Seu Osvaldo, o primeiro DJ do Brasil e criador da Orquestra Invisível, está na ativa aos 86 anos, mostrando que disc jockey é mesmo como vinho. Só melhora. Relembre o dia em que o Music Non Stop deu um rolê pelo centro de São Paulo para acompanhar o garimpo de disco do mestre.
Não é todo dia que a gente pode ouvir lições de vida de um mestre como Osvaldo Pereira. Seu Osvaldo para os chegados. Ele é uma das figuras mais importantes da música brasileira porque foi o primeiro DJ em nosso país, onde abriu os trabalhos de bailes mecânicos no longínquo ano de 1958.
Do alto dos seus 86 anos (82 no dia do passeio) , Seu Osvaldo deveria receber uma placa da ONU, do livro dos recordes ou o diacho que for por sua disposição e bom humor inigualáveis. Ele ainda está na ativa bombando pistas de bailes por aí.
Seu Osvaldo e a Orquestra Invisível
O patriarca da família Pereira topou fazer um rolê pelo centro de Sampa para mostrar onde compra seus vinis e equipamentos, além de contar uma boa nova: vem aí um novo filme contando as suas origens em Muzambinho (MG) e um pouco do legado da lendária família Pereira, que hoje contabiliza mais de 30 DJs no clã, entre eles o DJ Grandmasterney. Com direção de Alice Riff, o curta Orquestra Invisivel Let’s Dance estreou no Festival de Tiradentes (MG) em 2016.
Aí o rolê foi o seguinte: combinei com o seu Osvaldo e meu brother Douglas Siqueira de nos encontrarmos em frente da Galeria do Rock, centro de sampa, 17h. Era uma quinta-feira suave para dar umas pernadas, porque não estava um calorão.
A ideia era fazer o rolê que o Seu Osvaldo faz normalmente e comprar três vinis: Criolo, da nova geração de artista que fazem questão de lançar em vinil, Henry Jerome e sua Orquestra e seus clássicos Metais em Brasa, porque a turma cobra essa pegada nas apresentações do seu Osvaldo e, por fim, e um disco da diva Elza Soares, para dar de presente.
17h10 Loja Barato Afins
Na primeira parada saímos do roteiro que normalmente o seu Osvaldo faz. Já que estávamos na Galeria do Rock, propus que a gente começasse pela pioneira loja Baratos Afins. Osvaldo sorriu, olhou para minhas calças vermelhas e camisa da Tropicália e disse: “Ótimo, Alexandre! Vamos aproveitar que você já está na ‘beca’ adequada”. Risos.
Seu Osvaldo sempre se veste de forma elegante e discreta. Ele estava de camisa cinza claro, calça e sapato social. Aquele entra e sai de jovens com piercings, tatuagens, coturnos e roupa predominantemente preta despertou curiosidade, e ele topou conhecer a Barato Afins.
Entramos na cultuada loja da Galeria do Rock ao som de David Bowie que havia partido naquela semana. Um garoto procurava um vinil do Slayer.
Vamos combinar, Seu Osvaldo é mega eclético e curte rock, mas ali ele não estava em seu ambiente natural.
Mesmo assim, fomos muito bem atendidos e encontramos os vinis que procurávamos, menos o bolachão do Metais em Brasa.
Compramos um vinil do Criolo por R$ 50. “Para quem procura as preciosidades do rock, aqui me parece uma boa”, concluiu seu Osvaldo.
É comum encontrar Pitty, IRA!, Cachorro Grande, Nando Reis e muitos outros roqueiros comprando CDs e vinis na Barato Afins.
Rave do pó colorido com o pioneiro
Na saída, empolgado com a Galeria do Rock, Seu Osvaldo disse que adora conhecer coisas novas. Em novembro do ano passado, em Jundiaí (SP), ele foi convidado para fazer uma participação em uma rave daquelas com talco colorido. “A moçada começou a jogar o talco e dançar, e eu fique boquiaberto com o colorido. Não jogaram em mim por respeito, mas achei muito divertido. Quem sabe eu não faça uma festa num lugar roqueiro também qualquer dia”, conta o animado senhor Osvaldo. Pensem o que não seria uma festa eletrônica ou roqueira com o Seu Osvaldo e talco colorido? 😀
17h40 Parada para comprar agulha de vitrola no Gringo
“Eu coleciono vinil um pouco por conta do glamour e porque o jeito de ouvir é diferente. Meus filhos relatam que sabem de cór muitos álbuns porque aprenderam comigo a ouvir as músicas inteiras dos dois lados e com o som grave do vinil”, conta Seu Osvaldo. “Mas o que importa é a música. Peço para amigos fazerem coletâneas em CD, ouço streaming, Serato e várias mídias”, diz em sua voz baixinha e vocabulário rebuscado particulares.
