music non stop

Primeira DJ Drag do Brasil, Selma Self-Service aka Edu Corelli faz 30 anos de música e humor na cabine

Ele é nosso colaborador em texto, foto e memória clubber. DJ há décadas, que passou por diversas noites, épocas e núcleos, mas nunca sem ter se prendido a nenhum clã, como ele mesmo conta nesse entrevistão. Edu Corelli é uma eminência parda da noite paulistana, figura a ser celebrada por suas histórias, por sua sensibilidade em observar as andanças do público e da cultura que envolve a noite… E por muita música boa.

É por isso que resolvemos brincar de “caderno de enquete” e mandar um Q&A longo, curioso e divertido para Corelli, tratando de assuntos como montação, drogas, o espírito de uma boa festa (e das uós) e também de seu histórico como DJ, que denota momentos particulares de festeiros da zona norte paulistana.

Com a entrevista, soubemos um pouco mais do Edu Corelli fora da noite, e finalizamos com um top5 de músicas de uma vida toda. Vida essa dedicada à música, mais recentemente à fotografia e à noite.

Music Non Stop – Conte um pouco como você virou DJ, e que tipo de música te inspirou a tanto.

Edu Corelli – Exatamente maio de 1987, no Teatro Mambembe até agora… Eu até então era colecionador de discos e tocava ali e acolá, como qualquer moleque. Comecei na humilde indo ver outro DJs tocarem, se unir com turma de colégio e faculdade em festas e levar suas fitas k7 editadas, músicas coladas uma nas outras que iam de dub a rock, de soul a disco…

Das antigas…

Daí um gosta outro chama pra festa maior; mas a maior motivação foi ver que tinha gosto por fazer amigos dançarem na sala de estar ou na megafesta errada que montei com outros amigos num casarão em Santana, 1989, e uma chuva derrubou (o casarão antigo veio literalmente com teto na chão). Nossos sonhos de fazermos “raves” na Zona Norte (perdemos todas nossas economias mas ganhamos uma vontade de sermos artistas, hoje cada um é em sua área profissional).

Se resumir uma música que me deu inspiração foi “Pump The Volume”, do M|A|R|R|S, e a acid house. Era estranho, novo e up pra mim.

Music Non Stop – O lance da montação, da Selma, como surgiu? E como acabou?

Edu Corelli – Estava rolando Drag Djs em festa no Roxy de New York em 1990. Não, não fui lá, mas li aqui via Caderno D, um dos cadernos mais moderno que teve na Folha de SP, uma matéria sobre cena de NY,  e como frequentador do Sra. Krawitz um dia meu mestre Renato Lopes veio e me disse “Edu, eu e Mau estamos viajando muito durante a semana para tocar em outros Estados e fica difícil tocarmos juntos às quintas-feiras no club, você toparia abrir noites de quinta?”. Preciso dizer que foi como ganhar na Mega-Sena? Os 2 maiores DJs convidando eu pra tocar com eles (ontem, assim chamado século passado, os djs novos abriam noites… Hello DJs que hoje estão começando e querem “star “espetando seus pen-drives nas melhores festas e clubs…).

Edu como Selma Self Service

Daí – sim sempre me achava, não mais hoje – um rapaz feio esquisito, e falei pra Renato e Mau Mau, “posso esconder minha feiura atrás de um personagem?”. Eles me deram OK e comecei a me montar de Drag (e em SP ser Drag era ser ET…), estava no auge a montaçã , que diga a Velani (trava luxo que fazia as perucas na Estoril) e lojas de sapatos femininos lotadas de meninos kkk.

Bom, aí o Nenê promoter disse “tem que ter nome, todas tem nome e sobrenome”, e lembro Marcela Prado , Paullete Pink, Rebeca Pascolatto, Marcia Pantera, entra tantas drag musas … Eu disse “não sei que nome dar”, fizeram uma votação com urna e tudo (era ano de eleição) e o melhor nome jantava comigo no Bar Paparazzi de André Hidalgo. Venceu o Marcelo Batata, de Santos, hoje chef de cozinha, com o melhor nome: SELMA SELF SERVICE…

Foram 9 anos tocando montado, comecei gordinho e desengonçado, over make bem Drag, e o amor à moda  fez “me achar modelo” e começar  a fazer todo tipo de dietas pra usar 38/40 feminino, piração, quando vi estava tipo top drag model pesando 50kg com bulimia, aí parei óbvio né!?

Music Non Stop – O que acha das montadas de hoje em dia? Parece que há umas rixas e competições entre as gerações de lyndas…

Edu Corelli – Jura? Se for competição tipo duelo de Drags acho cool, agora se for pra ambas se chocharem, eu vejo como lei natural da vida, em todas as áreas, gente mais velha x gente mais nova… Sabe aquela história? Eu prefiro achar que ainda tem espaço para muito glitter na noite, kkkk.

Music Non Stop – House ou techno? Por quê?

Edu Corelli – Ambos, dependendo da hora , local , line-up coerente , etc.

Music Non Stop – Você parece ser bem observador, sempre solta umas histórias e lembranças bem precisas e curiosas. Imagino o tanto de bafons que você coleciona…

Edu Corelli – Muitos, sempre fui observador, ou como disse uma vez meu mestre Mauro Borges, “Edu, você todos estes anos não pertenceu a clã ou turma nenhuma, sempre conseguiu passar por todas as turmas, amado ou odiado, mas sempre respeitado por ser na sua e ter bom gosto eclético”.

