Moroder comprova a genialidade de seu som com set regado a hits e timbres duvidosos

Claudia Assef
Por Claudia Assef

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“Baile da saudade”, “reunião da turma de 1984”, “ravéio”. Esses foram alguns dos apelidinhos que circularam na noitada de sexta (09) que só terminou na manhã do sábado na Skol Beats Factory, em São Paulo. O motivo que levou tantas criaturas da noite a se reunirem numa espécie de missa eletrônica era um só: Giorgio Moroder, o bigodón mais poderoso da música pop, o cara que botou Donna Summer nos cases dos DJs de todo o planeta, o produtor que todo mundo ouviu mesmo sem saber em trilhas de filmes como Flashdance (só pra citar o meu preferido), estava entre nós.

Precisa dizer que a expectativa era imensa? Sobretudo porque a festa era fechada, então estar ali virou uma espécie de cruzada para conseguir o nome na lista (dez leitores ixpertos deste blog descolaram suas entradas numa promo aqui mesmo).

Quem deu uma pesquisada mínima nos sets que este senhor charmoso tem tocado mundo afora já meio sabia o que estava por vir. Vamos dizer assim, seu set, em si, ajudou a entender a essência de suas produções e, consequentemente, de seu sucesso nababesco.

Moroder tem a manha de escolher os timbres que fazem os pelinhos na sua nuca levantar instantaneamente. Ele toca a alma de todo e qualquer ser humano, por debaixo da carapaça. Ele sabe que, dentro de cada um de nós, lá no fundo do hipotálamo, habita uma quedinha por sons… digamos… xumbregas.

Sim, a cafonice faz parte da gente e não venha você achar que é um privilegiado com gosto apuradíssimo, porque lá no fundo você há de confessar que já se emocionou ouvindo Take My Breath Away, enquanto Tom Cruise, de jaqueta de couro, dava uns catos naquela loira.

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Foi o vendo tocar ali, da pista, a apenas alguns passos dele, que percebi o truque de mágica que ele faz. Suas melodias são feitas para agradar às multidões, pra tocar no rádio, pra curtir no sofá comendo pipoca. São feitas pra nocautear a nós humanos da forma mais genérica possível. Ele faz música para todos, sem distinção de tribos, sexo, idade, e isso é o que o torna tão genial.

 

O que ele faz enquanto DJ é colar um monte de músicas do seu extenso portfólio de produções – a maior parte das vezes em remixes que não fariam feio numa festa do peão – com uma ou outra música pop do momento. Ele não é um super DJ e com certeza não está nem um tiquinho preocupado com isso. Afinal, o trampo dele ele já fez, e fez bem pra cacete.

 

A partir desse pressuposto, ele tem carta branca pra tocar as coisas mais improváveis que já ouvi numa pista de dança, como a música-tema de Never Ending Story (tem mais brega?) e Take My Breath Away (sim, aquela do Tom Cruise) num remix desses bem bate-cabelo. A rainha Donna Summer surgiu em vários momentos, num edit-boate-gay de Heaven Knows e, claro, em I Feel Love e Hot Stuff.

Moroder mostrou pra nós, a elite clubber da sociedade, com quantos timbres cafonas se desconstrói um carão moderno. E quer saber? Foi lindo demais.

Vídeos: Andrea Cassola; fotos I Hate Flash

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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