DJ, criador da festa de rua gratuita Free Beats e do coletivo Bike System, Mauro Farina vem se dedicando a construções de bikes com sound systems para tocar na rua.
Mauro também está no programa Cultura Makers do Discovery Channel, que começou a ser exibido no dia 28 de abril. O episódio em que ele desenvolveu uma nova bike vai ao ar no dia 5. Leia nossa entrevista:
Por que você acha que enquanto música na rua é uma atração cultural e turística em muitos países, no Brasil é caso de polícia?
Mauro Farina – Sem dúvida, os movimentos culturais de rua no Brasil são caso de polícia sim, principalmente em locais periféricos onde a repressão e a truculência da polícia é bem mais forte. Diferente de fazer no centro de São Paulo por exemplo, onde visivelmente a polícia fica mais branda por conta do público acabar sendo em sua maioria elite branca. Isso tem que acabar, com esse novo governo piorou, já tem registros de festas sendo desligadas mais cedo, antes das 22h, mesmo com autorização e isso é totalmente contra nossa Constituição! Sempre gosto de lembrar aos policiais quando vêm em nossos eventos que o artigo cinco da Constituição brasileira existe pra proteger o direito de nos manifestarmos, seja politicamente ou artisticamente.
Em que aspectos a bicicleta e sua cultura estão próximas da cultura de ocupação do espaço público com a música?
Mauro – Existe um aspecto sociocultural grande na bicicleta e na mobilidade. São Paulo é nova em ciclovias e a mobilidade urbana por via de bikes tem tido mais visibilidade agora. Ainda estamos muito no início, mas a Bicicleta Sonora é essencial pra cidade, por que é divertida e prática e ela traz alegria. E o mais importante: conseguimos estar em mais lugares, mais ocupações, com menos impacto, já que não ficamos muitas horas parados e você atinge mais pessoas por conseguir ir mais longe e em mais locais.
O que você acha que está rolando de mais legal em relação às festas no Brasil de hoje?
Mauro – Acho que temos muitas festas que além de serem ótimas referências de entretenimento, também tem um cunho político, como a Bateko que nasceu em Salvador, que exalta e valoriza o movimento negro e a diversidade sexual, Ministereo Público também de Salvador, que além de fomentar a cultura sound system, acabou virando uma referência na cidade como dos poucos eventos que ocupam espaço público durante o ano em Salvador. Sounds in the City também é um exemplo de qualidade e uma enorme referência no Brasil, ocupando espaços públicos e levando música de alta qualidade de graça para a juventude em Florianópolis. Acho que são bons exemplos de eventos que a galera pode ir curtir muito e o mais importante, o jovem volta pra casa com uma mensagem importante na cabeça.
Em relação aos DJs e produtores, quem você destacaria?
Mauro – Minha mana Mari Mats tá cada vez mais cabulosa! Produtor, nosso pupilo, Ubunto, que já se apresentou muito conosco tá arrebentando. Fiquem de olho no que vem por aí! Vou aproveitar e citar um disco também do nosso Mestre Totonho e os Cabra, com o magnífico disco “Samba da Luzia Gorda”. É atemporal, é afrofuturista, é rap ruralista é uma LOUCURA! Sem dúvida um gênio e tem participação de pessoas como Otto e a crítica escrita por Tom Zé. Querem mais? Rs!
Você acha que a repressão do conservadorismo aka fundamentalismo aka armamentismo aumenta a potência da rebelião dos que não se enquadram?
Mauro – Acho que tudo isso que está acontecendo está criando ainda mais força para os movimentos das minorias. Quando somos esmagados pelo sistema escroto que estamos vendo aí todos os dias, isso cria os elementos perfeitos pra uma revolução. Para criar ainda mais mudanças e melhorar nosso país. Uma pena que sempre tem que ser da forma mais difícil e com tanta ignorância e intolerância, mas gosto de acreditar na mudança. Fico muito feliz com tudo que tenho visto, com essa juventude mais ativa, com todas essas discussões que estamos fazendo e esses questionamentos que esse governo nos trazem todos os dias, isso é muito importante, esse é o caminho.