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Em meio a polêmicas, Lollapalooza 2023 entrega grandes shows e consegue driblar ausências de headliners

Rosalía se apresentando no Palco Chevrolet do Lollapalooza Brasil 2023

Rosalía - foto: divulgação

Lollapalooza teve serventia máxima de nomes como Rosalía, Lil Nas X, Billie Eilish, Tame Impala e Jamie XX 

por Rodrigo Airaf e Claudia Assef

 

O já tradicional (e intenso) fim de semana de Lollapalooza Brasil 2023, que aconteceu entre sexta (24) e domingo (26), será lembrado por um line-up forte, coerente e cheio de diversidade e inovação, mas também como uma edição de azar para os fãs de bandas como Blink 182 e Drake, que cancelaram suas apresentações. Ainda que seja difícil falar sobre tudo o que vivemos naquela correria toda, fizemos um recap dos destaques. 

Não sem antes falar que, lamentavelmente, pela segunda vez em seus 10 anos de Brasil, o festival foi alvo do Ministério Público de São Paulo, que encaminhou uma notícia-crime para que seja investigada uma possível prática de trabalho análogo ao escravo entre os carregadores contratados para o evento. ​​No laudo, há indicações de que eles teriam sido obrigados a trabalhar por 12 horas e tinham que dormir no Autódromo para vigiar equipamentos. Esperamos que a produtora responsável, a T4F, se manifeste e esclareça o ocorrido. A mesma acusação recaiu sobre o festival em 2019.

 

Nossos destaques do Lollapalooza

Rosalía, headliner do palco Chevrolet, no domingo, já é tida como uma das melhores performances da história do festival, e as razões são inúmeras. Ao vivo, ela faz jus ao fato de ter virado um fenômeno internacional. Que estrondo! Foi um misto de vozeirão, excelentes coreografias, um aproveitamento de palco minucioso e músicas com a cara da latinidade pop da cantora de 30 anos. Ela canta, dança, interage com o público com um humor de milhões, toca piano… ela faz tudo. 

 

 

Outro aspecto que tornou o show de Rosalía tão especial foi a direção de imagens, que tomou vida própria. Rosalía fez parecer que o camera man era parte do time de dançarinos, e podíamos ver os ângulos de câmera virando um fator fundamental da narrativa do show em todos os momentos – inclusive quando Gloria Groove apareceu na grade para dar uma palhinha no show. Foi um show produzido realmente para que todos se sentissem imersos, fosse visto de perto ou de longe. 

Nessa mesma categoria de “divas que fazem tudo” está Billie Eilish, que foi uma das artistas responsáveis por ajudar o Lolla a bater o recorde de 103 mil participantes na sexta-feira, no palco Budweiser. Apresentando um repertório extenso e uma mistura de doçura e atitude, a cantora nos fez passear um pouco dentro de um verdadeiro “billieverso” cheio de criatividade, belas músicas, visuais psicodélicos interativos no telão e conversas sobre amor próprio. 

 

 

Uma ressalva sobre o show foi o fato de ela ter se apresentado logo após o fenomenal Lil Nas X, que entregou um show que preencheu, literalmente, o palco. Lil Nas X, grande e glamouroso, levou ao Lollapalooza uma apresentação com cheiro de Madonna dos anos 90, repleta de referências de moda, dançarinos quentes, coreografias, cenografia, projeções e surpresas, como a gigantesca cobra prateada e o cavalo à la Tróia no qual o rapper chegou montando para a performance de Old Town Road. Para quem tinha acabado de ver o show hi-energy do rapper americano, verdade que Billie foi um contraponto um tanto morno. 

No domingo também pudemos assistir ao show da diva pop Aurora, uma figura muito fofa (mesmo!), com uma levada mística à la Florence Welch, uma dose de excentricidade, uma voz idílica e uma presença cativante. Foi o show ideal para ver sentadinho no por do sol do palco Chevrolet e sorrir com as mensagens inspiradoras da cantora norueguesa. Abre parêntese para outra polêmica aqui: um dos integrantes de sua banda, o baterista Sigmund Vestrheim, fez um símbolo com a mão numa foto publicada logo após o show que foi interpretado como o “W” que os nazistas usavam para simbolizar “white power” (supremacia branca). A cantora fez um logo post em suas redes negando qualquer possibilidade de ligar o músico à ideologia nazista. 

 

foto: Sidinei Lopes

 

Pabllo Vittar, icônica, esteve onipresente no Lollapalooza. Mesmo sem estar no line-up, Pabllo estava mais nos palcos do que quem estava oficialmente na programação. Foram quatro aparições memoráveis da artista durante o festival, a começar pelos shows de Pedro Sampaio e Lil Nas X, na sexta-feira; Sofi Tukker, no sábado, e Tove Lo, no domingo. É pra quem pode! 

