Apostando na curadoria para avaliar os melhores lançamentos do ano, Prêmio MUS faz sua primeira grande edição nesta quarta-feira (04), no Vibra, em São Paulo
O prêmio MUS, que ocupará o espaço Vibra nesta quarta-feira (04), chega à sua quarta edição como um sopro de frescor, tanto para os artistas, quanto para o público brasileiro interessado em música.
O time de curadores convidados pelos criadores do prêmio, Mariana Eva (que já foi VJ da MTV, sob a alcunha de Madame Min) e Marcelo Rossi, são orientados a apertar a tecla “dane-se” para o algoritmo, o que significa deixar totalmente de lado a quantidade de seguidores e plays que os artistas têm em suas redes. O que interessa ao MUS é a música, sem importar o alcance que a elevaria a hit.
O propósito é claro. Segundo os organizadores do prêmio, muita coisa boa criada no Brasil pode acabar passando despercebida — não pela falta de qualidade, mas simplesmente pela decisão “unitecnolateral” do “robozinho”, que decide quem vai aparecer nas buscas, na tela das redes sociais ou nas playlists dos serviços de streaming, levando em conta o que chamam de “engajamento”.
Algoritmo? Que papo é esse?
Trocando em miúdos, as redes são programadas para decidir quem entra ou não na festa através de cálculos que levam em consideração, entre vários outros fatores, a frequência com que um artista lança suas músicas e quantas pessoas estão falando sobre ela, ouvindo-as ou pulando um “play” logo depois que ela começa. Tudo isso cai numa panela, e o caldo pode ser azedo para um novo artista, mesmo que bastante talentoso.
Para dar um chapéu no sistema, o MUS convocou um batalhão de curadores interessantes e diversos. O time tem, por exemplo, Marky Ramone, baterista da banda pedra fundamental do punk, os Ramones, e dois integrantes dos Titãs: Sergio Brito e Charles Gavin. Além disso, traz jornalistas, gente do meio musical e até o cara que ajudou a emplacar o ex-grande prêmio VMB (da MTV), Zé Antônio Agodoal. Zé, além de fazer parte do time cabeça da emissora em seus áureos tempos, sabe bem das dores em se tocar um projeto musical independente: é fundador da seminal banda independente Pin Ups.
O maior MUS de todos os tempos
Surgido em 2019 e batendo de cara com a pandemia, o MUS começou pequenino e já realiza, em sua quarta edição, um evento de grande porte. Permeado por diversos pockets e apresentadores de peso em suas diversas categorias, a edição 2023 promete levar o buchicho em torno do prêmio a uma outra categoria.
O escalonamento permitiu aos organizadores viajar gostoso. Em 2024, a equipe pretende permear o ano com várias outras empreitadas, que vão desde um festival para dar visibilidade a novos talentos, até uma versão brasileira do Hall Of Fame, dando os devidos créditos a figuras importantes da música brasileira.
Mariana Eva (ou Madame Min) nos atendeu na tarde de segunda-feir. Batemos um papo para saber sobre o passado, o presente e o futuro do MUS. Leia como foi nossa conversa, gravada num hiato de tempo pós almoço da fundadora do prêmio. Papo de sobremesa:
MNS: Este vai ser o primeiro super evento de vocês. Como foram as outras edições?
Mariana Eva: A primeira edição que a gente fez foi em 2019, na parte pequena da Audio (SP). Foi tipo um lançamento, é uma festa para o pessoal começar a conhecer a ideia do prêmio.
Foi bem legal porque a gente teve o Black Pantera como um dos premiados, que foi uma das bandas que tocou a gente. E aí tinha tinha uns olheiros do Rock in Rio, que viram e os chamaram para tocar depois, né?
Isso mostra um pouco do que a gente queria realizar. Obviamente, não tirando o mérito da banda, que é maravilhosa e sim, estava no momento certo, na hora certa. Mas é um pouco isso, hoje tem muita coisa boa acontecendo musicalmente no Brasil.
E os artistas não têm um lugar, um canal para se apresentar para as pessoas conhecerem. A proposta é trazer essas bandas à tona através de uma curadoria, que a gente tem de inspiradores, que é muito forte. São jornalistas, pessoas do meio, enfim, tem de tudo.
Atingiu o que a gente queria, né? E aí, no ano passado, já na parte maior da Audio, a gente fez funcionar como um preview mostrando o que poderia ser o MUS, entendeu? Foi já na parte maior da Audio, o primeiro oficial, mesmo, como prêmio.
De onde veio a ideia da criação do prêmio?
