Cantora e compositora, Marietta lançou recentemente Analógica. Em uma atmosfera soturna, densa e aérea, a faixa é embalada por uma sonoridade extremamente digital e minimalista, numa concepção de áudio 5D, contrastando com o sentimento presente na voz.
“Nessa composição, observo – de um jeito poético, crítico e sutil – a maneira confusa que nossa comunicação acontece através dos meios digitais. Falo sobre aquele tal risco que todos corremos de que nossas relações se percam ou fiquem somente “na nuvem”. Reflito sobre projeção, expectativa e realidade”, afirma.
Para acompanhar a estreia, um videoclipe assinado por Fernanda Calil é inspirado nas redes sociais, roteiros de cinema, fragmentos, recortes, símbolos e momentos casuais que, entre cenas e representações tão automáticas, se opõem e às vezes aumentam a solidão e a falta de conexão.
“Existe uma personagem que se sente inadequada nessa nova linguagem. Ela lamenta cantando do alto de um prédio, no meio de uma grande cidade, mesmo não sabendo se será ouvida. E não parece ser a única “Analógica”, porque outros também demonstram ainda estar nesta mesma transição. O clipe termina no ar, assim como muitos de nossos diálogos atuais”.
Leia nossa entrevista com ela que – sim, é filha de Guilherme Arantes, mas tentar reduzi-la a isso seria, no mínimo, sem sentido. Saiba um pouco mais sobre esta grande artista.
Fale sobre o conceito de Analógica e por que quis fazer?
Marietta – Essa música é um retrato poético e sutilmente crítico da nossa vida atual, no qual pelos meios digitais de comunicação em seu excesso de informação incessante, imagens, avatares, personagens, histórias e sentimentos se perdem facilmente. Quis fazer por ser totalmente aplicável à vida de todos nós, e pela auto-ironia de me sentir eu mesma antiquada diante deste ritmo frenético. E quisemos fazer um som bem digital, pra gerar contraste com o conteúdo.
O que acha que está rolando de mais interessante na música hoje?
Marietta – O que mais me interessa na música hoje é a possibilidade infinita de explorar sonoridades novas e originais e ao mesmo tempo juntar a força e autenticidade de artistas genuínos que tem o que dizer: Daqui do Brasa gosto muito da Flora Matos, da Livia Nery, Fabriccio, Duda Beat, Liniker, Ludmilla, entre muitos outros artistas maravilhosos das pistas e dos palcos.
Quais são suas maiores influências?
Marietta – Minhas maiores influências são Tim Maia, Marina Lima, I-Threes, Rankin Ann, Black Alien, Chaka Demus & Pilers, MC Marcinho, Dee-Lite, Riachão, Soweto, Born Jamericans, Baden Powel, Sly and Family Stone, Parliament, Thelonious Monk e Baby do Brasil.
Qual considera sua missão na música?
Marietta – Minha missão na música é catalisar sentimentos e situações e transforma-los em algo original e simples, que toque, aqueça, acolha e movimente as pessoas.
Como é ser referência para as mulheres?
Marietta – Importantíssimo e maravilhoso. As mulheres são a base do mundo mas também serão o topo. Muita responsabilidade e vivência nisso pois, há décadas atrás, apenas fazer música já era em si anti-machista, apenas estar ali. Hoje, o cenário está expandindo sem parar então é completamente motivador e educativo.
Que dica daria para uma iniciante?
Marietta – Pesquise, mas crie seu caminho próprio. Não busque se encaixar. Absorver não é copiar. Se comparar e ouvir dicas alheias demais é perda de tempo. Ahahahahah. Quanto mais trabalhar seu autoconhecimento, olhar pra dentro, mais perto da sua arte você e o mundo chegarão.
O que tem te deixado animada?
Marietta – Ver que independente da situação política e social do mundo, o baile não para jamais.