Negro Léo

Negro Leo, National e Lugar3 estão entre atrações do festival Áudio Insurgência

Fabiano Alcântara
Por Fabiano Alcântara

O festival Áudio Insurgência chega à decima quinta edição e comemora três anos de desobediência sonora. Composto por bandas, lives, DJs e performances audiovisuais, o projeto retorna ao espaço FFFront na Vila Madadela em São Paulo para testar os limites das sonoridades, mídias, linguagens e sentidos, estabelecendo-se mais uma vez como um campo de experimentação temporário sem hierarquia, onde as transversalidades, erros e dissonâncias são premissas para a convivência.

A XV Áudio Insurgência traz a sinfonia analógica-digital composta por desconstruções rítmicas e tonais do duo National, as sonoridades hibridas repletas de quebras de ritmo do Negro Leo, os movimentos sonoros-lumínicos do Lugar3, as experimentações com guitarra e programação eletrônica do argentino Leandro Conejo e o glitch-hop, breakcore e IDM do produtor Tale Twist.

Leia nossa conversa com o organizador Daniel Gonzalez Xavier, pesquisador e produtor:

O momento político é propício para a arte radical?
Daniel Gonzalez Xavier – Todo momento político é propicio para a arte radical. Neste momento em especial é uma questão de urgência se expressar através de formas estéticas radicais e utilizar as mídias e culturas para a transformação política. A arte deve estar entrelaçada com as lutas sociais para fazer frente ao conservadorismo e aos retrocessos.

O que você acha que está rolando de mais interessante na música hoje?
Daniel – Vivemos um momento musical muito interessante. Isso se deve também ao acesso às ferramentas de produção e a criação de nichos musicais independentes do mercado. A bass culture está sempre gerando crossovers e fusões de estilos e construindo novos gêneros; um exemplo é a abundante cena eletrônica latinoamericana.

Em alguns países da Europa está havendo uma retomada da cena eletrônica extrema e das free partys através do gênero crossbreed que mescla o breakcore, hardcore e o jungle com elementos das raves. O brasileiro Rogério (Killabomb), fundador do núcleo de festa Dirruba, participa ativamente desta cena e é um dos organizadores do projeto Rave Against the Machine em Londres (que pretendemos realizar uma edição no Brasil em 2020 junto a uma série de coletivos locais).

Fora isso, a cena noise está sempre se reinventando e atualmente caminha próxima da cena rock instrumental, como no projeto que une o japonês, ícone do noise, Merzbow com o francês, pioneiro da guitarra industrial avant-garde, Richard Pinhas. A arte-sonora, paisagem sonora e radio-art finalmente adentraram as instituições culturais através de exposições e mostras especificas.

Há ainda movimentos artísticos com expressões sonoras consolidadas que vêm surgindo das comunidades online como o vaporwave e seus subgêneros, e os estilos relacionados a glitch-art, cujas falhas, fraturas, rupturas e estalidos são incorporadas às poéticas sonoras. Também destaco as relações generativas entre imagem e som onde parâmetros musicais interferem nas visualidades e vice-versa, e o Live coding, apresentações onde programadores constroem música e imagens a partir de códigos processados em tempo real.

De que maneira acha que o machismo é mais prejudicial para a cena musical. Genericamente falando.
Daniel – A hierarquia entre gêneros é a mais antiga forma de opressão, e o machismo é prejudicial para a sociedade como um todo. A cena musical nada mais é do que uma extensão e mais um território onde estas relações são reproduzidas. A boa notícia é que as mulheres estão cada vez mais organizadas, fazendo frente ao machismo e ampliando suas vozes e participação nas diferentes esferas musicais.

Nos últimos anos surgiram diversas iniciativas como a plataforma de música experimental Feminoise Lationoamerica, o portal de música eletrônica Feminatronic, o festival Sonora, voltado para compositoras e com o foco também na pesquisa e produção de artigos, além de eventos como o Festival Garotas à Frente, realizado em São Paulo com a participação do grupo e coletivo russo Pussy Riot e o Women’s Music Event, celebrado anualmente com o objetivo de discutir e reivindicar a participação das mulheres no mercado da música.

Como evitar que a insurgência seja capturada e neutralizada pelo mercado?
Daniel – Não há riscos de as insurgências serem capturadas e neutralizadas pelo mercado. Pode-se capturar parcialmente gêneros e estilos, já que o mercado para se renovar necessita constantemente buscar e processar, dentro de sua lógica, o que está ocorrendo nas margens e nos guetos. Mas onde existe poder existe resistência, e as insurgências são formas de organização entre atores heterogêneos e de circulação de afetos que desafia as lógicas do mercado e de qualquer forma autoritária.

O projeto ÁUDIO INSURGÊNCIA tem como lema “Um chamado à desobediência sonora” e se propõe a ser mais um território às margens das demarcações do “bem-estar musical”. O objetivo é testar os limites das sonoridades, mídias, linguagens e sentidos, estabelecendo-se como um campo de experimentação temporário sem hierarquia, onde as transversalidades, erros e dissonâncias são premissas para a convivência.

O que tem te deixado animado ultimamente?
Daniel – Estou animado com as novas dinâmicas e diálogos que vem surgindo entre diferentes cenas musicais independentes de São Paulo, fenômeno que também se observa em outras localidades do pais. Nichos musicais como os da música eletrônica underground, improvisação livre, poesia sonora, live audiovisuais, eletroacústica acadêmica, post-rock e audio-hackers que outrora andavam distantes uns dos outros se aproximaram para criar encontros e projetos, construindo autênticas insurgências sonoras.

Esta intoxicação entre cenas musicais e artísticas tão diversas está favorecendo a circulação de ideias e gerando novas linguagens. Além do mais, núcleos de festas tem organizado eventos nas vias públicas e em espaços de luta política, como ocupações de movimentos sociais.

Também vemos diversos lançamentos musicais através da internet, além de publicações de zines, revistas e livros dedicados as relações entre o sonoro e outros campos do conhecimento.

SERVIÇO

Onde: FFFront – Rua Purpurina, 199. Vila Madalena, São Paulo
https://www.facebook.com/seufffront/
Quando: 5 de julho (sexta-feira) | Horário: 19h à 0h | Ingressos: R$ 15,00 | Censura: 18 anos Programação: – NATIONAL – NEGRO LEO – – LUGAR3 – Camille Laurent e Stefanie Egedy – LEANDRO CONEJO – TALE TWIST

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