Popload Festival 2019: elas têm o poder
Embora o Popload Festival 2019 tenha tido shows do supergrupo The Raconteurs (do gigante da guitarra Jack White) e dos eletrônicos queridinhos da casa Hot Chip, ambos com integrantes 100% masculinos, foram as mulheres que deram o tom na sétima edição do festival que rolou nesta sexta, 15, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Todas as outras atrações possuíam figuras femininas na linha de frente, representando várias gerações e diversos gêneros musicais.
Começando pela headliner Patti Smith; a cantora, poetisa, fotógrafa, escritora, compositora, deusa, bruxa, ativista e mãe do punk rock emocionou as 14 mil pessoas presentes em seu primeiro show em São Paulo. Ícone inalcançável e ao mesmo tempo um ser humano maravilhoso tão próximo, a norte-americana de 72 anos serviu como uma mãezona que deu um abraço em todos nós nesses tempos difíceis de luta pelos direitos humanos.
Mesmo ser dar nomes aos bois, Patti fez uma apresentação política, encorajadora e cheia de hits que começou com People Have The Power, passou por Beds Are Burning (cover de Midnight Oil – com direito a citações sobre queimadas florestais), Because The Night e terminou ovacionada com Gloria, gritando ao microfone: “Sejam fortes! Sejam livres!”, após destruir as cordas de sua guitarra. Épico!
Volta triunfal
Política também foi a apresentação do Cansei de ser Sexy. O retorno da banda paulistana após mais de cinco anos longe dos palcos rendeu à Luísa Lovefoxxx, Ana Rezende, Luiza Sá e Carolina Parra o título de um dos melhores shows do festival.
No telão de fundo, assuntos polêmicos que envolvem o atual governo foram misturados a memes, incluindo uma imagem do presidente Jair Bolsonaro “vomitando” emojis de cocô enquanto a eterna atriz Dercy Gonçalves dizia debochada: “Vai tomar no c*”. Na camiseta da vocalista, uma homenagem ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), com a frase “revolução agroflorestal”. Foi protesto e diversão ao mesmo tempo, com hits indies que levaram todos a cantar e a dançar como se estivessem em 2004, mas sem cheiro de naftalina. Tudo foi bastante atual.
Vale ressaltar também que as meninas retornaram mais ensaiadas e em forma do que nunca, executando um show redondo. Nem parece que deram uma pausa. Tomara que não se limitem apenas a essa apresentação e façam uma turnê em breve. Os fãs anseiam por isso.
Geração pop
Quem representou a geração pop atual foi a hitmaker Tove Lo. Não é a primeira vez da sueca no Brasil (ela esteve no Lollapalooza Brasil de 2017) e quem a assistiu, sabe que energia, simpatia e sensualidade não faltam em suas apresentações. O público composto por jovens em sua maioria, pulou muito durante o hit Habits (Stay High) e em canções de seu novo álbum, Sunshine Kitty, de 2019. Um dos pontos altos foi quando o funkeiro MC Zaac (de Vai Malandra, com Anitta) se juntou ao palco para cantar Are U Gonna Tell Her, dando uma abrasileirada no show e colocando os indies para descer até o chão.
Outras mulheres de peso que mostraram suas forças foram a energética rapper britânica Little Simz, dona de um dos álbuns mais aclamados do ano, Gray Area, e a cantora baiana Luedji Luna (as duas chiquérrimas vestindo camisas brancas, coincidentemente). A habilidosa baixista Laura Lee, do grupo instrumental texano Khruangbin, também foi de grande destaque do dia.
O Popload Festival 2019 ficará lembrado como a edição em que 90% do line up foi de artistas femininas. E que sirva de exemplo para muitos outros festivais. Quando Patti Smith chegou cantando: “O povo tem o poder”, poderia muito bem ser: “Elas têm o poder”.