Patrão da bass music, Zegon apresenta pupilos na coletânea Buuum Beats: “Molecada tá bem original”.
Cada vez mais presentes na vida de quem curte música de pista, as baixas frequências (aka os graves) já movimentam rolês insanos em periferias e grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Bahia, Belo Horizonte e Rio Grande do Sul. De olho nesse panorama cada vez mais abrangente, o DJ e produtor Zegon concentrou expoentes de diversas vertentes para compor o primeiro volume de uma coletânea que promete ser um radar do movimento bass nos próximos meses.
Logo na primeira audição de Buuum Beats você vai se ligar na maturidade de produtores como BadSista – a única mulher do disco! – ou ainda na visão de futuro de Atman, passando pelos expoentes Ruxell e Leo Justi, entre outros já habituês do case de gente como Diplo e Branko. Com um cartão de visitas multifacetado e super bem produzido a cena bass brasileira – ou só Brazilian Bass pra quem preferir – tem se ramificado em subcenas que vão dos beats abstratos ao pancadões periféricos.
“Essa molecada tá bem original. Antes eu sentia que o pessoal estava tentando fazer uma coisa genérica. Agora não”, conta Zegon, que é metade do duo Tropkillaz e mente por trás do selo Buuum Trax. “Dá pra ser brasileiro sem ser óbvio”, completa. Essa coletânea é uma prova disso.
Ouça a coletânea Buuum Beats aqui
TRACKLIST
1 Ruxell – Bun Bun
2 BadSista – Loca
3 Braap – SQUELCH
4 DKVPZ & Tropkillaz – Don’t Give Up
5 D`Maduro & Furo – Too Good
6 Thai ft Stal – Slowdown
7 Leo Justi & Pesadão Tropical – Hallelujah
8 Viní – Tudo Nosso
9 Coyote Beatz – Caaaaralho
10 Marginal Men & Ruxell – Fuuudeu
11 Sydney & Leo Justi – Aquecimento das Arabias
12 Tropkillaz & Leo Justi ft MC Carol e MC Tchelinho – Toca na Pista
13 E-Cologyc ft Faisca – Alucinação
14 Maffalda – 904
15 Atman – Break Loose
16 Scorsi – Torch
17 Flying Buff – Don’t Lie
18 Mauro Telefunksoul – Afro
19 DHZ – Batendo
20 Hurakan – Meus Heróis
Vem ler o papo que tivemos com Zegon sobre a coletânea e também sobre sua escola musical, que é inspiração pra geral que curte um som de 808.
Music Non Stop – Você conseguiu desenhar um recorte amplo em 20 tracks, indo da aura regionalista ao beat mais eletrônico… Então, qual a pegada do próximo verão?
Zegon – Difícil ditar um estilo, porque eles são muito diferentes entre si, os BPMs estão muito diversos, tem pra todos os gostos, papo de nerd, mas pode ser 80/160, 95,100,110,120,130 ou 140/70, acho que, de qualquer maneira, as influências latinas e brasilidade nos beats, desde rasteirinha, future funk até bahia bass, são alguns dos que eu mais gosto.
Music Non Stop – Na coletânea tem um recorte interessante, com Coyote Beatz, Hurakan e a arte do beatmaking quebrando barreiras rap nacional e bass. Qual é o seu recado pra quem ainda resiste à inovação?
Zegon – Resistência sempre vai existir, eu admiro os puristas mas tem gente pra mim que é igual aos rockabillies (que eu gosto muito na real), mas vivem como se estivessem no passado, os tempos mudam, pra melhor em algumas coisas, pra pior em outras, sou saudosista também, cresci nos 70, nos 80 já estava na balada, 90 nas cabeças, tô aqui de pé e a milhão nos 2020 já.
Music Non Stop – Pode viajar nessa: qual é o cenário real ou hipotético pra se escutar Break Loose do Atmo?
Zegon – Break Loose é chapado demais, tem um puta equilíbrio de melodia e drop nervoso. Acho que depende de quem ouvir, pode funcionar num set. Pode funcionar pra começar o dia, colocar ela no despertador, ela te acorda suave, como a mãe chamando, com carinho, e você demora aquele tempo pra acordar, pede pra dormir mais um pouquinho de repente vem aquela virada e o drop violento te joga da cama no chão…kkkk!
