Louis Armstrong – foto: Louis Armstrong FoundationLouis Armstrong, o lendário jazzista que comemorou “dois aniversários” durante a vida. Um deles, dia 04 de agosto
No dia 4 de agosto comemoramos “um dos” aniversários de Louis Armstrong. Conheça a história da lenda do jazz, que poderia ter soprado velinhas duas vezes por ano.
Uma grande lenda do jazz merece muitas comemorações de aniversário, o dia de nascimento de personalidades tão importantes para a arte e para a música é um dia de grande celebração. Pois Louis Armstrong é o único músico que se tem notícia com dois dias de comemoração só para ele. O fato é uma espécie de “justiça poética”, para alguém que sobreviveu a uma enorme série de obstáculos como a pobreza e o preconceito, para se tornar um dos maiores ícones do século XX.
Louis Daniel Armstrong comemorou seu aniversário por toda vida no dia 04 de julho, tendo 1900 como o ano de seu nascimento. Só quase duas décadas após seu falecimento, pesquisadores encontraram documentos de registro de seu batismo que trouxeram à tona a verdadeira data: 04 de agosto de 1901. Em uma pequena casa de madeira, situada na Rua Jane Allen, 723, propriedade de Florentine Johnson, bisavó materna de Armstrong. Nasceu “Satchmo” (apelidado dado ao músico derivado do truncamento de “Satchel Mouth”) a poucos passos do French Quarter, e do extinto Storyville, o lendário bairro boêmio de New Orleans e berço do jazz.
Uma nova forma de tocar trompete
Armstrong desenvolveu uma forma de tocar trompete e cantar que teve impacto nos músicos que se seguiram e influencia até hoje. Pegou a música do estilo New Orleans com suas origens cruas e a transformou, apresentando ao mundo uma forma de arte super refinada. Antes dele, alguns trompetistas como Buddy Bolden são igualmente importantes para a criação do jazz. Bolden, por exemplo, é reconhecido como o criador do ritmo sincopado típico do Dixieland, que na época era conhecido como “Spanish Tinge” e descendia da batida habanero predominante na música espanhola. Uma grande pena não haver registros das apresentações de Buddy Bolden ou gravações de suas músicas, mas o jovem Armstrong estava lá e com toda certeza foi influenciado por esse grande nome do jazz. Enquanto isso, nos clubes de Storyville, Jerry Roll Morton aperfeiçoava o ritmo típico que é a maior identificação do estilo New Orleans até hoje e pode ser sentido nos pianos de Professor Longhair até Dr John, por exemplo.
O jovem Louis – foto: divulgação
Louis Armstrong gravou canções de sucesso por 5 décadas e compôs dezenas de músicas que se tornaram padrão de jazz. Foi preso aos 13 anos de idade, após disparar pelo ar com a pistola de seu padrasto. Enviado a um reformatório, aprendeu algumas notas com um professor de trompete da banda da instituição. Desde então, avançou rapidamente, tocou em bandas marciais pelas ruas do French Quarter e nos barcos dançantes do Rio Mississipi. Em 1922 entra para a banda de seu ídolo Joe King Oliver, a Creole Jazz Band, e muda-se para Chicago. Incentivado pela então esposa, a pianista Lil Hardin, que também era integrante da banda de King Oliver, Satchmo vai em busca de montar sua própria banda e cria então importantes trabalhos com a Armstrong Hot Five e a Hot Seven e entre 1925 e 1928 emerge como um dos primeiros grandes solistas de jazz.
