Popload, festival estrelado pela banda Pixies, fez o público reviver as delícias de um festival de médio porte
Para os mais velhos (parte considerável do público, que rolou dia 12 de outubro), o Popload foi um festival confortavelmente nostálgico. Há muito não se via no Brasil um evento com line up majoritariamente alternativo (ou indie, como queira), feito em um local diferente, com pequenos detalhes que faziam uma baita diferença para aqueles cujas panturilhas gritasm depois de algumas horas dançando.
O Popload rolou em um delicioso dia das crianças. O clima ameno, lavado por uma breve chuva no fim da tarde, acaraciou as milhares de pessoas que chegaram no Centro Esportivo Tietê, às margens do rio. A área pública, coberta por grama sintética, plana e de acesso fácil à comida e banheiros, manteve concentrada a turma que estava lá para ver os shows, muitas delas na tal faixa do 30+, graças à escalação das atrações e à marca que o festival construiu durante sua vida.
As filas irritaram, principalmente para recarregar os cartões que davam acesso a qualquer produto adquirido dentro do evento, prática padronizada nos festivais hoje em dia. Este foi o ponto de atenção do último Popload, que teve também seus pontos fortes de cuidado, como por exemplo os banheiros em containeres, muito mais confortáveis que os tenebrosos banheiros químicos, comum em festas deste porte.
A ordem dos artistas que se apresentaram formaram um “crescendo” de animação e força, desobedecida pela jamanta desenfreada do Jack White, que levou seu barulho ao limite da saturação em um show elogiado por muitos, principalmente os que esperavam mais rock’n’roll após as baladas de Cat Power e o brilhante espetáculo neo soul de Chet Faker.
Antes das atrações internacionais, se apresentaram Fresno e Pitty, Jup do Bairro e pela hypada banda latino americana Perota Chingó. Mas, ao caminhar por entre a gente naquela tarde de outubro, bastava um olho no olho para perceber que tudo era, para eles, um aquecimento para a volta do Pixies ao Brasil.
A importância do headliner talvez explique um pouco o comportamento estranhamento frio do público com os demais artistas. Havia dança e sorrisos, mas pouco barulho, por mais que Faker solasse seu piano invocando Billy Preston, ou Jack White promovesse cambalhotas flutuantes em cima do palco.
E quando Frank Black e sua turma subiram ao palco, entregaram exatamente o que o público a tanto tempo queria ver. Um show tecnicamente absurdo, de execução sublime e sem fricotes, o que para alguns pôde ser classificado como burocrático. Mas a real é que Pixies é isso. Uma coleção de obras-primas tocadas sem cobertura de chantili. Os hits marcaram presença, o público os queria, e eles se deram.
Um pouco maior que uma rave e muito menor do que os mega-festivais que obrigam o público a caminhar quilômetros de um palco a outro, o Popload festival foi aconchegante, acolhedor. A locação ajudou muito e, aí vai a nostalgia citada, lembou (tanto em line up quanto no tamanho) o saudoso Free Jazz Festival, referência em qualidade até hoje, e possível em um tempo em que a indústria do tabaco despejava dinheiro em eventos culturais.
O fundador do Popload Lúcio Ribeiro, ainda na ressaca do festival, falou ao Music Non Stop sobre a corajosa iniciativa:
“…olha. Entre as dores e sabores de fazer um evento deste tamanho, com 14 atrações de variados portes e nacionalidades, foi bastante positivo. Pessoalmente, após a temporada pandêmica em que eu achei que tudo estava acabado, foi uma delícia ver tantas bandas e artistas de que eu gosto no meu festival, com minha galera (a galera Popload) e todas as artes bonitinhas. Mas vamos sempre aprendendo com percalços (porque tivemos…) e tentando melhor para o proximo. Com 10 anos ou 1 ano, é sempre treta fazer festival.”
A história é escrita por estes loucos, que encaram as tretas para fazer um evento que tenha efetivamente uma cara, blindados das ondas músicais que vem e vão (tão rápido quanto) da memória afetiva das pessoas.
Confira a galeria de fotos do Popload 2022.
Fotos, divulgação festival