O Menino d’Olho d’Água chega nesta segunda-feira, 20, no canal Curta! — e o Music Non Stop te conta o que esperar do filme
Um novo documentário sobre a genialidade de Hermeto Pascoal, O Menino d’Olho d’Água, dirigido por Lírio Ferreira e Carolina Sá, estreia nesta segunda-feira, 20 de janeiro, às 22h30, no canal de TV à cabo Curta! (assista ao trailer aqui). Montado de forma a emular a maneira de ouvir o mundo de um dos músicos mais respeitados do planeta, o documentário com pouco mais de uma hora flutua entre o ambiente que permeou a infância de Hermeto, os palcos e suas histórias, desrespeitando a linha do tempo e do espaço, coisa que Pascoal faz o tempo todo.
O Menino d’Olho d’Água mostra como “O Bruxo” busca constantemente atravessar a superfície líquida da simplicidade para mergulhar nas profundezas da sofisticação. As cenas convidam à acurácia auditiva, o que me faz pensar o quão sensacional seria assistir ao documentário em uma sala de cinema. Sons da água, da areia, do metal e do fogo se atravessam, fazendo com que o expectador compreenda de onde vem o som de Hermeto. Superbacana. Em toda à sua vida, Pascoal busca fundir-se com o planeta em que vive, como natureza ou como homem natural, sertanejo.
Pipocam durante o filme pérolas do seu pensamento quântico. “Na teoria [musical], quanto mais se aprende, menos se sente”, conta o músico, que no começo da carreira compunha no ônibus que o levava do bairro de São Miguel Paulista, em São Paulo, onde morou, até o Largo do Arouche, onde tocava.
“Não tinha como registrar, porque não conhecia partitura. Então me sentava no fundo do ônibus e ficava cantarolando as composições, para não esquecer, até chegar no bar, onde tinha um piano”, explica. O Bruxo também conta que chegava horas mais cedo no trabalho para poder estudar o instrumento.
Há diversos documentários sobre a produtiva vida de Hermeto Pascoal, mas o O Menino d’Olho d’Água trata sobre a entidade que existe acima do homem. Obriga-nos a aguçar a audição, que Pascoal tem muito acima da média, e a visão, bem abaixo, por sua genética albina. Enxergar pouco fez com que Hermeto escutasse muito. Muitíssimo.
A abertura do filme traz as clássicas filmagens feitas durante as gravações de Música da Lagoa, em que colocou sua banda toda dentro d’água para brincar misturar o ar da flauta com a água (muitas vezes mergulha, tocando submerso), e um discurso de apresentação absolutamente fantástico de Winston Marsalis: “O Bruxo. Todos os músicos que trabalharam com você durante sua longa carreira foram tocados pela sua magia. Você é a figura central na história da música brasileira, embora sua influência e criatividade sejam ouvidas em cada canto do mundo”.
Para conhecer Hermeto Pascoal, existem vários documentários. Para compreendê-lo, O Menino d’Olho d’Água é imprescindível.