Paulo Almeida

‘O país precisa de música’, diz Paulo Almeida, baterista destacado da nova geração

Fabiano Alcântara
Por Fabiano Alcântara

Baterista, percussionista e compositor, Paulo Almeida é referência da nova safra de compositores da música instrumental brasileira. Com três discos autorais lançados, ele é conhecido pela forma autêntica com que interpreta ritmos regionais na bateria.

Aos nove anos iniciou seus estudos musicais e aos quinze uma longa formação no Conservatório de Tatuí. Atua profissionalmente desde os quatorze em orquestras e pequenas formações, além de ministrar aulas.

Paulo está de mudança para Basel, Suíça, após uma turnê europeia no início do ano com seu novo quinteto formado pelo Oliver Pellet (guitarra), Salomão Soares (piano), Diego Garbin (trompete) e Felipe Brisola (baixo). O músico gravou seu quarto disco autoral ao vivo no clube de jazz The Bird’s Eye Jazz Club. O registro deve ser lançado na Europa por algum selo.

Ele também foi selecionado pelo Jazz Campus da Musik Akademie Basel para o programa Focus Year, projeto liderado pelo guitarrista austríaco Wolfgang Muthspiel. Foram selecionados oito músicos e pela primeira vez tem dois brasileiros na banda, Paulo e o guitarrista, compositor e arranjador Fabio Gouvea.

A ideia do projeto é juntar diferentes culturas de diferentes lugares do mundo e formar uma banda de jazz que trabalhará durante um ano intensivamente e recebe convidados do cenário mundial, tais como, Miguel Zenon, Kurt Rosenwinkel, Gretchen Parlato, Dave Holland, Larry Grenadier, Kendrick Scott.

Leia nossa conversa com o baterista em que ele fala de referências, futuro, passado e sua concepção musical:

O que você acha que está rolando de mais interessante na música hoje?
Paulo Almeida – Acredito muito na diluição de rótulos e creio que isso esta rolando em todo cenário musical sincero. Quando digo sincero, falo sobre pessoas que fazem música primeiramente por amor (arte) e não somente por dinheiro. Cada vez mais vejo pessoas de diferentes lugares tocando, produzindo juntos em prol da música. Isso esta acontecendo muito aqui no Brasil e o intercâmbio para se fazer isso em outros lugares fora do pais esta melhorando cada vez mais. Não é algo somente ligado a lugares e sim a concepçōes.

De que maneira você espera que a temporada na Suíça transforme a sua carreira?
Paulo – Com certeza terei muito aprendizado por estar dividindo sons com pessoas de diversos lugares do mundo. O programa que vou participar se chama Focus Year, é um ano focado e intenso trabalhando com diversos artistas do jazz munidal. O fato de estar falando outra língua também me anima muito e também a oportunidade de conhecer outra cultura vai influenciar muito na minha música e automaticamente na minha carreira.

Paulo Almeida é nome quente da nova geração do jazz e música instrumental brasileira

Qual é o conceito do seu quarto disco e por que quis gravar ao vivo?
Paulo – Esse quarto disco é feito em cima de várias pesquisas que tenho feito nos últimos tempos. Claves e compassos diferentes, não tão comuns e também pesquisas de outras concepçōes como de sons da Europa, Índia, África. Tem algumas músicas que soam como mantras africanos, outras como voicings com influência da música erudita nas quais chamo de oração. Sinto como se esse disco fosse como um pedido de “socorro” para a divindade maior. Eu quis gravar ao vivo pelo fato de ter essa experiência. Meus três primeiros discos foram em estúdio e o ambiente de jazz club traz uma energia diferente do lugar, as dinâmicas, nuances, os pequenos barulhos, tudo isso vira parte do som. Esse disco foi gravado em fevereiro na Suíça em Basel, no The Bird’s Eye Jazz Club e provavelmente será lançado na Europa.

Quais são as principais diferenças entre a geração atual e de grandes monstros como Hermeto, Gismonti, Moacir Santos?
Paulo – Acredito que o que essses mestres fizeram sempre estarão presente na música da nova geração. Os timbres, instrumentos e buscas por fusões sonoras são as principais diferenças. Acho que o mundo que vivemos hoje com certeza é muito diferente e tudo isso influencia na nova geração.

Quais são suas maiores influências?
Paulo – São muitas. Nada vem do nada. Mas digo aqui alguns nomes do meu instrumentos: Elvin Jones, Tony Willians, Brian Blade, Jorge Rossy, Jeff Ballard, Nene, Toninho Pinheiro, Marcio Bahia, Edson Machado, Marcus Gilmore, Roy Haynes. Compositores de outros instrumentos: Hermeto Pascoal, Arismar Do Espirito Santo, Guillermo Klein, Miguel Zenon, Wayne Shorter, Coltrane, Miles Davis, Villa Lobos, Fabio Leal, Lea Freire e Filó Machado.

Quais são seus valores essenciais?
Paulo – Amor e respeito. Quando se faz algo com amor se tem respeito e reciprocidade.

Qual a mensagem principal deseja transmitir pela sua música?
Paulo – Não faça música por obrigação e sim por devoção e com muito amor. O restante é consequência de seu trabalho. O país precisa de música e você que esta produzindo também, é um estado de espírito.

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