O patrão ficou maluco: Dudu Marote compartilha tracks originais do mítico Tim Maia Racional 3

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Produtor de mãos mágicas que já trabalhou com bandonas pop como Skank e Pato Fu, mas que sempre manteve os pés e a cabeça na música eletrônica mais underground com seus projetos autorais (PRZTZ e VCO Rox, com Paula Chalup), Dudu Marote acordou animado neste sábado (4) e resolveu compartilhar em sua timeline no Facebook um vídeo mostrando as multitracks que deram origem ao disco Tim Maia Racional 3, que ele encontrou perdidas num garimpo no Rio de Janeiro no ano 2000.

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“Essa história começa no ano 2000, na época das raves. A gente adorava Tim Maia Racional, eu andava muito com o meu amigo Ratão. Isso foi antes do filme Cidade de Deus. Eu tava produzindo um disco no Rio, do Afroreggae. Trocando uma ideia com o William Luna Junior, comecei a falar do Tim Maia Racional pra ele, e ele não sabia muito bem do que se tratava. Mas ele tinha trabalhado com o Tim Maia. E ele falou pra mim: ‘acho que eu tenho um tape desses’. Quando a gente abriu o projeto de protools, a gente ficou louco, porque eram quatro faixas inéditas do Tim Maia Racional”.

Daí em diante, no vídeo, ele mostra as músicas que foram gravadas provavelmente em 1976 e só foram encontradas em 2000, ou seja, ficaram 24 anos no limbo. “O mais incrível é que isso aqui é meio que um ensaio da parada. Quando a gente abre tudo, pelo amor de Deus!”. E entra a banda toda com a voz de Tim Maia. Ele vai abrindo canal por canal até chegar à faixa completa. “Era demo, então não é perfeito. Mas acho que não ser perfeito é a parada”, descreve o produtor.

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O material sobre o qual Dudu fala é sequência das gravações de dois dos discos mais importantes da carreira do cantor: Tim Maia Racional volumes 1 e 2, lançados respectivamente em 1975 e 1976, quando Tim estava imerso na Cultura Racional, liderada pelo “guru” Manoel Jacintho Coelho e os ensinamentos descritos nos livros Universo em Desencanto – por isso os discos são lotados de referência ao “livro”, “Manoel, o maior homem do mundo”, “imunização racional”, entre outras pirações.

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Tim depois descobriu que Manoel era um embuste – dizia para seus seguidores serem abstêmios, o que era um esforço gigante para Tim, enquanto bebia e farreava às escondidas – e renegou os discos. Mas já era tarde. A combinação das letras non sense e a musicalidade de Tim e sua banda, em sua melhor forma, fizeram dos dois álbuns verdadeiras lendas da música brasileira.

O material encontrado em 2000 acabou dando start ao álbum Tim Maia Racional vol. 3, lançado em 2011, com produção de Paulinho Guitarra e Kassin. Dá pra ouvir o disco em plataformas de streaming tipo Spotify, mas Dudu conta que o material que ele divulgou no seu Facebook é diferente daquele que foi lançado.

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“O Kassin e o William Luna decidiram regravar várias coisas, acrescentaram instrumentos. Então não é a sessão original que eles lançaram. A sessão original é cheia de imperfeições e isso que eu acho incrível. Um dos maiores produtores musicais que já existiram no Brasil chamava-se Tim Maia. Ele não deixava ninguém mexer em nada dele. Então você mexer nas coisas dele depois que ele morreu é uma decisão questionável”, disse Dudu no vídeo.

“Pra deixar claro e que não fique nenhuma dúvida: o meu apreço e minha gratidão total a Kassin Kamal e William Luna Jr. por terem conseguido trazer à realidade e lançar o Tim Maia Racional 3. Foi muito difícil realizar o que eles conseguiram. Regravar algumas coisas nas faixas foi um reencontro muitos anos depois das pessoas que estiveram na gravação original e uma homenagem do coração a Tim Maia, essa pessoa que tanto nos iluminou, com sua música e sua atitude contra as coisas injustas”, escreveu Dudu em sua timeline, pra não deixar nenhuma dúvida de que o trabalho lançado teve um valor incontestável.

Você pode comparar os dois trabalhos. Aqui vai o Tim Maia Racional Vol. 3 que foi lançado oficialmente em 2011.

E aqui o material original, com explicações detalhadas de Dudu Marote de brinde. Incrível ouvir o disco com esse “áudio guia”. Obrigada, Dudu, certamente o Tim ficou felizão com este vídeo 🙂

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.