Prestes a lançar o álbum From Zero e a fazer dois shows com ingressos esgotados no Brasil, banda mostra o peso que carrega em seu nome há quase três décadas
Observando a trajetória de 28 anos do Linkin Park, ouso dizer que Dinho Ouro Preto estava completamente errado quando publicou em 2013, no Twitter, que “falta uma banda q una todas as tribos.Como foi o Norvana“. Não falta. Ela já existe. E isso ficou ainda mais claro depois do anúncio do show do Linkin Park no Brasil, que esgotou os ingressos da performance no dia 15 de novembro em minutos, e fez o mesmo com a data extra anunciada para o dia seguinte, ambos no Allianz Parque, em São Paulo.
falta uma banda q una todas as tribos.Como foi o Norvana
— Dinho Ouro Preto (@dinhoouropreto) April 3, 2013
Na publicação do anúncio do show, cuja turnê é organizada pela gigante do entretenimento Live Nation, inúmeros comentários de artistas brasileiros de diferentes gêneros musicais comemorando a vinda da banda para o país. No mesmo post, rostos conhecidos da época de escola e faculdade, pessoas que nunca imaginei curtirem o som dos caras — por vê-las ouvindo um samba nos stories, por exemplo. Isso me chamou a atenção.
Tudo bem que São Paulo é a cidade que mais ouve a banda no mundo todo no Spotify (mais de um milhão de ouvintes), e eu moro aqui. Mas entre rodas de conversas com amigos ou bate-papos que se desenrolavam nos grupos pelas redes sociais, o fato é que Linkin Park parece unanimidade quando falamos de gosto musical comum. E isso abrangendo a galera de outros estados. Mas por que todo mundo gosta deles?
Antes de tentarmos responder essa pergunta, vale a pena refletir sobre a história. A banda surgiu em 1996, mas alcançou o sucesso em 2000 com Hybrid Theory (indicado como melhor álbum de rock na 44ª edição do Grammy, e considerado a “estreia mais vendida do século 21”), seguido de Meteora, em 2003, outro álbum muito importante para a trajetória do grupo (em #1 na Billboard Top 200 antes de ganhar oito platinas nos EUA). Ambos foram responsáveis por colocarem o nome do grupo entre os maiores do mundo no mercado musical, conquistando inúmeras certificações de ouro, platina e diamante em diferentes países do globo. Esqueça a parada rock/metal. A banda já figurava ao lado de nomes como Beyoncé e Usher na cultura popular.
De fato, Linkin Park chegou ousado, e com uma incrível habilidade de transitar por sonoridades. Capaz de produzir um som pesado de guitarras, a banda também conseguia criar uma baladinha para ser cantada em coro. Da mesma forma, entre gritos de um vocal potente e agressivo, Chester Bennington também encontrava espaço para mostrar toda a leveza de seu lado melódico. Mike Shinoda, por sua vez, carregava uma pegada do rap nas produções da banda, sendo o responsável pelos versos mais rápidos dentro das músicas.
A banda deu aula no quesito construção de identidade, ganhando destaque por sua autenticidade. Fosse na mescla do nu metal com elementos do hip-hop e da música eletrônica — evidenciados também pela presença do DJ Joe Hahn —, ou na construção de uma sonoridade que não conseguimos categorizar, a verdade é que eles foram capazes de criar um catálogo que ninguém conseguia imitar. Até porque criavam faixas carregadas de sentimentos, com letras que expunham dilemas pelos quais atravessavam.
Quatro anos depois, a banda lançou Minutes to Midnight, também cheio de hits, completando a discografia com A Thousand Suns (2010), Living Things (2012), The Hunting Party (2014) e One More Light (2017); isso sem contar os discos de remixes e ao vivo. Uma trajetória de quase duas décadas lançando produções de estúdio, sempre acompanhados de uma legião de fãs e sucessos que rompiam a barreira de gêneros musicais.
As vendas mundiais da banda em todo o catálogo ultrapassam cem milhões e, além disso, LP foi indicado seis vezes e ganhou dois Grammys (“Melhor Performance de Hard Rock” com Crawling e “Melhor Colaboração de Rap/Sung”, com Numb/Encore, em parceria com Jay-Z), além de cinco American Music Awards, quatro MTV VMA Awards, dez MTV Europe Music Awards e três World Music Awards, levando também uma enxurrada de prêmios por votação popular.
Essa relação da banda com grandes números sempre foi marcante. E depois de 24 anos, continua a performar de maneira relevante. É claro que depois da morte de Bennington, em 2017, o Linkin Park entrou numa pausa. Afinal, a banda perdeu um integrante visceral de suas produções musicais e performances no palco. Dando tempo ao tempo (uma característica muito identificável, por sempre manter sua essência com a evolução do som ao passar dos anos), o grupo surgiu novamente em 2024, anunciando uma nova fase, com novos integrantes — a vocalista Emily Armstrong e o baterista Colin Brittain — e novo álbum, intitulado From Zero (nome que encaixa perfeitamente com o caminho que pretendem seguir: o de encontrar alguém novo, não para ocupar uma posição, mas para construir uma nova era), programado para chegar às plataformas em 15 de novembro (mesma data em que performam no Brasil).
