Marshall Allen Foto: Alexis Maryon/Reprodução

Lenda viva do jazz, Marshall Allen celebra 100 anos

Adriana Arakake
Por Adriana Arakake

Adriana Arakake fala sobre um dos maiores nomes da história do estilo musical

Completar cem anos por si só já merece comemorações, mas completar cem anos sendo guardião do legado do jazz e um símbolo de perseverança e inspiração é digno de muita, mas muita celebração. É o caso da lenda viva Marshall Allen, que está de aniversário hoje (25) — um daqueles músicos que transcendem limitações.

Nascido em 1924, em Louisville, Kentucky, nos Estados Unidos, começou sua jornada musical aos dez anos de idade, quando passou a explorar o clarinete. No entanto, foi durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto servia ao Exército Americano em Paris, que sua vida tomou um rumo inesperado. Lá, teve a oportunidade de aprimorar seu talento musical, tocando saxofone alto e clarinete.

Foi em Paris que Marshall cruzou caminhos com o mágico Sun Ra, uma figura enigmática e visionária que viria a ter um impacto profundo na vida e carreira de Allen. Acreditando que o povo preto nunca encontraria liberdade na Terra, e que a verdadeira emancipação residia no cosmos, propôs através da Sun Ra Arkestra uma “viagem espacial” como forma de libertação negra — e não apenas introduziu Allen em um mundo de criatividade sem limites, mas também o inspirou a desafiar as convenções do jazz. Juntos, eles formaram uma parceria musical que redefiniu os limites do gênero.

Em 1958, Marshall Allen se juntou à lendária Sun Ra Arkestra, onde rapidamente se destacou como um dos principais membros. Por mais de quatro décadas, ele liderou a seção de sopros, deixando sua marca no som único e inovador da banda. Sua música não era apenas uma expressão artística, mas uma jornada cósmica que fundia elementos de mitologia, ficção científica e uma visão utópica de um futuro alternativo para a comunidade negra.

A Arkestra tem uma das maiores discografias da história da música. Com mais de 200 álbuns, fica difícil destacar os melhores, mas cito The Magic City (1966), Super-Sonic Jazz (1967) e Disco 3000 (1978) como alguns dos meus favoritos.

Em 1993, após a partida de Sun Ra, Marshall assumiu a responsabilidade de manter viva a chama do legado de seu mentor. Sua liderança na Arkestra não apenas sustentou o espírito inovador do grupo, mas também inspirou uma nova geração de músicos. Chegando aos cem anos de idade, o músico continua a ser uma fonte de inspiração e admiração para artistas e fãs de jazz em todo o mundo. Sua disciplina, talento e amor pela arte são um testemunho de uma vida vivida com propósito e significado, dedicada à exploração criativa.

Sua história é um lembrete poderoso de que a verdadeira grandeza está além do tempo e do espaço, ecoando eternamente através da música que ele e Sun Ra trouxeram ao mundo.

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Adriana Arakake

Adriana Ararake é DJ é especialista em Jazz, Soul e Blues do Music Non Stop.

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