music non stop

Mergulhe no universo da gravadora K-Tel, a grande lançadora de hits da era disco no Brasil

Nos anos 1970 você não tinha internet, não havia muitas revistas nacionais sobre música pop em geral, e você torcia pra aquele primo rico da família viajar a trabalho pros Estados Unidos e, com muita sorte, trazer uns disquinhos e alguma revista gringa pra você saber o que estava rolando lá fora. Claro, a informação chegava com meses de defasagem, porém ainda eram a ponta da novidade mais atual aqui no Brasil.

Por aqui existiam apenas duas maneiras de saber o que se passava no cenário musical internacional: as trilhas internacionais de novela e as poucas rádios FM que se arriscavam a tocar a tal da Disco Music (geralmente esse programas eram as sexta ou sábados depois das 22hs e feitos pros sonoplastas/radialistas, como eram chamados os DJs).

POW! HITS! BANG!! DISCO!!! THE MUSIC MACHINE!!!

Foi aí que em 1975, acabando com o monopólio das trilhas de novelas internacionais, chegaram ao mercado brasileiro umas coletâneas de capas coloridíssimas e que rapidamente viraram febre: as coletâneas da K-tel.

Tudo começou em 1966, quando o canadense Philip Kives, um ex-vendedor de panelas de porta-a-porta, teve a incrível ideia de licenciar vários fonogramas de diferente gravadoras e hits de diferentes países para lançar o que ele orgulhosamente afirma ter sido a 1ª coletânea da história da música em vinil, a “25 Great Country Artists Singing Their Original Hits”. A partir daí, a K-tel começou a lançar inúmeras coletâneas de artistas populares em um único álbum com o slogan “20 Original Hits! 20 Stars!”, misturando pop, rock, soul e etc.

A CHEGADA AO BRASIL
Em 1975 a K-tel chega ao nosso país com a coletânea “Various in Concert – 18 original Hits, 18 original Stars”, que tinha de Minnie Riperton cantando “Loving You” a Barry White com a clássica “You’re The First, The Last, My Everything” e Elton John, George McCrae e etc. As capas coloridas e a diagramação visual e moderna para a época já chamavam a atenção por si só. E fora isso a K-tel reinava no marketing via TV, em todos os horários com comerciais pra lá de modernos sobre as coletâneas.


Em época que não existia Spotify nem Youtube e disco era um artigo caro de comprar, coletâneas eram um salvação, com sucessos e de quebra sempre um artista novo para conhecer no pacote. O único problema desses álbuns é que, como a K-tel colocava as vezes até 20 musicas em um disco de vinil (e todos nos sabemos da limitação de tempo por lado de cada disco), automaticamente as maiores músicas sempre eram cortadas (a famosa baixadinha de volume/fade out) no final das faixas. Mas fazer o que é né ? Era o que tinha pra 1975.

Em 75 a K-tel lançou seu primeiro disco no Brasil , a coletânea de Rock anos 60 com um best of que tinha Little Richard, Bill Haley & His Comets. Em 1976 começaram a sair as coletâneas que dariam série a era Disco da K-tel no Brasil: “Music Express” trazia de cara o hit “Fly Robin Fly”, do trio alemão Silver Convention”, Van McCoy com “The Hustle” e os gringos-abrasileirados The Ritchie Family cantando “Brazil”.

Mas sem dúvida o 1° grande sucesso de vendas no Brasil foi a coletânea “Hit Machine”, com seus 20 hits. Todos meus amigos tinham essa pérola, que trazia Diana Ross, Donna Summer, Elton John, KC & The Sunshine Band, Tina Charles e até os brasileiros fakes-gringos da época: Michael Sullivan, Chrystian (sem o Ralph) e Morris Albert (nessa época os cantores brasileiros adotavam nomes americanos para cantar em inglês e se passarem por cantores internacionais – isso por si só já renderia outro artigo!)

Mais a grande bomba da K-tel foi o lançamento do incrível “Disco Dance -16 Original Stars/Original Hits”. Este foi o disco que animou quase todas as festinhas da época, pois além de ter todos os hits dos anos de ouro da Disco Music, ele trazia uma inovação incrível para época: o disco era MIXADO! Pasmem! Não havia intervalo entre as músicas (mas você podia ver a linha que separava cada fonograma), algo que parecia bruxaria para época e eles estampavam “SOM CONTÍNUO” com orgulho na capa do LP. Ou seja, não havia intervalo até você virar do lado A para o B.

Eu mesmo me sentava e olhava por horas a agulha saltar de uma faixa para a outra e a música não parar… E me perguntava: como eles fizeram isso? “Disco Dance” é um dos meus álbuns preferidos até hoje, por ele eu conheci Andrea True Conneciton e sua “More, More, More”, Penny McLean que lançava carreira solo deixando as Silver Convetion com a incrível “1,2,3,4…Fire”, o drama pista-cafonagem da inglesa Tina Charles em “You Set My Heart On Fire”. E o lado B ainda fechava com “Could It Be Magic” da Donna Summer. Outra coletânea muito famosa no Brasil foi a “Music Machine” (1978), que trazia Alice Cooper, Al Stweart, Fleetwood Mac e até Gladys Kinght and the Pips.

Em tempos bem analógicos, um “record selector” era um “must” na sua sala!

Em 1978 o DJ Ivan Romero da Rádio Cidade do Rio de Janeiro lançou, na minha opinião, um dos melhores álbuns de disco music nacional: o “Cidade Disco Club” (que também era o nome do seu programa na rádio). Esse disco sim , era realmente mixado e não apenas com um “som contínuo”. O “Cidade Disco Club” só tinha 3 musicas em cada lado (todas em versão 12” mix, uma coisa rara pra época). Foi onde talvez tenha sido a primeira vez em que ouvi a linda “The Grand Tour” com seus 6 minutos completos, sem esquecer de “Hot Shot” da Karen Young, e os quase os 10 minutos de “Disco Inferno” do The Trammps.

O “Disco Dance” ali atrás o LP da K-tel predileto do autor

Seguindo o sucesso do álbum de 12” versions mixado, veio também em 1978 o “Disco Fire” mixado por Fernando Mattos, que trazia Celi Bee e sua “Macho (A Real , Real One)”, Sylvester com “You make me fell (Mighty Real)”, Rick James “You and I” e Peter Brown com “Dance With Me”.

Em 1979 até 1980 a K-tel lançou uma sequência de coletâneas de hits pra molhar a calcinha-molhada e sujar a cueca, recheados de hits românticos chamados de “Momentos”. Foram cinco momentos e tinha Commodores, Lulu, James Taylor, The Platters, BJ Thomas e etc.

Sinta a emoção…

Como a K-tel já tinha feito sua parte na história musical nacional, e junto com os primórdios dos anos 80 chegava ao fim a era disco, ela começou a editar artistas brasileiros não tão famosos do grande público, como Almôndegas, Táxi, Trio Elétrico Tapajós e até uma coletânea chamada “Sertão 80”, com hits pré-época de ouro do sertanejo, com Milionário e Zé Rico, Irmãs Freitas, Praião & Prainha e uma série de duetos caipiras para quem queira se aprofundar.

Em 1981 a K-tel lançou a série “Hooked on Classics”, onde a Royal Philharmonic Orchestra tocava um megamix de hits de compositores clássicos (de Tchaikovsky a Mozart, de Beethoven a Bach , Rossini, Handel, a Bizet) sobre uma base dançante, que fez um estardalhaço em todo mundo. Aqui no Brasil não foi diferente, só foi editada pela monstra do mercado na época, a Somlivre, com direito a clipe no “Fantástico” e tudo mais.

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