Mauro resumiu muito bem, sempre fui assim um pré-Facebook (todas eram), sempre saí na noite com pessoas que apresentava a outras pessoas, e em muitas vezes ficavam amigos e eu virava o inimigo kkk. Sempre (talvez axé do Silvio Preto, RIP) acabei conhecendo gente bonita (ambos os sentidos) que andei por anos, meses, dias, e que marcaram e marcam e marcarão minha boemia. Até hoje respeito todos, mas nunca fui de clã nenhum.

Music Non Stop – Como é uma festa boa, uva, pra você?

Edu Corelli – Música boa em primeiro lugar, o combo restante (bebida, gatas, gatos, fashionistas, cool people, fitness people, art people) também ajuda, mas se a música for miojo a festa faz o vinho virar vinagre, kk.

Music Non Stop – E como é uma night UÓ pra você?

Edu Corelli – Com gente magoada, que vai pra ocupar espaço na pista de dança e zumbir na sua orelha.

Music Non Stop – Gosta de pop? Madonna ou Lady Gaga? E a Beyoncé? Ou faz a linha que curte Ney Matogrosso?

Edu Corelli – Madonna antiga, Lady Gaga pós-Oscar cantando “The Sound of Music”… Beyoncé na trilha de um desfile da Dior  na era de John Galliano, e tive a honra, através de Ocimar Versolato, de jantar e bater prosa com o maior de todos: Ney Matogrosso.

Corelli era da nossa equipe no Marisco Festival 2016 – leia seu review

Music Non Stop – Fale algo sobre o Edu Corelli que o povo da noite não conhece.

Edu Corelli – Que pego metrô todo dia, sim, sou funcionário público há 30 anos, além de DJ. Meu filme de cabeceira ever é “A Dupla Vida de Véronique”, de Krzysztof Kieślowski.

Music Non Stop – Com que frequência e intensidade você consume música?

Edu Corelli – Como todo mundo, all day. Não importa se é canto de colibri ou deep house, o mundo é musica.

Music Non Stop – Pesquisa mais música nova ou antiga?

Edu Corelli – Ambas, e me divirto quando descubro de onde achei o sample antigo numa música nova, e uma música nova que me arrepia como se fosse um clássico da Motown Records.

Corelli e Leiloca: garbo e elegância no frio paulistano

Music Non Stop – Que tipo de música eletrônica você detesta? Que hit não aguenta mais ouvir?

Edu Corelli – Tive e tenho dificuldade com hard trance, psy, mas acho cool ver a garotada dançando, tanto que caí sem querer numa destas festas em Santa Isabel, kkk, valeu por voltar megabronzeado.

Já hit é hit, ninguém aguenta ouvir, ouve-se por necessidade de achar que vai ser feliz, ou pra ganhar bíceps, tríceps ou azarar amores. Penso que as pessoas que se amam e curtem a mesma músic  serão felizes forever, e esta fórmula às vezes quase sempre orna.

Music Non Stop – Que hit pode tocar pra sempre que você vai ser o primeiro a cantar com a mão pra cima?

Edu Corelli – “I Feel Love”, Donna Summer.

Music Non Stop – Qual seu drink predileto? E seu passeio durante o dia?

Edu Corelli – Whisky, mas com 500 calorias a dose ferra meu passeio semanal de dar 13 voltas no Parque da Aclimação, ui.

Music Non Stop – Drogas: ruim com ou pior sem?

Edu Corelli – Vale aquele jargão “Drogas, tô fora” para muitos, e vale aquele outro jargão “acabou o padê, acabou a amizade” para outros. Penso que cada um escolhe o seu jargão……

Music Non Stop – Um arrependimento e um orgulho na vida?

Edu Corelli – Todo arrependimento vira orgulho pra mim.

Music Non Stop – Que outras ocupações, hobbies e trampos você teve e tem, além de ser DJ?

Edu Corelli – Natação, caminhadas, cinema , coleção de DVDs e já disse lá em cima que sou funcionário público, mas é lógico que entendedores entenderão onde trabalho, senão meu celular não iria parar de tocar, kkkkkkk.

Music Non Stop – Quando acha que vai parar de sair? Se é que vai…

Edu Corelli – Já parei… Isto que vocês trombam na noite é um ectoplasma meu, kkkk. Sério, estou dando uma diminuída por uma causa mais que nobre: meus pais. Agora é a hora de eu cuidar mais deles, foram 28 anos eles acordando fim de semana e eu indo dormir, perdi de levá-los em muitos museus, concertos e filmes, agora eles são minhas baladas, e na verdade se analisar vários DJs da minha geração, há anos eles estão com esta fórmula: sair só pra tocar ou em ocasiões muitos especiais.

Corelli como Selma Self-Service toda de Herchcovitch tocando na despedida de Bebete Indarte

Acho que mesmo atrasado – e olha que sou aquariano, gosto de estar na frente kkk – chegou minha vez de menos é mais, sair pra tocar e ainda ser resistente numa época que ter anos numa área pra ninguém quase interessa mais (tenho uma tese que o mundo se dividiu entre antes e depois de 1999, daí vem este saudosismo hoje pra refrescar a vida e timeline de tantas pessoas), mas não se assustem, sempre farei aparições pois meu foco hoje é fotografar gente lynda. E somente à noite todas as beast viram beauty, né? Amo muito tudo isso.

 

EDU CORELLI – TOP5 DA VIDA TODA





BONUS TRACK!

Sair da versão mobile