Depois de uma paquerada em fones, CDJ e mixer, voltamos à busca por vinis.
18h20 O velho parceiro Tony Hits
Na loja do velho parça DJ Tony Hits, seu Osvaldo fica à vontade. Juntos já fizeram muitos bailes e dividiram pick-ups. Hits tem uma loja com acervo de vinil dos mais variados gostos, mas em especial para a galera que curte nostalgia anos 70/80. Para o nosso pedido de Elza Soares, Hits nos mostrou dezenas de opções.
“O Osvaldo tem um pique muito bom. Eu estou diminuindo um pouco meu ritmo para festas, mas o Osvaldo, não. Quantas vezes chamá-lo para tocar, ele vai alegre”, conta.
Por onde passa na 24 de Maio, seu Osvaldo é cumprimentado. Ali, ele é uma referência. No meio dos vinis de jazz na loja do Hits, eu e Douglas reparamos que seu Osvaldo parece uma criança no playground. Levamos a bolacha Elza Soares & Miltinho – Ao Vivo por R$ 30.
18h50 Gordo achava que nunca mais iria vender vinil
Na loja do lado, batemos longo papo com o Gordo, outro amigo do Seu Osvaldo. “Eu juro que acreditei que não iria mais vender vinil. Que estava destinado a acabar mesmo. De repente, voltou e voltou com tudo. Aqui na minha loja, vem mais a turma das antigas que quer um Pink Floyd, um disco de samba-rock. Mas a molecadinha redescobriu o vinil, sem dúvida”, analisa Gordo.
Em sua loja, compramos o vinil Metal em Chamas, de Henry Jerome e sua Orquestra, por R$ 25.
19h O revigorante rolê no centro de sampa
O papo estava tão bom que perdemos a hora para chegar no Sebo do Messias na Praça João Mendes, onde seu Osvaldo adora para comprar vinis e livros. No entanto, nossa meta dos três vinis já estava batida. Paramos para comer umas esfihas e bater papo de música. Seu Osvaldo está muito feliz com o novo filme e com os projetos para 2016.
Ele diz que sempre bate perna para comprar equipamento e rever os amigos e que podemos fazer um rolê parecido para comprar uma vitrola. “Vitrola era coqueluche do meu tempo e continua muito legal. A gente combina e eu te ajudo”, propõe meu amigo Osvaldo.
Durante a faculdade de jornalismo, produzi um curta-metragem sobre a carreira do Seu Osvaldo chamado Maestro Invisível – A História do Primeiro DJ, inspirado no livro Todo DJ Já Sambou da Claudia Assef. Desde então nos encontramos sempre em festas, mas nunca para bater perna e trocar ideias musicais.
Maestro Invisível – A História do Primeiro DJ
Por isso, mais do que um rolê ou uma reportagem, esse reencontro com Seu Osvaldo é uma celebração da amizade e das superações que tivemos para concluir aquele vídeo sincero. Seu Osvaldo tinha acabado de perder a esposa e eu tive que sair correndo de uma gravação com o DJ Patife após a notícia da morte da minha avó, Laura. Trabalhava como auxiliar de enfermagem e dormia de três a quatro horas por dia para dar conta das entrevistas, marcações, edições.
O curta me abriu portas, troquei de profissão e me tornei jornalista. Seu Osvaldo, segundo me conta, reencontrou motivação para tocar e continuar esse cara alto astral que ele é. Veio aí mais um filme. O cineasta e professor Douglas editou o “Maestro” e ficamos grandes amigos. Sem contar a gratidão que todos temos pela ‘mãe’ de todos, Clau Assef. Ou seja, minha gente, amor puro.
Alguma coisa acontece no meu coração
Confere abaixo um pouco da vibe do que foi o nosso rolê
Serviço
Sebo do Messias
Praça Dr. João Mendes, 140 – Sé, São Paulo
Barato Afins
Galeria do Rock, Av. São João, 439
Rua dos Discos, Tony Hits Discos
Rua 24 de Maio, 188, loja 109
Rua dos Discos, loja do Gordo
Rua 24 de Maio, 188
Gringos
Rua 24 de Maio, 116