
Letras miúdas, atrações inéditas e brasileiros: o line-up do Coachella 2026
Jota Wagner analisa o time de artistas que vai se apresentar em abril em Indio, Califórnia
Os cartazes de festivais seguem um padrão que divide as atrações em castas tipográficas. Grandão, lá no topo, figuram os headliners, seguidos por uma porção de bandas em letras médias, e mais uma panelada de outros em letrinhas pequenas, como os contratos em filmes de comédia. O valor do cachê, os números na internet (ugh!) e a noção de “tamanho” dos curadores se reflete na escolha de como o artista será apresentado no cartaz oficial. A posição no cartaz virou peça de negociação no mundo festivaleiro — e tem até empresário de banda que briga por isso. Com o Coachella, não é diferente.

Imagem: Reprodução
No caso do festival estadunidense, uma das maiores marcas mundiais do entretenimento ao ar livre — e um dos consolidadores do padrão das letrinhas meritocráticas —, as melhores surpresas ao público quando a gente joga a lupa justamente na lista que aparece do meio para baixo, no cartaz. É fuçando ali que a gente encontra as sacadas incríveis do festival, a ponto de fazer coçar a mão e para ir atrás de um ingresso.
A organização divulgou o line-up completo da edição 2026, marcada para os dias 10 a 17 de abril, e traz atrações absurdas e inesperadas, todas escondidas ali no meio do bololô letrário. Os headliners, os grandões, são a quintessência da obviedade: Sabrina Carpenter, Justin Bieber e Karol G. Mas não é isso o que interessa.
Para começar, vamos nos concentrar nos misteriosos clickbaits do cartaz, responsáveis por criar engajamento virtual no momento em que são divulgados ao público. Logo na segunda linha, consta uma apresentação inédita chamada Nine Inch Noize. Pela primeira vez, o cultuado Nine Inch Nails, de Trent Reznor, se apresentará ao lado do DJ alemão Alexander Ridha, melhor conhecido como Boys Noize. O artista já vinha abrindo os shows da turnê do NIN, e agora vai se apresentar junto dos ídolos. Vale conferir.

Uma “nota de rodapé” também causou curiosidade no cartaz: The Bunker Debut of RADIOHEAD KID A MNESIA. Após sete anos longe dos palcos, o Radiohead anunciou uma turnê europeia que começa dia 04 de novembro, em Madri, e termina dia 12 de dezembro em Berlim. Seria, portanto, a estreia exclusiva de um novo show dos caras no Coachella 2026? Não. Os representantes da banda já declararam que os integrantes não estarão “fisicamente presentes” no festival, o que nos sugere que pode se tratar de uma espécie de exposição interativa dedicada ao grupo.
Reduzindo o molho do line-up, sente-se o aroma de dois ingredientes bastante sabororos: a reverência a grandes clássicos do rock alternativo e da música eletrônica. O festival terá DEVO, David Byrne, Black Flag, Foster the People, Turnstile, The xx, The Strokes, Interpol, as incríveis Lambrini Girls e Suicidal Tendencies. Uma bela lista de imperdíveis.
Na seara eletrônica, a curadoria também reuniu diversas gerações de DJs, figurando lado a lado das bandas em termos de importância e orçamento. O mestre Green Velvet, a sensação japonesa Yousuke Yukimatsu, Moby, Disclosure, Kaskade, Major Lazer, Armin van Buuren tocando ao lado da lenda do techno Adam Beyer, Röyksopp, Adriatique, FKA twigs, Carlita e WhoMadeWho e, para os que gostam do cinema pirotécnico musicado, a estrea do novo show do projeto Anyma, chamado AEden, seguindo a tendência do Coachella em lançar turnês eletrônicas, como fez Alok na edição passada.

Pergunta-se nosso leitor, e os brasileiros? Nesse ano, o hype em torno da nossa música deu uma arrefecida. Os únicos artistas escalados são Mochakk, Luísa Sonza e a modelo que virou DJ Jessica Brankka. Curiosamente, nenhum artista de funk, que está cada vez mais destacado mundialmente.
O tamanho do Coachella faz com que o festival seja uma vitrine mundial e um apontador de tendências para os outros eventos ao redor do planeta. Sabendo procurar no cartaz, dá para encontrar muita coisa boa na edição de 2026, entender a importância da música eletrônica no universo pop mundial e testemunhar que o rock, além de não ter morrido como tantos previram décadas atrás, continua em alta conta.