
O fim da síndrome de vira-latas? Brasileiros superam gringos no The Town
Vitória Zane conta como artistas brasileiros, mesmo em meio a dificuldades e concorrendo com o hype das atrações gringas, lotaram seus shows
É comum que o público fique ansioso pela performance dos atos internacionais de um festival. Frequentemente, eles são escolhidos como headliners desses eventos e são considerados os ticket sellers, aqueles com maior competência para vender ingressos. É plausível também que sejam os mais aguardados, afinal sua vinda ao país não é tão frequente: alguns demoram décadas para se apresentar por aqui. Mas isso parece que tem mudado. Ao menos, é o que presenciamos durante o The Town.

O primeiro fim de semana do festival aconteceu neste sábado (06) e domingo (07), recebendo artistas do rap ao rock. O que chamou atenção foi a euforia nos shows dos brasileiros. Em muitas situações, inclusive, superando o engajamento que rolou com os gringos.
Entre sinalizadores e rodas punk rolando na Cidade da Música nos dois dias, o nível de entrega dos brasileiros nos fez questionar se a síndrome de vira-latas finalmente entrará em extinção. Esse sentimento de inferioridade em relação ao resto do mundo parece estar com os dias contados.
Considerado o palco principal do festival, o Skyline recebeu apenas um brasileiro no sábado, Filipe Ret, e outro no domingo, Capital Inicial. Mesmo tocando às 15h50, ambos encontraram um palco lotado — o que não é tão comum para um horário relativamente cedo como este — e com a galera cantando a plenos pulmões.

Foto: Divulgação
Por sua vez, o The One, outro espaço de destaque no The Town com grande estrutura, já enfileirou hitmakers nacionais. No sábado, começou com Karol Conká (14h40) recebendo Ajuliacosta e Ebony, além de MC Cabelinho (17h) e Matuê (19h20) — este levando uma cenografia em formato de iceberg que tomou conta de todo o palco, e que não perdeu nada para os projetos internacionais. No domingo, teve Supla e Inocentes (14h40), CPM 22 (17h) e Pitty (19h20), em mais uma data com público 100% engajado em cantar e curtir.
O Factory, por exemplo, ficou pequeno para a multidão de fãs de Teto (13h), Wiu (14h45), Borges (17h05) e Budah (19h25) no dia 06. Em todas as apresentações, os artistas escalados lotavam o espaço e os fãs sabiam as letras de todas as faixas. No caso de Borges, especialmente, o palco pegou fogo. Isso tudo às 17h e durante a chuva. E mais: em apenas 25 minutos. Devido a falhas técnicas, o show de uma hora acabou sendo reduzido.
No dia 07, o mesmo espaço recebeu The Mönic com participação de Raidol (13h), Ready to be Hated (14h45), Karina Buhr (17h) e Tihuana (19h25), seguindo a mesma questão já comentada: público presente em peso.
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No palco Quebrada, a ideia geral era a de que não seria fácil para os artistas. Afinal, as apresentações bateriam com o mesmo horário de artistas de destaques do palco Skyline. Foi o que aconteceu com Tasha & Tracie disputando com Burna Boy, e MC Hariel dividindo o mesmo tempo com Don Toliver no sábado. Já Punho de Mahin convida MC Taya bateu no mesmo horário que Bruce Dickinson, e Black Pantera disputou horário com Bad Religion no domingo.
Para adicionar mais um pingo de preocupação, havia a questão da distância, pois o Quebrada era o palco mais distante de todos. Para chegar até ele, era necessário atravessar todo o Autódromo de Interlagos.
Mas adivinha? Os brazucas lotaram o espaço. Hariel, inclusive, preparou um espetáculo com dançarinos e performers. Ele também convidou MC Marks e criou uma atmosfera totalmente compatível com a ideia do palco: a de celebrar os talentos vindos das periferias de São Paulo. Curiosamente, chegou ainda a levantar um inflável de vira-lata caramelo, símbolo da cultura brasileira, que mordia uma águia pelo pescoço, símbolo da pátria americana. É ou não é a soberania nacional?
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Seja entregando performances elaboradas com pirotecnia e cenografia, ou apenas puxando a voz do público e o incentivando a pular numa sequência de sucessos, os brasileiros mostraram no The Town 2025 que estão prontos para dominar o palco e também a plateia.