Leonard Cohen (1934-2016) trouxe poesia e aura cool à música dos anos 60 até os dias de hoje

Claudia Assef
Por Claudia Assef

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A notícia da partida de Leonard Cohen no final desta quinta (10) aos 82 anos, de causa ainda não divulgada, é espantosamente parecida com a de David Bowie, falecido em 11 de janeiro deste ano. Assim como o Camaleão, Cohen havia lançado há poucos dias seu derradeiro disco, You Want It Darker, com produção de seu filho, Adam Cohen. Assim como a obra final de Bowie, Blackstar, a saideira de Cohen foi celebrada como um de seus melhores discos.

Leonard Cohen – You Want It Darker

Um comunicado em sua fanpage no Facebook foi a maneira de contar ao mundo que a chama de Cohen havia se apagado, como diz a letra de You Want It Darker (you want darker, we killed the flame) .”É com profunda tristeza que comunicamos que o lendário poeta, compositor e artista Leonard Cohen faleceu. A música perdeu um de seus mais reverenciados e prolíficos visionários. Uma cerimônia de enterro irá acontecer em Los Angeles numa data futura. A família pede privacidade durante seu período de luto”, diz o texto na página.

Só depois de conhecer um pouco o bairro de Mile End, em Montreal, onde Leonard Cohen manteve uma casa, que era informalmente ponto turístico da cidade, é que entendi o quanto aquele senhor de voz grave e envolvente era o rei do cool.

Mile End é a porção mais musical de Montreal, talvez uma das cidades mais hipsters do planeta. O endereço de Cohen é um segredo bem guardado pelos locais, mas que alguns, depois de entender que suas intenções são as melhores – ou seja, uma silenciosa reverência de dentro do carro – poderão quebrar discretamente.

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Na frente da casa de Leonard Cohen, em Mile End, vendo crianças voltando da escola vestindo seus uniformes ainda engomados, entendi que aquele personagem era na verdade o maior símbolo e orgulho da cidade – absolutamente todos os moradores de Montreal com quem conversei citaram em algum momento o nome dele.

Leonard Cohen fez tanto pela poesia e pela música durante cinco décadas que seu legado é impossível de resumir. Sua carreira de artista começou em 1954 publicando poemas numa revista local. Dois anos depois, ele publicaria seu primeiro livro pela editora da prestigiosa McGill University, instituição que o formou bacharel em literatura.

Cohen

Seu primeiro disco, Songs of Leonard Cohen, foi lançado em 1967, trazendo a faixa Suzanne, um de seus maiores sucessos de todos os tempos, na abertura do lado A. Entre o álbum de estreia e o derradeiro, lançado em 21 de outubro último, foram 14 discos de estúdio lotados de músicas que se tornaram hits apesar de serem totalmente o oposto de uma fórmula de sucesso fácil. Como foi o caso de Hallelujah, verdadeiro hino lançado em 1984 no disco Various Positions, e depois imortalizada na gravação de Jeff Buckley de 1994.

Songs of Leonard Cohen (disco inteiro)

Ao longo da vida, Cohen colecionou feitos, como a turnê mundial de três anos de duração que fez, entre 2008 e 2010, quando tinha já mais de 70 anos. “Não sinto que é hora de me aposentar”, ele disse na época.

Cohen faleceu poucos dias depois da eleição de Trump à presidência americana. E a faixa The Future, lançada em 1992, parece ter previsto que só há um meio de enfrentar tempos difíceis: “I’ve seen the nations rise and fall/ But love’s the only engine of survival (“eu vi nações subirem e caírem/Mas o amor é o o único motor da sobrevivência”).

Se há um legado que fica dessa longa jornada de ensinamentos de Leonard Cohen à humanidade, e talvez a mais importante, é que o amor deve vencer. RIP, poeta.

 

 

 

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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