Todo o anúncio foi feito em uma livestream que tem mais de 11 milhões de visualizações, e trechos da performance que viralizaram nas redes sociais, como o de Amstrong cantando Numb (um dos maiores hits da banda), por exemplo, passa de 66 milhões de visualizações e 484 mil compartilhamentos no Instagram e no TikTok.
O primeiro single do álbum desta nova formação, The Emptiness Machine, chegou ao Top 5 do Spotify Global e ao lugar #6 no Brasil, conquistando também o primeiro lugar em rádios alternativas e de rock, além de liderar as paradas “Alternative” e “Rock Airplay” da Billboard, entrando para o Billboard Hot 100 na posição #21 (com pico de #5 na parada brasileira). Por meio dela, também, tornou-se “a banda de rock mais ouvida na plataforma” e “um dos 30 artistas mais ouvidos globalmente na plataforma”.
O segundo, Heavy Is the Crown, é tema do Campeonato Mundial de League of Legends 2024 e chegou ao pico de #15 na parada brasileira do Spotify. O terceiro, Over Each Other, também ver performando bem e é o primeiro solo da nova vocalista. Tais novidades deram ao grupo um crescimento de 310% no Deezer.
Mantendo-se influente no gosto musical dos ouvintes, o Linkin Park cultivou um espaço no imaginário afetivo de toda uma geração que cresceu a partir de seu som e de suas letras, tornando-se trilha sonora da adolescência de inúmeras pessoas. A maioria dos fãs da banda faz parte da geração Y, ou seja, os millenials. As características dos pertencentes a essa época — os nascidos entre 81 e 96 — têm tudo a ver com o desenvolvimento e a sonoridade da banda, compartilhando de um perfil criativo, inovador e curioso.
A geração Y também é desbravadora e não tem medo de expressar seus sentimentos e opiniões. Está aí outro match entre LP e público: a coragem de se manifestar e exteriorizar o que sente. Sendo assim, as letras do Linkin Park, que refletem situações cotidianas, problemas vividos pelos membros e superações, geram identificação com as experiências do público, o que fortalece essa conexão emocional entre fã e ídolo, independentemente do gosto musical.
Mas, além das letras que ressoavam, claro, outra coisa que fortaleceu a expansão da banda foi o flerte com outros estilos musicais, fazendo o som cair no gosto popular. Afinal, que outro grupo de rock e metal conseguiria criar faixas com nomes do hip-hop como Jay-Z, Pusha T, Stormzy e Busta Rhymes? Além disso, também havia uma forte influência da música eletrônica e pop, que resultaram em uma colaboração com o DJ e produtor Steve Aoki, apenas para citar uma delas, e discos de remixes como Recharged (2013) e Reanimation (2002).
A popularização foi tanta que os sons do Linkin Park já fizeram parte de inúmeros filmes — cerca de 15 —, como Matrix Reloaded, S.W.A.T.: Comando Especial, Transformers 1, 2 e 3, Crepúsculo, Kung Fu Panda 2 e Need For Speed, além de games e até novela da Globo (Faint tocando em Mulheres Apaixonadas, quem lembra?), provando que sua identidade se encaixa em diversos ambientes. Os caras eram bem-vindos em todos os lugares.
Outra característica da banda é a de engajamento em questões sociais e ambientais. Eles são os criadores da Music for Relief, instituição que atua como fundo global de assistência humanitária desde 2005, com um programa de apoio e socorro imediato e de longo prazo a afetados por desastres naturais, com objetivo de causar um impacto poderoso e sustentável, que já atuou em mais de 35 desastres naturais em seis continentes. A instituição fornece ajuda a sobreviventes e comunidades para ajudá-los a se recuperar e reconstruir.
“O Linkin Park sempre se reinventou, e com isso agradava todos os públicos, dos que ouvem pop aos que ouvem rap, não tem quem diga que não conhece pelo menos uma música da banda e não ache o máximo. Mesmo após o falecimento de Chester Bennington, e com sete anos sem estarem presentes nos palcos fazendo shows, o público continua amando as músicas antigas e abraçando as novas na voz de Emily Armstrong e a genialidade do Mike Shinoda. Não há como não gostar, por isso é uma das maiores bandas da história, e sem dúvidas, a maior no século 21” — Ricardo e Mateus, do Portal Linkin Park, ao Music Non Stop.
Depois de tudo isso, a pergunta que fica não é por que todas as pessoas gostam de Linkin Park, mas como não gostar?!