No After com Andrea Gram – A rainha do techno brasileiro dá uma aula de etiqueta no apartamento alheio

Jota Wagner
Por Jota Wagner

DJ Andrea Gram é a rainha do underground. Assim como Elizabeth (a da Inglaterra), também é eterna: está no rolê desde que tudo começou e não pretende sair.

Foi pioneira, ao lado de Hell´s Club e Base, em trazer o techno ao Brasil com suas festas independentes feitas na raça, o Club Alien. Depois nisso tomou conta da cena brasileira conquistando uma legião de fãs neste longo trajeto com muita técnica, simpatia e elegância.

Elegância esta que leva consigo aos afters. Andrea respondeu à nossas perguntas ácidas com uma aula de etiqueta clubber para apartamentos alheios, alem de nos contar histórias em que amanheceu entre torpedos. Desfruta e aprende:

 

MNS: Como andam os afters que você tem ido ultimamente? Celebrações infindáveis de adolecencia tardia ou comportados bate papos regados a vinho, bafos nostálgicos e receitas homeopáticas? 

Ultimamente, estou fazendo after comigo mesma , na pandemia, no zoom, na minha TR e nas lives, mas naquele tempo…..
peguei o gosto mesmo meio tarde, nas épocas da VoodooHop, meados de 2010, em geral no campo, em Heliodora, com 24 horas de som bom, gente legal, ambiente hedonista,  e uma bela cachoeira me esperando, tudo muito regado na psicodelia e na acústica perfeita.

MNS: Que dicas você daria para um anfitrião de afters? Para receber bem e não passar nervoso no dia seguinte.

Tem umas regrinhas para after, uma delas (que eu já cometi e, sem me tocar, causei rs) é de levar amigos além do esperado. Achava que era de boas , só que não. É de bom tom avisar quem está por vir e se o dono da casa concorda né , afinal não é seu espaço e vira um grande inconveniente caso um dos seus convidados apronte alguma. Legal também servir uns snacks, frutas, gengibre e sempre ponho na roda os meus famosos pepinos em conserva que salvam na hora do breakdown. Acho digno também ao longo do after ajudar o anfitrião a manter o lugar limpo e organizado, e o principal relaxar e aproveitar os bons momentos, altos papos, verdadeira terapia sociológica.

MNS: Vamos falar de viagens longe de casa. Conte-nos sobre como foi o after mais distante da sua cama em que você já esteve.

Teve um inesquecível , não era bem um after na casa de alguém era no próprio clube em Berlin, passei a noite toda dançando e conhecendo pessoas. Lugar super louco, ao lado do Kraftwerk, Tresor, não lembro o nome. Começou ao amanhecer e me enfiei num trailer com vários amigos e ali ficamos, mas depois me toquei que eu estava dentro de um de abrigo, rodeada de artefatos da 2a guerra, sentada numa caixa da cruz vermelha, e ao sair daquele trailer escuro, outro susto impactante foi ver as clubbers todas sentadas nos torpedos. Pesadinha a história mas não tem como não esquecer dessa.

MNS: E falando em casa, uma vez a visitei em seu apartamento. Faz tempo. Me lembrando dele, me ficam duas perguntas. Primeira: já rolaram muitos afters lá? Segundo: você ainda tem aquela mesa de centro com revistas dentro do banheiro (meu sonho)?

Sim , já rolaram muitos afters históricos, imagine a própria casa da DJ, vinil pra todos os lados, Mk2, revistas da época, que eu ainda guardo a 7 chaves, naquela mesinha de centro rs, praticamente um museu clubber da ME!
Lembro que em meio a uma dessas festas bem famosas, ofereci meu apto , chamando só a diretoria , mas acabaram espalhando o endereço, e começou a bagunça. Por fim não sei como consegui, sem ser a chata,  que todos falassem super baixo para não incomodar os vizinhos, enfim foi um stress mas fiquei feliz que correu pra lá de bem. Ufs, nunca mais caio nessa, haha!

MNS: Piquenique virado em parque conta como after?  Sinuca em padaria 11 da manhã?  Conte-nos qual seu substituto preferido para um apartamento enfumaçado cheio de gente mais ou menos?

Vale tudo em after, praia, parque, Wet & Wild, só não vale esquecer o Óculos de sol, e uma água de coco pra repor as energias!
Muita luz depois da baladinha escura, é o que mais incomoda. Eu pessoalmente prefiro um bom apê, lugares confortáveis mas não dispenso as áreas verdes e uma boa piscina, o importante é ter um sonzinho rolando.

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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