Music Non Stop – Porque temos tão poucas artistas mulheres no game?
Zegon – Acho que tem poucas mulheres produtoras num geral. Cada as mina nerd??? DJs mulheres já existem muitas, de alto nível, na real aqui no Brasil no geral vejo muito pouco DJ produtor que veio de rap/hip hop, que é a minha escola, muito poucos DJs seguiram carreira autoral. Vejo muito o oposto, produtores virarem DJs. Acho que as “minas DJs” podiam começar a produzir mais, não ía doer nada…
Music Non Stop – Pode-se dizer que este disco foi uma resposta ao que rolou no #BrazilianBass?
Zegon – Não, não foi resposta de forma alguma, ninguém que faz bass music quer ser dono de um rótulo ou ter um crew que tenha o nome de um estilo musical, ainda acho que “eles” erraram, mas beleza, isso pouco importa… Como eu mesmo falei algumas vezes, o sucesso do “brazilian bass house” abre alas pra outras vertentes do bass, ninguém tem nada a perder…
Music Non Stop – Você e Alok já fizeram alguma colab?
Zegon – Ainda não, mas já trocamos alguns sons e ideias de beats, quem sabe…
Alok pega o alvará do bass com Zegon
Music Non Stop – Como você pensa a curadoria do Buuum Trax, poderia citar algum nome, ou mesmo um A&R?
Zegon – Não me espelho muito em ninguém, ou nenhum selo. Claro curto o trabalho de vários, mas quando começamos o Buuum não existia uma cena local tão grande. De qualquer maneira, aceitei o convite do Buuum com uma imposição apenas, poder ser diretor do selo e também artista, poder sentar dos dois lados da mesa. Já passei por muitas gravadoras, trabalhei em algumas centenas de discos e projetos, acho que hoje em dia posso dizer que sei bem o que um artista passa, posso ajudar em muita coisa, desde chegar ao som, até mostrar que não existe milagre, que existe trabalho. Sem dúvida se fosse citar um A&R seria o Diplo, o que ele alcançou nesses últimos quatro anos é muito maior que qualquer outro A&R já tenha feito na nossa geração…
Music Non Stop – Quando você começou a produzir trap com o Tropkillaz imaginava que o bass se tornaria um guarda-chuva tão amplo como hoje?
Zegon – Na real, eu comecei a produzir o que a gente faz com o Tropkillaz bem antes do rótulo do novo trap, que surgiu em meados de 2012. Já produzia hip hop instrumental com 808 e samplers de vocal em diversos BPMs… Acho que aconteceu naturalmente, sempre quis fazer música que não dependesse de MC’s , desde que ouvi Bomb The Bass pela primeira vez. Acabei com o Tropkillaz chegando no meu estilo carregando essas influências.
Music Non Stop – Como rolou a transição do maximalismo do N.A.S.A. para as baixas frequências?
Zegon – No começo eu evitei muito a associar o rótulo trap à minha música, acho que houve total apropriação feita pela nova geração pós-2012, que começou a usar a fórmula dos beats de Atlanta misturada com electro, house e techno. Eu não descobri esse novo trap ouvindo novos artistas, faço parte da primeira geração que puxou o bonde, não seguiu a onda, surgindo meio que como um inconsciente coletivo.
Já fazíamos beats quebrados com 808 em variados BPMs com samples de vocal e build-ups, a mesma fórmula que depois foi rebatizada, é interessante lembrar essa fase do electro maximal, e do Blog House, que a maioria dos DJs de hip hop fora do Brasil em 2007, 2008 entraram e acabou gerando o surgimento da EDM mainstream. Mas na real nunca saímos do hip hop, essa época foi a forma que achamos de nos inserir na cena eletrônica. O Craze e A-Trak tiveram uma trajetória bem parecida, no caso o Craze no final dos 90 no auge do drum’n’bass, mergulhou de cabeça, porque o hip hop sempre foi muito limitado. O que eu sinto é que hoje tudo está bem mais aberto em estilos e fusões, os estilos totalmente colidiram e os públicos se misturaram.