Louis Armistrong – foto: Eliot Elisofon – Revista Life
A época de ouro, em Nova Iorque
Em 1929, o já famoso artista muda-se para Nova Iorque, onde firma contratos com grandes gravadoras e com os maiores estúdios de Hollywood. Apareceu em mais de 20 filmes, realizou em média 300 shows por ano, com turnês pelo mundo que lhe renderam o apelido de “Embaixador Satch”. Lançou diversos discos de sucesso como Satchmo Sings (1955), Ella & Louis (1956), Stardust (1988, compilando faixas gravadas nos anos 30), Yeah! (1966), What a Wonderful World (1968), entre outros. Os melhores de todos, na minha opinião, são os da coleção The Complete Hot Five & Hot Seven Recordings. Os solos de trompete de Louis combinam perfeitamente ritmo e melodia, e é possível sentir que, no improviso, ele estava muito a frente de seus contemporâneos em todos os aspectos, como domínio do instrumento e conhecimento harmônico. São solos de tirar o fôlego. Algumas das faixas tem vocais e a grande história é sobre a música Heebie Jeebies: durante a gravação, Louis teria deixado as folhas com as letras caírem no chão e para não atrapalhar o take, improvisou usando sílabas sem sentido, popularizando assim a técnica Scat Singing, que anteriormente já era utilizada por alguns artistas da África Ocidental para marcar os padrões da percussão com sílabas fixas.
Aos 62 anos, no ano de 1964, Louis alcançou o feito de ser o músico mais velho a ter uma canção no número 1 das paradas da Billboard. Hello Dolly foi o primeiro disco a tirar os Beatles da primeira posição em que se mantiveram por 14 semanas consecutivas.
Direitos Civis, injustiça e muita comida
Apesar de Armstrong financiar e apoiar o Movimento pelos Direitos Civis, foi bastante criticado por alguns ativistas que o viam como um “Tio Tom”, “sempre sorrindo, com um lenço na mão”. Contudo, o artista foi o único músico de jazz a se pronunciar publicamente contra a segregação escolar em 1957.
Satchmo escreveu duas autobiografias: Swing That Music, 1936 e My Life in New Orleans (1954), além de mais de uma dezena de artigos para revistas e milhares de cartas em que assinava ocasionalmente com “Soul Foodly Yours”e mais frequentemente “Red Beans & Ricely yours”, em alusão a seu prato preferido. A paixão e prazer pela comida de Louis Armstrong, alias, são um capítulo a parte: conta a lenda que, quando Armstrong ainda paquerava Lucille, pediu a ela que preparasse o prato. Ao término da refeição, Armstrong primeiramente se desculpou com Lucille e disse que ela nunca devia ter presenciado alguém comendo tanto. Em seguida a pediu em casamento. O casal foi feliz por 3 décadas, até a morte de Louis, em 1971. A casa em que moraram, situada no Queens, se tornou o Louis Armstrong House Museum,
Aqui vai a Receita de Feijão Vermelho Creole – por Lucille e Louis Armstrong
1 kilo de feijão vermelho
1 pedaço grande de bacon com gordura e carne ou carne de porco salgada
1 rabo de porco salgado
1 lata de molho de tomate
2 cebolas em cubos
1 pimenta do sino picada
5 pimentas secas
1 dente de alho picado
sal a gosto
Lave bem o feijão e deixe de molho durante a noite em água fria. Certifique-se de cobrir o feijão. Para cozinhar, despeje a água do feijão e adicione água fresca para cobrir. Adicione a carne de porco salgada ou bacon, deixe ferver em fogo alto e panela tampada. Abaixe o fogo para um pouco mais que o mínimo e deixe cozinhar por uma hora e meia. Adicione a cebola picada, o alho, a pimenta de sino, as pimentas secas. Cozinhe 3 horas. Adicione o molho de tomate, cozinhe por mais uma hora e meia, acrescentando água sempre que necessário. Serve 6 pessoas. Sirva com arroz branco e algum dos inúmeros discos de Satch.
Louis Armstrong era tão popular que, em 1960, os dois lados de uma guerra, na República Democrática do Congo, pararam de lutar para assistir o show do artista. Sua afabilidade e excelência musical o levaram ao posto de uma das primeiras grandes figuras pop do século XX. A verdade é que a vida de Louis Armstrong é digna de um belíssimo filme.
“Toda vez que eu fecho meus olhos, tocando meu trompete, eu olho bem no coração da velha e boa New Orleans… Isso me deu algo pelo que viver” Louis Armstrong
