FOTOS: I HATE FLASH
Se você está lendo este texto, é bem provável que não teve pique e ficou em casa vendo tudo na TV, mas quer saber o que rolou pelas palavras de quem esteve lá. Talvez eu tenha cometido um erro por não ter feito o mesmo mas, do alto da minha ingenuidade, topei encarar mais um festival em Interlagos. Ainda que a ida até lá seja tranquila – o combo metrô + trem funciona bem – a falta de orientação de onde entrar, comprar ingresso ou retirar credencial ainda é um problema. Depois de passar por vários portões e quase bater o recorde de velocidade da pista de Interlagos, finalmente consigo entrar no Lollapalooza.
A treta já começa na relativamente simples atividade de comprar cerveja. Com a pulseira cheia de créditos – foi simples carregar na hora – a fila da cerveja em todos, absolutamente todos os bares estava ridiculamente cheia. Passei mais de 40 minutos na fila, enquanto o Tegan And Sara tocavam no palco atrás de mim, com som baixo e sol na cara, o que não atrapalhou seu show fofinho, mas que claramente só os fãs curtiram. Não começamos muito bem, Lolla.
Com a noite caindo, era hora de voltar ao punk skazeiro do Rancid, que nos anos 90 era som da molecada e hoje agrupa uma pá de tiozinhos – eu incluso. Estávamos todos lá para vê-los pela primeira vez no Brasil, a única atração “grande” do line-up inédita por aqui. A banda não faz a menor diferença hoje em dia, mas que foi divertido foi. Os caras ainda se dedicam bastante para fazer um show legal e conseguem levantar a platéia cheia de coroas.
Corre então para o palco ao lado pra ver o Criolo na lata, sem banda, só com DJ Marco e o MC Dan-Dan rimando com ele e para uma platéia bem grande para o palco, com gente sobrando pelos lados. Jogando na sua quebrada Grajauex e cheio do PMA (Positive Mental Atitude) ensinado pelos Bad Brains, a base do show foram músicas de quase 10 anos atrás e que ainda fazem total sentido hoje em dia. Seu já notório poder de reger a massa estava afiadinho e, no final das contas, Criolo fez o seu e entregou tudo que os fãs e quem caiu de paraquedas queriam, uma puta crítica social foda.
O chope fez efeito e tome mais fila para o banheiro, antes de atravessar a pista de Interlagos para ver os patterns sonoros do The XX. Confesso que já havia visto a dupla outras duas vezes e dormi em ambas. Apesar de gostar muito dos discos, inclusive o último, minha expectativa para o show era de tirar um cochilo. Mas, puta que pariu, como estava errado. Foi um showzaço! Foi um privilégio ver e ouvir o XX ao vivo neste momento da carreira. Muito seguros do que estão fazendo, é impressionante o quanto a banda mudou, quanto Romy Madley Croft, a maior cearense internacional que você respeita, deixou de ser aquela figura tímida e apagada para passar a ser o centro das atrações, com sua voz maravilhosa e guitarra segura. Não sem motivo, foi ovacionada antes e depois de assumir sozinha o imenso palco. Na metade final, quando ficaram mais dançantes, quase chegando na house, botaram o gramado do autódromo para dançar gostoso e macio. O recente hit On Hold fez a galera rebolar no batidão grave, para terminarem o show com lágrimas nos olhos e mandarem no inglês britânico um equivalente a “São Paulo, sem palavras, foi demais!”. O XX calou a minha boca com toda pompa e circunstância. Obrigado a eles, que me fizeram lembrar por que eu ainda vou a festivais, para testemunhar shows como o deles.
E ainda tinha o Metallica. Nessa altura do campeonato, o que podemos falar da maior banda de metal de todos os tempos? Continuam quebrando a porra toda, com gás de moleque e atitude “pau na máquina que a gente tem muitos hits”. Abrem o show com duas novas, para reafirmar sua posição de leão macho alfa, um metal que faz sentido tanto para o tiozão que trocou a cabeleira pela barba de motoqueiro quanto pro moleque que conhece a banda há pouco tempo (sim, eles existem, acredite). Onde eu estava, quem não tava pirando no air guitar tava batendo cabeça no air drums, vai vendo. O coro em Unforgiven (Né Valmir, para os íntimos) foi bonito e seguiram misturando coisas do último disco com riffs antigos que faziam a massa pular e se descabelar. Mesmo as firulas de Kirk Hammet na guitarra e com o Hetfield sóbrio e cheio de papinho “vocês são nossa família”, o Metallica ainda sabe fazer um show de rock decente.
Indo embora para casa, fui prestando atenção nos papos da galera que, em marcha, subiam e desciam as ladeiras de volta à estação do trem. A reclamação das filas era, disparado, o maior motivo de protesto, chegando ao ponto de o festival ganhar o apelido-relâmpago de Fillapalooza. Outra falha grave apontada por quem pagou uma pequena fortuna no ingresso foi o insólito fechamento do palco Perry durante a apresentação do mega Vintage Culture, pois já não cabia mais ninguém. Ainda que o espaço para a música eletrônica no festival tenha aumentado muito de tamanho, foi vacilo colocar o queridinho da molecada num palco tido como pequeno, e o mesmo vai acontecer com o Martin Garrix no domingo, pode ter certeza. Mas, se você for ficar no sofá, pode ficar tranquilo que a gente vai encarar esse perrengue e conta pra você mais tarde.
VEJA UM RESUMÃO DO PRIMEIRO DIA DE LOLLAPALOOZA 2017