Aqui no musicnonstop já lamentamos os fails que fazem a profissão de DJ bem ingrata, já falamos dos clubbers sem noção que atrapalham o set alheio e celebramos o dia oficial do DJ (09/03) contando histórias muito além da pista. E como a gente gosta do assunto, estabelecemos hoje, primeiro de abril, o Dia da Mentira, como a data oficial dele: o fake DJ!!!
Profissão das mais populares no show business hoje, o DJing já viu cada coisa… É celebridade pegando carona nos mixes para se manter nos holofotes, é set e live pré-gravado a rodo, fulano com a mão pro ar na cabine com o CDJ vazio, top DJ mais preocupado com pirofagia do que música, fora a enxurrada de flagras de deejays mandando ver no som com os cabos desligados.
PARIS HILTON, O GRANDE EMBLEMA
Símbolo maior da derrocada da cultura DJ frente ao aspecto f*ck me I’m famous da coisa toda é o fato de Paris Hilton ter virado DJ. A herdeira da rede de hotéis, primeira grande famosa a vazar sex tapes e estrela de reality shows fez sua estreia como DJ num set flopadíssimo bem aqui no Brasil, e segue tocando até hoje, lançando música e tendo até residência em Las Vegas e Ibiza, com cachês na casa dos US$ 300 mil, uma das DJs mais bem pagas do mundo.
- Em sua defesa, Paris diz que treina muito e toca por amor a música, tendo ido a raves desde os 15 anos
Por mais que a mídia já tenha registrado como a moça se profissionalizou e as coisas não são tão fake assim, e por mais que sua estética pop pouco atenta às minúcias da musicalidade caiba nos dias atuais da EDM, nosso troféu narigudo desse primeiro de abril das picapes vai para a moça, pela força de seu emblema!
Quando comecei a tocar, mixar bem era uma obrigação. Ai do DJ que sambasse! As apresentações de DJs mudaram muito, a idéia de um set também, e o fator entretenimento conta muito nos dias de hoje. Vejo muitos artistas de EDM que chegam com sets pré-gravados para sincronizar com os efeitos especiais, a mesma sequência de tracks em todas gigs de uma turnê. É estranho ver DJs fingindo que estão tocando, apertando botões ou CDJs desligados – eu gosto de observar as viradas que os Djs fazem, amo viradas longas e como cada artista é capaz de mixar as músicas, seus tricks, que efeitos eles usam, e maneira que podem surpreender com seu repertório e criar diferentes atmosferas na pista. Acho triste a banalização da arte de discotecar – todo mundo quer ser DJ, mas poucos sabem ser um bom DJ. Tem coisa mais patética que ver a Paris Hilton ‘tocando’ por aí? – Eli Iwasa, veterana DJ, promoter e empresária da noite
Já tive a oportunidade de presenciar alguns set fakes. Lembro de um DJ nacional que, diante de uma pista sedenta nos primeiros raios da manhã, ficou inseguro e resolveu não arriscar… Soltou um set de um DJ gringo e ficou lá fingindo que tocava, e ninguém percebeu (risos). Também lembro de um produtor gringo que veio apresentar seu live e na hora H deu pau no computador. Ele rapidinho tirou um CD com o live pré-gravado, colocou no CDJ e ficou botando efeitos em cima. E, de novo, ninguém percebeu. Talvez estes sejam os verdadeiros fake DJs, mestres também da interpretação” – Fernando Moreno, booker e empresário da SmartBiz e DJ de pop
O “MEDLEY MIX” DE STEVE ANGELLO
Em 2011 circulou um vídeo de 13 minutos em que Steve Angello não tocava direito uma série de músicas mixadas em um festival na Holanda. A história rendeu e o próprio Angello respondeu dizendo que “não mixar vai contra tudo que eu defendo”, reforçando sua conhecida sua habilidade de tocar sem fones, e que o trecho do vídeo diz respeito a um medley pré-mixado criado para ser possível o sync com as pirofagias e efeitos cênicos do palco, elemento que é essencial na apresentação desses tops e acaba fazendo da passagem entre as músicas um mero entre tantos detalhes…
Das mentiras que eu me lembro, tem a clássica do evento que foi cancelado por x, y ou z, mas que na verdade simplesmente não vendeu ingresso (porque foi mal formulado) e seria um flop gigante. Tem também a mentira do festival que diz que vai privilegiar os artistas brasileiros quando todos sabemos que o referido privilégio aos brasileiros é resultado da moeda nacional fraca (e pior, metade dos mais relevantes não são contratados contra a vontade do próprio público do festival pois são de agências concorrentes). A mesma coisa vale pro DJ que não foi tocar em um determinado evento por x ou y mas que na verdade foi porque o evento flopou e o DJ não quis ir tocar pra pouca gente, um duplo fracasso maquiado como um problema publicamente aceitável” – Marcelo Arditti aka RDT, empresário, promoter e agora DJ!
TÃO FAKE QUE DÓI!
Dois exemplos recentes de fake djs, que merecem o nosso louvor pela cara de pau. A modelo colombiana Natalia Paris, cujo cachê dizem estar na casa dos milhares de dólares, foi pega pelas câmeras mandando ver nas CDJs sem CDs (veja o timelapses todos zerados) e muito menos pen drives ou laptops plugados. Tudo que ela faz é carinho nos knobs e controladores…
A LUZ DE JESUS OFUSCADA PELO FAKE
Mas talvez o pior mesmo tenha sido ele topar aparecer tocando num clipe de seu feat. com Yves LaRock com o mixer sem cabo nenhum plugado. Miga, assim fica difícil te defender, já dizia o meme…
Eu nem acho tão escandaloso que os grandes nomes do EDM levem tudo pronto para um festival. Faz parte do show. O que tenho percebido nas pistas do underground é justamente o oposto dos lives e discotecagens fake que dominam o mainstream. Até poucos anos, o mercado de DJs e lives foi dominado pelo software Ableton Live que apesar de cheio de recursos para performance, muitas vezes era usado apenas para correr sets pré-gravados – isso se tornou tão frio e presente que cansou o público. Felizmente, de uns 4, 5 anos pra cá, apareceram dezenas de produtores que fazem verdadeiros improvisos ao vivo, com máquinas analógicas e controladoras. Muita gente errando no palco, canais saturados, volumes estourados, delays que se retroalimentam até embolarem – o povo voltou a ter coragem de errar ao vivo, pelo menos no underground!” – Niki Nixon, DJ e promoter de noites musicais na Trackers em SP
Como que um cara do nada vira um top DJ? Por causa de uma música? É um produto da mídia, do mesmo jeito que um BBB vira DJ. Principalmente agora com o CDJ que é muito mais fácil, você chega lá e espeta um pen drive ou leva um memory card, qualquer idiota é DJ. Agora bota um par de toca-discos pra ver se o cara toca? Ninguém toca! Por que quando todo mundo tocava de toca-disco não tinha BBB, não tinha essa comédia toda? Porque toca-disco é um instrumento que intimida as pessoas, você tem que ter o dom.” DJ Marky, em entrevista à DanceParadise.