DJ Oliver Dom Jack Oliver Dom Jack – foto: reprodução Instagram

Oliver Dom Jack, um dos maiores DJs do nordeste, é mais uma vítima da Covid 19. A vacina não chegou a tempo.

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Oliver Dom Jack, uma das maiores referências da house music da Bahia, nos deixou nesta sexta feira, vítima da Covid 19.

Uma nuvem de gafanhotos passou desta vez por São Paulo. Consumindo a esperança, devorando o que resta de conforto às quase 500 mil pessoas que velam seus entes. A horda, agora sobre duas rodas, continua se divertindo. Afinal, esta é a missão diabólica e cínica para a qual foram eleitos.

Enquanto assistíamos embasbacados ao espetáculo midiático da gangue de Peter Pans infernais, a Covid levava um dos mais importantes DJs da Bahia, Oliver Dom Jack aos 45 anos de idade.

 

A luta de Oliver pela vida (pelo menos esta vida) durou poucas semanas. Antes disso, passava bem e reverberava sua música com a doçura de sempre. Apaixonado por House Music e mestre das carrapetas desde os anos 90, desenvolveu um protagonismo importantíssimo no cenário do nordeste, principalmente no circuito LGBT.  Salvador ferve de uma outra forma neste final de semana. Ferve de revolta. Claudio Manoel, DJ fundador do coletivo Pragatecno e grande articulador da cena eletrônica nordestina, ratifica:

O DJ Oliver Dom Jack foi vítima, infelizmente, dessa política genocida pela qual estamos passando. A vacina anti covid não chegou a tempo para ele, como para essa enorme maioria de nossa população. Perdemos um artista que dedicou, com paixão, sua vida para a música, participando com intensidade para a formação da cultura do dj na Bahia. Uma tristeza! Márcio Santos Dj Oliver Dom Jack, atuava em várias frentes (eventos corporativos e festas) mas destaco aqui sua paixão, pesquisa e divulgação da House Music, a qual o consolidou como um ícone da cena local.

Marcio Santos, que posteriormente alterou seu nome artístico para Oliver Dom Jack, se comunicava com DJs de todo o país, trocando informação musical, ensinando, aprendendo.  Finalmente o conheci pessoalmente quando esteve na temporada Colors 2020, que aconteceu em São Paulo, no Whiplash Bar.  De fala e movimentos serenos, exalava paixão pela música e pela noite. Se soubesse que não os veríamos mais, teria agradecido a ele por tudo o que fez pela house no Brasil. Faço-o agora: Obrigado Dom Jack!

 

O encontro registrado na postagem acima pelo próprio Oliver era também o primeiro rolê “não virtual” com o amigo e DJ Elson Cabral, articulador de grupos de “houseiros” desde a época do Orkut.  “Dom Jack era um cara fácil de relacionar. Tinha áurea boa… Cheio de Axé. Sempre conto a história que ele me pediu pra comprar uns equipamentos aqui em SP, na boa fé (fiz de boa fé também…). Os sets tinham sempre uma pegada Afro boa… Mas passeavam do Disco ao Tech tranquilamente. E ele tinha muito prazer em separar o repertório, no capricho… Sei da importância dele na cena baiana… O cara vai fazer falta.

A elegância no trato com as pessoas fez de Oliver uma rara unanimidade. “Marcio era um gentleman” – define com perfeição Mauro Telefunksoul, outro seminal DJ soteropolitano e contemporãnio de de Dom Jack – tanto para ensinar seus conhecimentos quanto para elogiar. Nosso papo era sempre gostoso, musicalmente falando, sempre pensando questionando o que podíamos melhorar, para que nossa cena seguisse com música boa e cultura. Uma grande perda em minha vida”.

Benjamin Ferreira, original do Pará e membro original do coletivo Pragatecno (hoje baseado em São Paulo), também falou ao Music Non Stop

“Oliver era um ótimo DJ, apaixonado por música, especialmente disco e house. Além disso, era apaixonado e passional por tudo que envolvia a profissão, se posicionando sempre por tudo que considerava justo, sempre com coerência. Soma-se a isso uma doçura imensa com os amigos de profissão e todos ao seu redor. Vou sentir muita saudade dessa amigo querido, que eu vi poucas vezes mas com quem interagi tanto pela internet, especialmente com as lives de pandemia.”

A música de Oliver era presença obrigatória em grandes eventos da cidade, como os Festivais de Verão e as Paradas Gay. Participou de absolutamente todas até o ano de 2012. Comandou a pista de clubes como  Holmes, Bizarre, Mix Ozonio, Off Club e San Sebastian. Sua postura incorporava os conceitos originais e autênticos da house music: o respeito, a inclusão e claro… o groove!

Oliver Dom Jack

foto: reprodução Instagram

Em meio a pandemia que o levaria de Salvador enquanto orcs motociclistas celebravam a morte em São Paulo, Dom Jack começou a publicar sets onlines. Sensíve, chamou sua última série de mixes de , chamada de Xô Urucubaca – Baile Astral.

Um adeus definitivo à urucubaca que toma conta do Brasil. Também um anúncio de sua nova residência. Daqui, ficará a  saudade e uma curiosidade em saber como é que estão fervendo estes Bailes Astrais aí em cima.

O set, de duas horas, é excelente. Mais uma vez obrigado, meu amigo!

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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