Do Marcelo Rossi, que é meu sócio. Ele estava com essa ideia, já na cabeça, fazia um tempo. Então ele me ligou no meio da pandemia e falou: “pô, tem essa ideia desse prêmio…”. E eu achei sensacional.
A gente estava na mesma pandemia e, digamos, foi pretensioso. No bom sentido, porque ele é grande, né? Ele é muito abrangente, mas a ideia é sensacional. Eu fiquei encantada, e então começamos a produzir, a pensar em chamar a galera e tal. Foi assim que tudo surgiu.
E como o prêmio se diferencia dos outros?
Eu acho que os outros prêmios ainda são muito ligados no algoritmo. O nosso grande diferencial é a curadoria. Temos um time de curadores muito bons, muito fortes e muito ligados. Pessoas que amam a música, que trabalham com música. Artistas grandes, como o Dinho [Ouro Preto] e outros que estão começando, como a Ima.
Existem prêmios em que a gente vê sempre as mesmas pessoas. O mesmo acontece com os festivais. Acabam sempre sendo os mesmos artistas. Todo mundo está muito ligado no algoritmo, e a gente quer fugir disso.
Falo muito com o Rossi sobre as pessoas poderem ouvir coisas que não tem como chegar no grande público através do algoritmo. As bandas estão travadas por não ter esse acesso. A gente quer resgatar essas pessoas que têm um trabalho de qualidade, passando por esse crivo da curadoria.
E como é o acesso dos artistas à curadoria?
A gente tem, no site, um lugar específico em que a banda pode se inscrever. Mas também estamos sempre pegando informações dos curadores. Quem ouviu alguma coisa boa, manda para todos.
Você está há um tempão nesse nosso mundo independente. Como você vê a produção musical de hoje, comparada a quando você começou?
Eu acho que hoje em dia tem tem muito mais coisa rolando. Musicalmente, tanto do lado das bandas, quanto do lado das produções que havia nos anos 90.
Nos anos 90, você só tinha aquelas aquelas bandas que entravam nas gravadoras. Era o único caminho que existia. Ou você chegava via gravadora, ou você não era nada. Fazia aqueles showzinhos independentes “forever”. Acabava sendo um nicho muito, muito fechado, muito elitista. Muito panelinha, não é?
Depois disso, com a internet, a pessoa consegue estourar a bolha através do trabalho dela. Mas, ao mesmo tempo, o que acontece? Você também vê pessoas que não tem muita qualidade de trabalho. Não são tão fortes musicalmente, mas talvez se destaquem pelo visual, as roupas ou outras coisas assim.
Isso é um problema para quem é um artista novo independente, que não tem muitos seguidores, mas tem um bom trabalho. Como é que você faz? Você tem que virar um influencer, tem de saber usar as redes para entender.
Então hoje em dia é mais democrático, mas ao mesmo tempo, não deixa de ser nichado. Não deixa de ser uma bolha, também. Segue difícil, mas é uma dificuldade diferente.
Veja quem está no páreo
Para concorrer ao Prêmio MUS 2023, os artistas precisam ter lançado trabalhos desde o final de 2022 até o mês de outubro de 2023. Os curadores escolheram três finalistas para cada categoria. Veja quem está concorrendo:
Música do Ano
Jão – Me Lambe
NX Zero – Você vai lembrar de mim
Matuê – Conexões de Máfia (feat. Rich The Kid)
Música do Ano (Revelação)
Melhor Banda / Artista
Melhor Banda / Artista (revelação)
Melhor Álbum
Melhor Artista Internacional
Melhor Videoclipe Nacional
HODARI & Luedji Luna – ORISHAS
Criolo – Orgulho Loco
Supercombo feat Vitor kley – Tarde Demais
Melhor Videoclipe Nacional (revelação)
Ian Ramil – Macho-Rey
Dupla 02, Rubi – RUSSYAN TANJIRO
Rubel feat. Bala Desejo – Toda Beleza
Melhor Show Nacional
Titãs – Tour Encontro
NX Zero – Tour Cedo ou Tarde
Edu Falaschi – Eldorado World Tour 2023
Melhor Show Internacional no Brasil
Coldplay
Foo Fighters
Bruno Mars
Melhor Influencer Musical
Nicole Louise
Mari Merenda
Mariana Nolasco
Serviço
PRÊMIO MUS 2023
Data: 4 de outubro, quarta-feira
Horário: Abertura, 18h; shows e premiação, 20h
Local: Vibra São Paulo (Av. das Nações Unidas, 17955 – São Paulo – SP)
Ingressos via Clube do Ingresso
Estacionamento VIBRA São Paulo
Para maior comodidade, os clientes podem adquirir o estacionamento conveniado no local de forma antecipada através deste link.