Na área de música eletrônica do festival, o palco Perry’s by Johnnie Walker Blonde teve um time poderoso de artistas para todos os gostos. Teve o DJ e produtor inglês Jamie XX brilhando com uma seleção musical à frente do seu tempo, com uma proposta de som mais cabeçudo, cheio de humores diferentes e até mesmo remixes de Tom Zé e Simonal. Teve Armin Van Buuren fazendo uma apresentação saudosa com seus trance-pops e ping-pongs, embora, à esta altura, já seja mais do mesmo. 

 

Eli Iwasa – foto: Fernando Sigma

 

Teve as divas nacionais Valentina Luz, Curol e Aline Rocha mostrando a que vieram. Binaryh fez uma estreia bem bacana no Lollapalooza, carregando a responsa de ser o duo brasileiro referencial quando o assunto é techno melódico com um quê de storytelling. 

Teve também a imensidão de groove do Purple Disco Machine, recheado de disco house, performers no palco e uma levada otimista que caiu bem para os clubbers.

Eli Iwasa, com um vestido branco belíssimo e grooves de house e indie dance, deixou o público concentradíssimo no seu som até o último momento, quando tocou o remix icônico do Four Tet para Opus, do Eric Prydz. Já são mais de 20 anos de jornada como uma DJ de reconhecimento unânime na cena eletrônica e, portanto, seu lugar é mais que merecido no Lollapalooza Brasil. 

Entre os brasileiros do line-up, nos surpreendemos com a energia imponente das apresentações dos rappers Baco Exu do Blues e L7NNON, que tomaram seus públicos de sopetão com beats suntuosos por cima de ótimas composições. Também conseguimos ver a grandiosidade de Pedro Sampaio, que revigorou o pop do ponto de vista da discotecagem e chamou o público do Lollapalooza para dançar seus mash-ups criativos com ritmos populares. 

 

 

 

Ludmilla foi absolutamente divina logo cedo no palco Budweiser, no sábado. Dava para sentir a energia de realização em seu semblante em todos os momentos, deixando zero dúvidas do motivo de a cantora de 27 anos ser uma das principais artistas pop brasileiras. Um aspecto interessante da apresentação foi a separação das canções por blocos – como o Lud Session, uma sequência de faixas feitas com a Gloria Groove, e o Numanice, que fez o Lolla dançar pagode e R&B.

No meio do extenso repertório e das coreografias de Ludmilla, ela aproveitou ainda para se manifestar sobre o racismo que sofre no dia-a-dia, colocando no telão uma sequência de tweets bizarros de haters, comentando sobre pessoas tóxicas que duvidavam do seu talento e deixando claro que, apesar de tudo, desistir não é o caminho. Soma-se a isso um bom humor incomparável durante todo o show e temos uma Ludmilla bem carinhosa e próxima dos fãs. 

Menções honrosas devem ser feitas a alguns dos shows do palco Adidas, começando pelo eletrônico pop fofinho da dupla francesa Polo & Pan, que contou com a participação de uma cantora que entrava e saia divando pelo palco, trocando de looks e duplando nos vocais ora com Paul (Armand-Delille), ora com Alexandre (Grynszpan). Uma explosão de house bonitinho com vocais bem arranjados e ensolarados para abrir os trabalhos da noite de sexta. 

No domingo, o palco patrocinado pela marca esportiva ficou pequeno para receber os fãs enlouquecidos da cantora americana Melanie Martinez. Aos 28 anos, Melanie tem um séquito de fãs jovenzinhos, o que esconde a estranheza interessante de suas letras, cenografia, música e, principalmente, de seu look. Ela subiu ao palco caracterizada como a elfa Crybaby, com um rosto deformado por uma prótese, orelhas pontudas e um par extra de olhos no meio da testa. Parecia um encontro de Björk com Ariana Grande, com a cantora plena dançando as coreografias com seu corpo de baile e cantando por debaixo da maquiagem pesada. 

 

 

Não dá pra terminar esse compilado sobre o Lollapalooza sem falar do show do Tame Impala, que preencheu o palco Chevrolet no sábado. Uma banda que pode ser escalada para absolutamente qualquer tipo de festival, Tame Impala mostrou a maturidade conquistada nesses 15 anos de carreira e o quanto beberam de fontes como Led Zeppelin, Pink Floyd e Chemical Brothers. Em nenhum momento soam datados e com certeza deixaram os fãs de longa data bem orgulhosos, sobretudo pela força de vontade do vocalista Kevin Parker, que tocou de muletas devido a uma fratura no quadril. 

Para encerrar, Drake foi muito bem substituído pelo prodígio da eletrônica Skrillex. Se alguém sentiu falta, sinceramente não deu para notar. 

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