Lee Ranaldo lança álbum em parceria com produtor de Rosalía: ‘um novo panorama musical’
Uma coisa é certa: Lee Ranaldo ficou mais próximo do Brasil após o término de sua ex-banda, o Sonic Youth, em 2011. De lá para cá, o guitarrista novaiorquino tem visitado frequentemente o nosso país para shows solo; seja acústico, elétrico, instrumental, performático e para sessões de autógrafos para divulgar o seu livro, Jrnls80s, lançado por aqui pela Editora Terreno Estranho.
Novamente em São Paulo, Ranaldo conversou com o Music Non Stop sobre Names of North End Women, álbum que lança nesta sexta, 21, em parceria com o produtor e músico espanhol Raül Refree, pela Mute. “Deve ser a minha sétima ou oitava vez no Brasil. Eu tenho vindo muito para a América do Sul nos últimos cinco ou seis anos”, diz ele. “É um prazer para mim, pois amo estar aqui”.
“São Paulo é a minha base quando venho pra cá. Adoro ir aos museus da cidade, ao MASP, lojas de discos e conhecer músicos brasileiros. Fiz muitos amigos e adoro reencontrá-los. Nos países ao redor, como Peru, Chile e Argentina, gosto de andar de bicicleta”, conta enquanto comia uma banana. E tomava um café.
Sobre o novo álbum, Ranaldo revela: “É o projeto mais experimental que já fiz na vida. Eu e Refree trabalhamos em todas as músicas juntos e avançamos em um território totalmente novo para mim, usando de elementos eletrônicos, samples e bastante percussão. Mas ainda possui muitas guitarras, no entanto, usadas de um modo não usual. É um novo panorama musical. Estou muito animado com ele”.
Conhecido por ter produzido Los Ángeles, debut da estrela pop espanhola Rosalía, Refree já tinha trabalhado com Ranaldo em Electric Trim, de 2017, mas agora ambos resolveram expandir o horizonte musical.
“Posso dizer que Names of North End Women é um álbum cheio de ritmos. Desde o começo, nós tentamos trabalhar com vários gêneros diferentes: tem um pouco de Flamenco, Fado e ritmos africanos. E isso se deve às influências de Refree”, explica o músico.
Capa de Names of North End Women
Lembranças sônicas
Embora o seu foco seja no presente, Ranaldo não tem problema em falar sobre o passado: no caso, de sua ex-banda. “O Sonic Youth teve um grande impacto com o Brasil. Muito do carinho que recebo dos brasileiros se deve ao trabalho e minha participação na banda. E isso é ótimo. É um bom legado de carregar (risos)”, diz.
“Me lembro quando tocamos em um festival de jazz (o Free Jazz Festival, em 2000) e aquele show foi muito especial, porque foi a nossa primeira vez na América do Sul. Eu já tinha ido à Argentina sozinho, mas quando chegamos ao Brasil e vimos o poder que a nossa banda tinha aqui, dissemos: ‘Uau! As pessoas sabem quem somos e são loucas por nós'”, relembra ele com um sorriso no rosto. “Saímos da América do Sul renovados”.
Infelizmente, o último show da banda aconteceu no Brasil, em 2011, no SWU Festival, em Paulínia, interior de São Paulo. “Quando ficamos sabendo da separação de Kim (Gordon) e Thurston (Moore), conversamos bastante sobre o que iríamos fazer: se iríamos cancelar todos os shows restantes da turnê ou se iríamos fazê-los mesmo assim, e resolvemos cumprir a agenda até o fim. Foi uma turnê muito estranha”.
“Na época não divulgamos que seria a nossa última apresentação como banda, pois não sabíamos direito o que aconteceria após o show em Paulínia, mas quando sai do palco, as pessoas chegavam pra mim e diziam que havia uma energia muito estranha e pesada no show, provavelmente porque sentiam que seria o derradeiro. É uma memória triste que tenho daquele dia. Para piorar, não parou de chover”, relembra Ranaldo.