Lollapalooza 2017 Dia 2: mix de nostalgia e pop eletrônico leva 90 mil pessoas a Interlagos

Claudia Assef
Por Claudia Assef

TEXTO CLAUDIA ASSEF E DANILO CABRAL

FOTOS E VÍDEO: I HATE FLASH

A gente já tinha enfrentado fila pra tudo no sábado (25) nesta que foi a maior edição do Lollapalooza no Brasil até hoje – o festival fincou sua bandeira em São Paulo em 2012, e fez suas duas primeiras edições no Jóquei Club. Então o que esperar de um domingão de sol, com um line-up todo trabalhado num mix de velharias e novidades pop, culminando com o DJ mais bombado do momento no mundo todo, Martin Garrix? Gente saindo pelo ladrão, filas (menores do que as de sábado, diga-se) e um punhados de bons shows.

Nosso dia começou com Duran Duran, em meio a um público composto por uma igual quantidade de molecada e gente de cabelo grisalho. O que é surpreendente, já que a banda não é exatamente conhecida muito menos adorada por quem tem menos de 25 anos. Com um repertório imenso, o show teve hit atrás de hit e, mesmo sem o vigor do passado, embalou legal quem estava no gramado de Interlagos.

Simon Le Bon veio direto do portal dos anos 80 com seu tênis verde new wave

O vocalista Simon Le Bon pode não ser muito bom com línguas estrangeiras (“gracias, Brasileiros?”), mas continua segurando o rojão à frente de um holograma vivo de um dos maiores ícones do pop oitentista. Além do caminhão de sucessos próprios, teve espaço pra uma cover de White Lines, de Grandmaster Flash, um hino sobre os perigos do uso de cocaína, mal hábito que quase levou a banda pro saco. Pra encerrar, o velho truque de jogar bolas coloridas para a platéia ao som de Rio. Obrigada, Duran Duran, por nos transportar direto pro Hollywood Rock de 1988.

Toca atravessar metade do Autódromo para dar uma olhada na , conhecida como a voz do hit mais martelado dos últimos anos, Lean On, do Major Lazer.  Que perda de tempo e pernas. Ela é fraquinha, ainda mais em cima de um palco grandão que ela não chega nem perto de dominar. O arrependimento bateu ainda mais pesado quando soubemos da canja da Céu no show do Duran Duran. Aliás, show bom deve ter sido o da Céu, uma das artistas nacionais mais relevantes dos últimos anos, colocada no horário ingrato das 13h15 de um domingo! Alguém viu?

A musa pop MØ funciona bem no rádio, mas de perto ainda fica devendo um bom show

No palco Skol, era hora da banda Two Door Cinema Club e seu roquinho tira-o-pé-chão que não fede, não cheira e não faz mal a ninguém. Foi um bom aperitivo para quem estava ali querendo ver o Strokes, mas, apesar do hype que ganhou de uns anos pra cá, tá mais pra uma grande micareta indie.

Depois da pausa para reabastecer, fomos junto com uma multidão ao palco Onix, a pistona dos fundos, testemunhar a redenção do novo r’n’b sob as bençãos do Weeknd. A grito de ordem do novo messias black (bounce, bounce, bounce ou pule, pule, pule) está grudado até agora nas nossas cabeças. Se é assim que vai ser daqui pra frente, podemos ficar tranquilos que o r’n’b está em boas mãos. E ele não vem sozinho, Blood Orange, Frank Ocean, Childish Gambino, Kaytranada, Flying Lotus e Thundercat estão nessa também, então​ vamos agradecer aos deuses por uma safra tão boa.

The Weeknd: sim, eu vim aqui abduzir todos vocês

Não dava pra sair do show, quando aquele grave atravessava você, não tinha como se mover, só sentir. Ver o que I Can’t Feel My Face fez com o Lollapalooza foi histórico, um cara no auge tocando seu maior hit para um público que estava lá pra vê-lo. Melhor combinação impossível.

O combinado era ver o show dos Strokes, mas o farejador de bons beats levou estes dois repórteres até o show do Flume. O australiano Harley Edward Streten, de 25 anos, faz parte de uma outra geração de ouro que inclui Chet Faker, James Blake, Jamie XX e até o Diplo. São produtores autorais, muito solicitados pelo universo pop e de ritmos tortos sem tirar os olhos das pistas. O show do Flume foi isso: ele muda os tempos, os beats e as bases para músicas suas e também de uma galera que ele remixou, atrás de um aparato eletrônico musical e cheio de luzes alucinógenas. Seu aparato de projeções é incrivelmente de bom gosto. Como o grosso da massa se desbancou pra ver Strokes, até que deu pra ver Flume de perto e com um bom espaço pra dançar.

Flume: australiano de 25 fez bonito no encerramento do palco Axe

A curiosidade jornalística nos guiou até o palco Perry’s, onde o holandês sensação da EDM, o guri Martin Garrix, do alto de seus 20 anos, faria sua apresentação – uma das mais concorridas do domingo. Nossa intenção era tentar entender por que ele é tão querido e tem um público tão grande, presenciando sua gig no Autódromo. Mas não foi dessa vez. Não dava pra chegar nem na entrada do palco, de tanta gente que queria dançar sob o comando do rapaz. Missão não-completada por falta de espaço físico – talvez seja hora de rever o espaço do palco dedicado à música eletrônica pra 2018, né, Lolla?

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Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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