Atopos é inspirado no trabalho do teórico francês Roland Barthes e é um ótimo aperitivo para o álbum que chega em setembro
Björk sempre transitou em diversos mundos durante sua carreira. O que há diferencia de tantos outros ícones da música, no entanto, é que ela faz isso concomitantemente. Seus trabalhos incorporam ao pop a arte cult, o cinema, a ciência e a moda, tudo empacotado em álbuns que agradam e espantam os ouvidos e os olhos.
Fossora, a ser lançado dia 30 de setembro, não será diferente, pelo que podemos ver no single que acaba de sair, chamado Atopos.
Na música que serve de apresentação para o álbum, Björk não ousa muito musicalmente – o que pode soar uma blasfêmia imperdoável já que a música da islandesa é ousadia pura desde o início de sua carreira. O sentido da resenha, aqui, é que ela segue fiel aos arranjos, elementos, percussões doidas e performances vocais improváveis que a fizeram famosa.
Björk vocaliza com todos os cacuetes de uma cantora de uma espécie de ópera distópica. A artista, no entanto, prefere chamar o novo disco de “biological techno”. O que faz certo sentido, principalmente se nos atentarmos ao terço final da música, onde as repetições de instrumentos e beats transformam a faixa numa espécie de gabba holandês dos anos 90.
A real é que Björk é, com o devido perdão do colóquio, muito louca. Esta é sua missão no mundo. Sua vocação. Arrancar a cabeça do ouvinte de um prato de feijão com arroz e jogar em uma espécie de fricassê de minhoca com geleia de seriguela. Alguém tem de fazer isso na música pop. Björk faz.
“Fossora” significa “aquela que cava”. Segundo a própria Björk, “como cavucar a terra com os dedos dos pés”. A artista mantém seu encantamento com os temas biológicos e naturais e referências de erudição invejável. Neste álbum, se inspirou no teórico francês Roland Gerard Barthes, que desenvolveu seu trabalho “cavando” os símbolos e códigos mitológicos embutidos no significado que damos às palavras.