconstruída, experimental e evocar um futuro, uma utopia em meio a sons distópicos, distorcidos.

A letra é um manifesto político que captura muito bem o momento que estamos vivendo. O fato da letra ser em inglês porém pode deixar a mensagem passar, pelo menos para os brasileiros. Como trabalhar essa questão?

A questão da língua sempre surge pra mim, porque afinal moro no Brasil e aqui se fala português, né? Tento não ficar me justificando muito, porque não acho que a música precise se comunicar através das palavras. O Brasil sempre ouviu muitas línguas diferentes. Esse projeto foi feito para dialogar com o mundo, a partir de uma voz migrante, uma identidade multinacional, multirregional, mutante. Tento não ter apego a qualquer resultado do meu trabalho ou das coisas que digo. Jogo pro universo e a graça tem sido ver o que o universo me joga de volta 🙂

Music Non Stop – Liv, você fez um contraponto à letra trazendo a nudez de pessoas diversas na natureza, conte um pouco sobre seu processo criativo na criação do roteiro.

Liv Massei – A escolha do roteiro foi discutida entre eu e a Érica e também a escolha da participação do amigos da Érica que moravam em Berlin, já que queríamos fazer um trabalho colaborativo. Na letra, Érica fala de um Manifesto, da obsessão das pessoas por uma arte coerente, com sentido fechado, da noção de pecado sendo aplicada ao mundo da arte, da normatização da arte. Queríamos rebater isso com o natural, porque para nós a natureza em si já representa a arte, como também é uma grande inspiração na arte. Na natureza encontramos padrões, formas, cores, a natureza nos coloca em contato com o mais verdadeiro e real, com nossas raízes, e ao conectarmos com a nossa essência não vamos em busca desse ideal normativo de arte. A nudez foi um lance importante por ser representada no clipe como algo puro, como a cor branca na roupa dos outros dançarinos. Dentro da nossa sociedade a nudez é censurada por representar algo sexual, aqui queríamos transmitir a nudez como liberdade, e buscamos encontrar mais variadas pessoas porque queríamos corpos fora do padrão. O clipe seria um chamado a se liberar, se deixar levar pelo que você acredita, assim como o conceito do álbum todo, que na capa a Érica já está nua. No roteiro não tínhamos um coreógrafo, as pessoas estavam livres e soltas na natureza explorando a sua própria arte, não eram todos bailarinos.

Music Non Stop – Érica, você já circulou um bocado: morou nos EUA, em São Paulo, voltou pra Niterói. Você acha que os lugares por onde você passa vão mudando a forma de compor?

Érica Alves – Com certeza cada lugar que vivi deixa uma marca na forma de pensar, agir e consequentemente compor. Porém, existe algo que permanece independente de onde eu estiver, que é a busca pela minha essência como criadora, tarefa para toda a vida.

Music Non Stop – Toda forma de arte é um ato político. Você tem projetos para este ano que promete ser bem cheio de emoções política e economicamente falando?

Érica Alves – Sim! Esse ano vou lançar algumas faixas em coletâneas bem bacanas. Estou fazendo diversas pesquisas que darão num projeto totalmente novo. Estou super animada.

Music Non Stop – Agora uma questão sobre mulheres na música: com os movimentos recentes que tivemos, festivais e premiações, você acha que houve uma melhora no que tange ao espaço ocupados por mulheres nos diferentes âmbitos da música?

Érica Alves – Certamente vejo uma diferença em relação ao cenário de quando começamos nosso movimento em 2015. Nossa visibilidade aumentou e vejo como isso tem impactado vidas de mulheres em torno da nossa cena. No entanto, isso não significa que o trabalho acabou. O trabalho de mulheres tem que ser permanente, porque os moldes patriarcais da sociedade são muito fortes e inconscientes. Se relaxarmos, tudo volta num piscar de olhos. O que mais tem me animado é o Coletivo UNA e a festa NUA que venho organizando junto com Ananda Nobre para contemplar as mulheres da música eletrônica “fora da curva” no Rio de Janeiro. Fizemos já duas edições, e a última foi um sucesso! Vamos plantando as sementinhas e vendo no que dá! Temos grandes planos para o futuro 😀