The Escape Velocity explora tudo o que inspira a criatividade e abre o espaço para uma percepção mais profunda sobre a arte da criação.
Qual é a primeira coisa que passa na sua cabeça quando se trata de periódicos sobre música eletrônica? Para quem, assim como eu, nasceu nos anos 80, é possível imaginar aquele modelo milenar que era baseado em uma resma de celulose que não poupava propagandas e nem o meio ambiente. Na capa, o artista dono do hit do verão em seu momento Gisele. É óbvio que esse modelo jamais seria aplicado nos dias de hoje, ainda mais se tratando de Jeff Mills, um dos caras do Underground Resistance.
Nascido no centro magnético da bússola cultural do mundo, como a própria revista se refere à Detroit, Jeff Mills foi um dos pioneiros do techno mundial e está constantemente desenvolvendo novos projetos e lançando coisas. A primeira edição da revista The Escape Velocity está vinculada a sua própria gravadora, Axis Records, que há algum tempo já vinha recrutando artistas para lançamentos de álbuns mais conceituais e até trilhas sonoras para filmes.
A ideia de traduzir a ciência que envolve os artistas por trás do sonho da criatividade e criação, surgiu em meio a desaceleração forçada ocasionada pela pandemia em 2020, momento em que ficou evidente a necessidade de olhar para a cultura e reconhecer o que é mais importante. O fato da música eletrônica ser apresentada sobre uma mesma perspectiva ao público no cenário do nightclub contemporâneo, já é uma reflexão que circunda os pensamentos Jeff a muito tempo. Em 2017, ao tratar do projeto Close Encounters Of The Fourth Kind, em que ele criava uma experiência audiovisual de ficção científica, disse em entrevista à The Vinyl Factory algo que exprime o quão essa preocupação é recorrente.
“O cenário é sempre muito festivo, positivo, mas a vida não é assim. Não conheço uma única pessoa que acorde todos os dias feliz e todos os problemas estejam resolvidos. Festejar e dançar significa escapar, mas existem muitas maneiras diferentes de escapar. Cometemos a nós mesmos uma injustiça ao pensar que a dance music e a música eletrônica só estão sendo tocadas por esse motivo específico o tempo todo.”
Explorar e imergir no processo criativo da música nos dá a oportunidade de um impacto mais profundo que vai além de uma noite divertida. The Escape Velocity carrega em suas 92 páginas um conteúdo insólito e cósmico que permeia o vasto universo de interesses do redator chefe, imerso em arte, arquitetura, cinema, cosmologia e, acima de tudo, ficção científica.
A jornada se inicia logo na capa de AbuQadim Haqq, traduzindo em sua ilustração o significado do nome da revista, que se refere à velocidade necessária para sair do campo gravitacional da Terra para o espaço, local que você facilmente será transportado ao ler as entrevistas com Terrence Dixon, DVS1, Tadeo e Jonas Kopp e com os artigos de Mike Storm e Imani Mixon. O modelo digital permite a inclusão de vídeos e imagens em movimento e toda a revista te encaminha para longe da normalidade obstrutiva, retratando álbuns de música conceitual e arte baseados em vários assuntos relacionados à ciência espacial e transcendência.
Se já tentaram te vender solo em Marte por alguns milhões de dólares, não se preocupe, o planeta editorial de Jeff Mills é gratuito e pode ser acessado pelo site https://www.axisrecords.com/ .