
O dia em que Omar Hakim descobriu que gravou para hit do Daft Punk
Famoso baterista, que já trabalhou com David Bowie e Miles Davis, contou como descobriu ter participado de Get Lucky
Para quem não frequenta um estúdio onde se produz música eletrônica, soou surpreendente saber que Omar Hakim, o baterista do megahit Get Lucky, do Daft Punk, só soube que “tocou” na música quando a ouviu no rádio. Hakim contou ao site Go With Elmo que, quando gravou as batidas não tinha a menor ideia de que seu groove se tornaria uma bomba capaz de animar estádios de futebol, aberturas das Olimpíadas e dez entre dez casamentos no interior do Brasil. Como é possível?

É simples, se compreendermos como funciona a fábrica de músicas dançantes. Para compor uma canção, geralmente os produtores de música eletrônica recorrem a um banco de sons que já têm guardado em seus computadores, principalmente no que diz respeito à bateria e percussão. A música vai sendo montado em “tijolinhos”, adequados à velocidade e aos compassos. Com os recursos tecnológicos disponíveis hoje em dia, é possível fazer miséria com um som pré-gravado: mudar seu tom ou BPM sem perder a qualidade, inverter, picotar e até mesmo extrair instrumentos da gravação original, usando recursos matemáticos de alto nível.
O recurso mais barato é o bom e velho sample. Encontrou uma virada de bateria legal? Grave-a e deixe-a guardada em seu HD para usar depois. O recurso foi usado à exaustão desde o início do movimento hip-hop. Uma outra forma é comprar loops prontos dos instrumentos. Uma empresa especializada contrata músicos que passam horas gravando ritmos e riffs, faz um tratamento sonoro bacana e os vende em pacotões. O recurso é uma mão na roda na hora de fazer música, mas tem um problema: o groove está acessível a quem comprá-lo, e pode soar igualzinho na mão de outro produtor, no lado oposto do planeta.
Por isso, artistas mais famosos, com orçamento disponível para gravar seus álbuns, recorrem às sessões de gravação. Você escolhe músicos bacanas (Omar Hakim já tocou com David Bowie e Miles Davis), aperta o botão de gravação e manda um “vai tocando ai” para o cara, enquanto se registra tudo e guarda para uma futura música. Quando está ali, experimentando sons, o músico não tem a menor ideia de como ele será usado no futuro. O baterista passou alguns dias no estúdio do Daft Punk, gravou horas de loops, recebeu seu faz-me rir e foi embora.

Anos depois, a dupla francesa estruturou suas batidas com uma criação com começo, meio e fim. Para guitarras e vozes, por exemplo, usar um banco pronto é mais raro. Afinal, nesse momento da composição, os artistas já têm uma ideia melhor do que querem, de como a música deverá soar no final, na hora de fazer a gravação. Foi o que aconteceu com os dois colaboradores mais famosos da faixa, Nile Rodgers e Pharrell Williams.
“Na primeira vez que ouvi ‘Get Lucky’ no rádio, eu estava dirigindo ao lado da minha esposa. ‘Esse ritmo de hi-hat soa como você”, ela disse. Quando o radialista anunciou que era uma faixa do Daft Punk, eu disse: ‘hey, sou eu!'”, contou Omar Hakim.
O baterista ficou chateado por ter tocado em um dos maiores hits do século sem saber? Nem um pouco. Faz parte da vida profissional de músicos participar de sessões de gravações. O músico posteriormente foi convidado a se apresentar com o duo no Grammy, tocando ao lado de Rodgers e Pharrell.
